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Teto salarial, base e reformulação: ídolos apontam caminho para Cruzeiro voltar à Série A

Mais do que apontar erros, ídolos cruzeirenses deram sugestões para mudar cenário

postado em 10/12/2019 06:00 / atualizado em 10/12/2019 16:42

(Foto: Alexandre Guzanshe/EM)

Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro pela primeira vez, o Cruzeiro terá um ano com muitos desafios para retornar à elite do futebol nacional. Esta situação incomum não irrita apenas o torcedor, mas também os ídolos celestes. O Superesportes ouviu figuras icônicas que vestiram a camisa estrelada para analisarem o momento vivido pela Raposa.

Wilson Piazza

(Foto: Arquivo Estado de Minas)
 
Capitão do Cruzeiro durante 10 anos, Wilson Piazza carrega o DNA celeste. O ex-volante foi campeão da Taça Brasil de 1966 pelo clube e também da Copa Libertadores dez anos depois. Além dos títulos nacional e internacional, o ex-jogador também acumula dez triunfos do Campeonato Mineiro.

Gravado na história estrelada, o ex-jogador não imaginava que as páginas da Raposa seriam tão manchadas como em 2019. Para ele, o clube celeste tomou uma série de decisões erradas durante o ano.

O Cruzeiro está sem comando total. Não tem tomada de decisão coerente. Não é só o Cruzeiro dentro das quatro linhas, mas aquilo que acontece na direção do clube também. Passa para mim uma ideia de amadorismo total e de decisões equivocadas. Lamento muito que um clube como o Cruzeiro tenha chegado a esse ponto. A forma como vem sendo gerenciado, principalmente na última gestão, me surpreendeu de maneira negativa”, disparou.

Com o rebaixamento confirmado, o Cruzeiro precisa traçar metas para o retorno à elite do futebol nacional. Para Piazza, a mudança tem que começar agora. Em um ano marcado por crises internas, as reformulações do elenco e da cúpula celeste são apontadas por ele como necessárias.
 
“O Cruzeiro vai ter que passar por uma reformulação com pessoas que estão lá, e uma tomada de posição bem diferente do que a gente está vendo, identificando quem fica e quem sai. Tem que ver o custo também, porque não sei se o clube vai estar preparado. De repente, você não tem o recurso necessário para tomar uma posição. Acredito que vai ter que baixar a folha salarial, vai ter que rescindir com jogador A ou B para encaixar tudo novamente”, completou. 

Ricardinho

 

(Foto: Renato Weil/EM)

Ricardinho vestiu a camisa estrelada em duas passagens (1994 a 2002 e em 2007) e é o jogador que mais conquistou títulos pelo Cruzeiro: 15. Com um lugar cativo na extensa lista de ídolos celestes, o ex-jogador acredita que a combinação de erros entre dirigentes e atletas levou ao rebaixamento do clube.


“Foram muitos erros. Tanto da diretoria quanto dos jogadores. Houve muito problema extracampo, teve a situação do Rogério Ceni com os atletas que acabou expondo muito o Cruzeiro e essa situação incomodou dentro de campo. Eu acho que isso acabou afetando o emocional dos jogadores e, com isso, a situação chegou a esse jeito”, comentou Ricardinho.
 
A troca de jogadores para 2020 é o discurso entoado por todos os atletas que passaram e fizeram história pelo clube. Ricardinho acha fundamental renovar com jogadores da base e manter uma espinha dorsal.

O Cruzeiro vai se reestruturar, mas tem que ver a condição financeira do clube. Acho que trazer a base é uma questão para o técnico, mas de qualquer forma, o Cruzeiro sempre vai ter bons jogadores. Seria importante também ficar com jogadores com história no clube para o próximo ano, como o Fábio, por exemplo. Mas essa questão também passa pela situação financeira que a equipe se encontra”, ponderou.  

Nonato

(Foto: Jorge Gontijo/EM Paulo Filgueiras/EM)
 
Com um currículo recheado entre conquistas regionais, nacionais e internacionais, o ex-lateral-esquerdo Nonato foi um dos jogadores que mais vestiram a camisa do Cruzeiro. Foram 394 jogos, 23 gols marcados e 12 títulos conquistados, entre eles a Copa Libertadores (1997), a Supercopa da Libertadores (1991 e 1992) e a Copa do Brasil (1993 e 1996).

Para ele, o abandono ao Brasileiro foi o grande erro. “Um dos erros que eu vejo foi ter largado demais o Campeonato Brasileiro, eles focaram na Copa do Brasil e na Copa Libertadores por terem melhor retorno financeiro, mas aí deixaram o Brasileiro para a última hora. Agora, eles estão pagando por esses erros. Para mim, a questão política que o clube enfrentou nesta temporada afetou um pouco, mas não ao ponto de chegar na situação onde chegou. Isso aí quem tem que resolver é a diretoria, os jogadores só tinham que jogar e fazer a parte deles”, analisou o ex-lateral. 

Nonato acha que chegou a hora de o Cruzeiro incorporar alguns garotos à base da equipe, já bastante experiente. “Para mim, o ideal teria que ser uma mescla na equipe. Não se pode disputar um Campeonato Brasileiro somente com a base, é preciso mesclar experiência com juventude para dar certo”, comentou o ex-jogador. 

Mário Tilico

(Foto: Alberto Escalda/EM)
 
Apesar de ter ficado pouco tempo no Cruzeiro, Mário Tilico fez história com a camisa celeste. A primeira passagem do ex-ponta direita pelo clube ficou marcada pelo título da Supercopa de 1991. Porém, na segunda, em 1994, não rendeu tão bem e viu a equipe brigar contra a degola. 

No caso do time de 2019, Tilico vê relação do rebaixamento com salários atrasados e a má gestão. “Se a gente pegar o elenco do Cruzeiro, nós vemos que eles tinham um elenco para brigar na parte de cima, tentar classificação para a Copa Libertadores e até mesmo o título. É um grupo com muitos jogadores consagrados, mas nós vemos que a coisa não aconteceu como o esperado. Agora o por quê isso não aconteceu? Com os jogadores que estavam disponíveis? Só quem está lá dentro para poder buscar e saber o motivo. O que ficou claro para quem estava de fora é a situação de salários atrasados, mas como atleta, eu sei que mesmo com isso nenhum jogador entra para perder. Porém, eu afirmo, essa situação desconfortável não condiz com o grupo que o Cruzeiro teve este ano”, comentou. 
 
Na visão de Tilico, os jogadores realmente comprometidos com o clube serão fundamentais na reestruturação. “Eu acho que quem comanda o clube hoje, quem faz a gestão do clube, passando pelo presidente, diretor executivo, diretor de futebol e o treinador, eles sabem o que aconteceu dentro do Cruzeiro. E se você entende que existem jogadores que têm história com o clube e eles mereçam ficar, eles têm que continuar, como é o caso do goleiro Fábio, por exemplo. Agora, se esses mesmos homens identificarem a existência de maus profissionais, algo tem que ser feito também, para o melhor do Cruzeiro”. 

Elivélton 

(Foto: Arquivo Estado de Minas )
 

 

A passagem de Elivélton pelo Cruzeiro foi curta e marcante. O ex-atacante marcou o gol do título da Copa Libertadores de 1997 sobre os peruanos do Sporting Cristal. Além do título intercontinental, o ex-jogador também ganhou o Campeonato Mineiro do mesmo ano. 


Para ele, o rebaixamento celeste foi consequência de escolhas ruins dentro e fora das quatro linhas. 

“O  que a gente pôde acompanhar de fora é que colocaram as pessoas erradas para administrar o Cruzeiro. Infelizmente, eles criaram uma situação que só poderia dar no que deu. O Cruzeiro não caiu agora, ele caiu há 38 rodadas atrás. Ver a situação do clube hoje, com problemas extracampo, na justiça e problemas financeiros, isso deixa qualquer cruzeirense machucado. Foi tudo uma consequência do que eles plantaram e colheram neste ano, e que vai ficar manchado para o resto da história do Cruzeiro. Dentro de campo, a gente pôde ver os jogadores sem alma, sem vibração e sem raça. Parecia que para eles não faziam a diferença. E o clube é que fica com a bomba”, disse. 
 
Para estancar a crise, Elivélton sugere a implantação de um teto salarial para o elenco. "Eu, se fosse presidente, ia começar um teto salarial de X. Eles perderam a noção do dinheiro, é uma coisa absurda você pagar caro para um jogador e ele não trazer resposta. Se eu fosse presidente do Cruzeiro, eu faria uma limpa nisso tudo e, também, colocaria um prêmio para ganharem os jogos. Salários altos? Tira fora. Além disso, vai ter que mesclar com a base. Do time atual, o Fábio é incontestado junto do Henrique. Eu vejo que os outros não serviriam para o próximo ano”, completou o ex-jogador.

Vitor

(Foto: Estado de Minas)
 

Com uma carreira multicampeã, o ex-lateral-direito Vitor também teve uma trajetória positiva no clube estrelado. Nos três anos em que vestiu a camisa celeste, o ex-jogador conquistou quatro títulos: Campeonato Mineiro (1996 e 1997), Copa do Brasil (1996) e Copa Libertadores (1997). 


Presente no bicampeonato da Libertadores, Vitor deixou seu nome na história celeste. Enquanto atleta, o ex-lateral atribuiu as conquistas às cobranças internas dos próprios jogadores. Para ele, o que faltou no Cruzeiro em 2019 foi justamente isso.

“A gente ganhou Copa do Brasil, Libertadores, (Campeonato) Mineiro. Nós nos reunimos e falávamos que só dependíamos de nós mesmos. Por mais que você possa ter uma administração ruim, você como jogador tem que cobrar também. Você tem que ter jogadores com a capacidade de vestir a camisa do Cruzeiro. Claro, a diretoria errou e é culpada também. Foi um conjunto de escolhas ruins”, avaliou. 
 
Fora de campo, Vitor sentiu que houve arrogância dos dirigentes. “Você tem que mudar as pessoas que por um dia prejudicaram a gestão do Cruzeiro e, por um acaso, eles não pensaram no clube ou só pensaram em dinheiro. Tem que mudar a partir do momento que as pessoas fazem coisas erradas para tirar proveito. Não está no contrato ou na Fifa que time grande não pode cair, às vezes tem que acontecer isso para que sirva de exemplo para outras gestões. O Cruzeiro, talvez por estar tão seguro por parte da diretoria,  teve muita arrogância, vaidade e orgulho, e isso resultou na ruína. Isso não tem como escapar e ficou na mídia a vergonha desse último jogo”, completou. 

Evaldo

 

(Foto: Arquivo Estado de Minas)

Durante oito anos, Evaldo foi referência no ataque celeste. Pelo clube estrelado foram 302 jogos, 116 gols e seis títulos: Campeonato Mineiro (1966, 1967, 1968 e 1969), Taça Brasil (1966), Copa Libertadores (1976).  Por morar em Belo Horizonte e ter acompanhado a crise de perto, o ex-atacante atribuiu o rebaixamento à diretoria.


“A direção não trabalhou bem e o time não produziu o esperado dentro de campo. Para mim, acaba entrando em uma série de erros. A diretoria faltou com pagamento aos jogadores, mas eles também não se doaram em campo. A maior parte da parcela de culpa é da diretoria por ter deixado um ambiente ruim no clube. O Cruzeiro vai levar cinco anos para sair dessa encrenca”, disse. 
 
A situação financeira do Cruzeiro é um agravante ainda maior para a temporada de 2020. Com menos recursos disponíveis para fazer contratações, Evaldo entende que o clube terá de se contentar com jogadores de nível técnico ainda mais baixo.
 
“Além de todos os erros, o Cruzeiro ainda tem uma dívida astronômica. Não vai poder contratar porque não tem dinheiro e vai ter que usar a base. É claro, no futebol você não pode ser drástico. Não dá para colocar todos os garotos da base, mas um ou dois vão ser utilizados. Acho que o treinador vai ter que pedir jogadores que estão acostumados a jogar a Série B, os que estão ali não estão acostumados”, completou. 

Boiadeiro

  
(Foto: Arquivo Estado de Minas )
A passagem pelo Cruzeiro foi uma das mais vitoriosas da carreira de Marco Antônio Boiadeiro. Pelo clube, o ex-jogador conquistou quatro títulos: o Campeonato Mineiro (1992), a Copa do Brasil (1993) e a Supercopa Libertadores (1991 e 1992). 
 
Ao analisar a situação que vive o time, o ex-meio-campista acredita em um conjunto de problemas levou ao rebaixamento. “Eu vendo daqui do interior de São Paulo e me parece que o problema vem de cima. Eu acho que tantas coisas aconteceram no Cruzeiro que não poderiam deixar acontecer. Essas investigações e tudo que aconteceu no âmbito do extracampo acabam passando muita insegurança. O Cruzeiro é grande demais, mas se você não cuidar, nada dá certo. Você não pode pensar que não vai acontecer com a gente, assim como na vida, nós estamos sempre sujeitos aos imprevistos”, disse.
 
“Não foi na partida contra o Palmeiras que o Cruzeiro decretou o rebaixamento, foi para trás. Os jogadores também têm que ser cobrados, ainda mais hoje com essa modernização no futebol. Na nossa época, a gente reunia com diretoria, e com nós mesmos quando a situação não estava boa”, completou.  
 
O ídolo acha que a montagem do time de 2020 passa pelo desejo de defender o Cruzeiro.
 
Acho que tem que ver quem quer o Cruzeiro e quem não quer. Agora, a diretoria precisa avaliar justamente aqueles jogadores que estavam ali no dia a dia, ver quem precisa ser substituído. Tem que mudar com segurança. Eles têm um tempo até a virada do ano para ver o que tem de bom e o que tem de ruim. É preciso procurar melhorar. Eu acho que a vinda do Adilson (Batista) foi boa demais e tem tudo para dar certo para voltar à Série A”, avaliou. 
 

Paulo César Borges

 
(Foto: Arquivo EM.)
Com duas passagens pela equipe celeste, o ex-goleiro Paulo César Borges fez história com o clube no início da década de 1990. A primeira passagem rendeu duas Supercopas da Libertadores (1991 e 1992) e uma Copa do Brasil (1993). No final da década, ele retornou para ser suplente de Dida. 

Diferente dos outros ídolos do clube, o ex-jogador não quis colocar culpados na trajetória do Cruzeiro neste ano até a confirmação do rebaixamento. Porém, ele ressaltou a importância de ser “profissional ao máximo” para satisfazer a torcida. 

“Acho que não devemos colocar um culpado. É um momento triste para o clube. Eu já fiquei três, quatro meses sem receber, mas sempre fui um profissional que procurei ao máximo suar a camisa e não dar motivo para a torcida ficar decepcionada. É melhor o clube ficar devendo a gente do que a gente devendo o clube”, ponderou Paulo César Borges.

Para 2020, existe um caminho a ser traçado pelo time estrelado: a reestruturação do elenco e da cúpula celeste. O ex-arqueiro considera importante dar cara nova ao Cruzeiro para retomar o caminho vitorioso.

“O Cruzeiro passou no extracampo por umas coisas muito estranhas. Com dívidas e logicamente tem um grupo muito caro, então precisa reformular a equipe. Eu acho que ficaria com seis ou sete atletas no máximo desse elenco. Não posso falar quem são, mas o resto eu trocava todos”, disse.

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