
“Eu não tenho nada contra quem é umbandista, quem é do candomblé. Pelo contrário, tenho admiração e respeito por qualquer crença e doutrina. Mas simplesmente eu não sou, não sei de onde surgiu isso, isso tem me prejudicado. Tenho família, meus filhos, tenho amigos. Não vou falar que é uma discriminação, porque o fato de uma pessoa ser espírita é a crença dele. Temos que respeitar todas as doutrinas e crenças. Mas isso está se tornando alvo de gozações. Agora há pouco passou um amigo perto de mim e falou: ‘opaê’. Me zoando. Isso está me causando problema. Minha filha, que mora em São Paulo, me ligou: ‘pai, o que é isso? O senhor nunca foi bandido, o senhor agora é?’. Eu falei: ‘minha filha, isso foi invenção de alguém, uma calúnia’. Estou com um advogado que vai resolver esse problema pra mim. A fonte deles é mentirosa. Tenho admiração, já fui a centros espíritas como visitante, mas participar de umbanda, de candomblé, nunca participei”.
Reginaldo, de 58 anos, foi jogador de futebol profissional por quase duas décadas. Em 1986, ele disputou o Campeonato Brasileiro pelo Rio Branco, do Espírito Santo, e enfrentou times como Vasco, Atlético, Internacional e Corinthians. Piquete, como era conhecido o ex-zagueiro, afirmou ter atuado em clubes mineiros, casos de Tupi, Democrata de Governador Valadares e Juventus de Divinópolis. A rodagem no mundo da bola o fez conhecer muitas pessoas, inclusive Zezé Perrella.
“Apesar de nunca ter jogado em uma equipe grande, fui jogador profissional por 18 anos. Joguei em Minas no Tupi, no Democrata de Valadares e por pouco tempo no Juventus de Divinópolis, que era presidido pelo Haroldo Calixto. Conheço várias pessoas”.
Ao ser indagado sobre o tipo de serviço, Pádua garantiu que não tem “nada a ver” com “pai de santo” e “babalorixá”, mas preferiu não revelar a atividade específica que o fez assinar um contrato de R$ 10 mil com o Cruzeiro.
“Prestei serviço ao Zezé Perrella, mas não vou falar qual foi o serviço, porque quem tem de falar é o Zezé. O Cruzeiro não me deve nada. Se estivesse devendo, eu estaria cobrando. O Cruzeiro não me deve nada. Eu nunca tive conversa com o Sr. Wagner Pires, o negócio foi com o Zezé. Só ele pode falar para vocês, não vou falar. Uma coisa eu garanto: não tem nada a ver com esse negócio de pai de santo, de babalorixá, que estão falando que eu sou. Se eu fosse pai de santo, assumiria em qualquer lugar. Mas não sou, nunca fui, e isso está me causando transtorno. São gozações, brincadeiras, colocaram isso na internet, todo mundo sabe disso”.
O homem também negou ser amigo de Zezé, apesar de conhecê-lo, e afirmou que o Cruzeiro foi o único clube do futebol brasileiro a requisitá-lo.
“Não sou amigo dele (Perrella). Conhecer, a gente conhece tanta gente. Conheço Pelé, Ronaldo, esse pessoal todo. Já estive na casa do Ronaldo, mas não sou amigo dele. O Zezé é uma pessoa pública, que várias pessoas conhecem e já estiveram com ele. Mas não somos amigos e nem colegas”.
“Nunca teve isso para ninguém, para clube nenhum. É o que estou te falando, quem vai poder falar isso pra você é o Perrella. Vocês são próximos, são repórteres, têm contato com ele direto. É ele quem pode falar se foi para isso ou aquilo, para fazer macumba, para contratar jogador, para pagar dívida. A única pessoa que pode falar é ele”.
Reginaldo Pádua admitiu que o valor de R$ 10 mil informado nas reportagens é verídico. “A documentação já saiu na internet. Fiz um trabalho para ele e fui pago por isso. Não neguei. Agora, a minha indignação é colocar títulos que nunca existiram e talvez nunca vão existir. É isso que está me incomodando”.
O homem reforçou a posição de não revelar o motivo. “Foi um serviço prestado pelo Zezé Perrella em benefício do Cruzeiro. Acho que se fosse diretamente para o Cruzeiro, não tenho contato com ninguém do Cruzeiro. Não conheço esse tal de Benecy e nem com o presidente Wagner Pires de Sá. Conversei com o Zezé, a gente combinou. Agora vou falar: não tem nada a ver com negócio de pai de santo e babalorixá”.
Antes de encerrar a entrevista, Reginaldo criticou o jornalista Thiago Fernandes, repórter do portal UOL, que teria sido o responsável por tratá-lo como “pai de santo”.
“Aquele tal de Thiago Fernandes, do UOL Esportes, me encheu tanto o saco. Parece que partiu tudo dele. É ele quem tem os documentos, é ele quem foi lá no Cruzeiro, é alguém do Cruzeiro que procurou ele. Foi ele quem armou esse negócio todo aqui. Ele tentou de todas as formas prejudicar o lado do Cruzeiro e a mim também. Esse negócio de pai de santo partiu dele. É ele quem vai ter que provar de onde surgiu isso, quem foi que disse isso a ele, que sou pai de santo e babalorixá”.
Jornalista dá a sua versão
Também em entrevista à Rádio 98, Thiago Fernandes deu sua versão sobre o fato. Ele assegurou ter ligações gravadas tanto com dirigentes do Cruzeiro quanto com o próprio Reginaldo Muller, além das documentações que comprovam as ordens de pagamento do clube pelo serviço religioso.
“Há duas semanas recebi essa informação. A primeira informação, em off, obviamente. Comecei a fazer os meus contatos, e uma das pessoas que procurei inicialmente foi o ex-presidente Wagner Pires. A declaração dele está transcrita na matéria, e ele diz: ‘olha, acho que isso é coisa do Perrella’”.
“A partir dali, comecei a fazer outros contatos e consegui alguns documentos. Consegui o telefone do Reginaldo e entrei em contato com ele. Inclusive, gravei todas as ligações. Gravo as ligações justamente para me resguardar em situação como essa. Tenho as ligações gravadas, tenho as entrevistas gravadas. Pedi ao Benecy autorização de gravar a entrevista para que eu pudesse publicar a matéria”.
“O Reginaldo confirma que foi feito o trabalho religioso. Ele mesmo disse explicando isso. O Cruzeiro confirma que foi feito esse trabalho com o pai de santo, confirma que é o pai de santo. Conversei com o Benecy Queiroz, o Wagner Pires de Sá e o Zezé Perrella. Essas pessoas confirmam que houve o trabalho. O Zezé foi o único que não quis se manifestar. Antes da publicação da matéria, o Zezé me procurou e disse que achava que não era uma matéria correta a ser feita. Tenho a conversa com o Zezé, não apaguei nada, posso mostrar. Ele disse: ‘olha, Thiago, não acho que seja uma matéria legal de abordar. Se você quer meu respeito, faça uma matéria que me critique de forma sincera e honesta, mas por outro motivo’.
“Como disse, todos confirmam, o próprio Reginaldo confirma, tenho toda a ligação com ele gravada, não há problema nenhum em abrir isso. Foi isso. Todos confirmam. Se ele quiser dar mais algum pronunciamento, abro as portas do UOL. Pode mudar a versão, se quiser. Até estava escutando a versão dele na 98, e tomei um susto. Ele, a princípio, não quis explicar isso. E comigo ele falou na boa que tinha feito esse tipo de serviço. Ele tem meu número, pode me ligar”.