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Sem conciliação, Cruzeiro e Dodô aguardam sentença da Justiça sobre validade de contrato

Lateral quer o contrato reativado nos moldes originais, enquanto o departamento jurídico celeste defende a nulidade do vínculo por considerá-lo lesivo à instituição

postado em 04/08/2020 11:40 / atualizado em 04/08/2020 15:19

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Em audiência nesta manhã de terça-feira, na 39ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, Cruzeiro e Dodô não chegaram a um acordo sobre a validade ou não do contrato do jogador. A juíza Flávia Fonseca Parreira Storti informou que a sentença será proferida no prazo legal de até 30 dias.

Dodô busca na Justiça que o contrato seja reativado nos moldes originais - salário de R$ 330 mil, luvas de R$ 8,8 milhões e repasse de R$ 1,8 milhão à Sampdoria, da Itália -, enquanto o departamento jurídico celeste requer a nulidade do vínculo por considerá-lo lesivo à instituição.

O jorgador participou da audiência acompanhado do advogado João Henrique Chiminazzo. O Cruzeiro enviou como preposto o supervisor administrativo, Benecy Queiroz, ao lado dos advogados Gilmara Seixas e Davidson Malacco.

Conforme relato da magistrada, Dodô disse que tem interesse em permanecer no clube. O atleta afirmou que foi procurado pela diretoria no mês passado, mas não houve tentativa de renegociar o contrato. Ele alegou não ter sido autorizado a treinar na Toca da Raposa II.

"Que as condições para renovação do contrato com o reclamado não foram negociadas pelo depoente, mas sim entre os próprios clubes; que concordou com as condições, após ler o contrato; que o depoente tem interesse em continuar no reclamado (a); que seu interesse é de que o contrato seja cumprido; que há 07 meses atrás foi procurado, sendo-lhe dito que seu contrato não seria  respeitado, porque não é válido; que depois disso não foi procurado para renegociar o contrato, mas apenas lhe disseram que o clube queria que  o depoente continuasse no time; que disseram que o depoente era um ativo do clube, que precisavam dele, mas não renegociaram o contrato e nem registraram o contrato, nem permitiram que o depoente mantivesse os treinamentos; que não foi informado  de nenhuma renegociação com seu empresário; que somente há 01  mês atrás recebeu ligação do clube, dizendo que o clube contava com ele".

Desta vez, o Cruzeiro não se pronunciou. Antes, a defesa celeste alegou que a cláusula que efetiva o contrato de Dodô "beira a má-fé". Em janeiro de 2019, o então vice-presidente de futebol, Itair Machado, disse que o clube pagou 200 mil euros à Sampdoria e concordou com a obrigação de compra de 90% dos direitos econômicos por 300 mil euros - caso o time somasse 15 pontos no Campeonato Brasileiro (contabilizou 36) ou o atleta participasse de três jogos na competição (entrou em campo 18 vezes).

O entendimento foi que o Cruzeiro, na condição de quatro vezes campeão brasileiro, chegaria, obviamente, a 15 pontos na Série A, visto que o América de Natal, dono da pior campanha da história do Brasileiro por pontos corridos, contabilizou 17, em 2007. Mesmo com tais circunstâncias, a diretoria anterior concordou em pagar R$ 8,8 milhões a título de luvas ao lateral-esquerdo.

“Repita-se, a referida cláusula beira a má-fé da oferta dos responsáveis pela gestão temerária, tendo em vista que a referida pontuação é ínfima quando levado em conta o tamanho e o histórico do clube Reclamado (…).  Há de se ressaltar ainda que até mesmo no ano de 2019, ano do primeiro rebaixamento da história do Reclamado, o clube fez mais que o dobro de pontos (36) constantes da cláusula”.

Na sequência, o Cruzeiro ressaltou que o acordo de transferência e o contrato de trabalho foram realizados sob aval de Itair Machado, que “também por público e notório, figurou em diversos contratos lesivos a este Reclamado, dono de uma gestão temerária e perversa ao clube reclamado, ao lado do ex-presidente Wagner Pires de Sá”. Assim, o clube solicitou o pedido de nulidade das cláusulas.

Como resposta, a defesa de Dodô frisou que o contrato “foi firmado por pessoas absolutamente capazes” e que “a alegação de que os antigos diretores do clube promoveram uma gestão temerária não é objeto desta lide”, devendo ser discutida “em foro específico, se assim o reclamado desejar”.

Salário


Em litígio na Justiça do Trabalho, o contrato firmado pelo Cruzeiro com Dodô prevê pagamento mensal de R$ 917,2 mil brutos ao jogador de março a novembro de 2020. O valor é mais de seis vezes superior ao ‘teto’ de R$ 150 mil estabelecido pelo clube, que teve queda substancial nas receitas em razão do rebaixamento à Série B do Brasileiro.

Dos R$ 917,2 mil, R$ 330 mil são de salários e R$ 587,2 mil a título de luvas. Considerando 13º e um terço de férias em 2020, o valor atingiria R$ 1,35 milhão em dezembro. A partir de janeiro de 2021 até dezembro de 2023, o atleta contaria exclusivamente com os vencimentos por mês.

De acordo com o documento, datado em 23 de janeiro de 2019, o ordenado do lateral-esquerdo era dividido em R$ 297 mil de salário-base e R$ 33 mil de acréscimo remuneratório, não havendo, portanto, direitos de imagem.

Totalizadas em R$ 8,8 milhões, as luvas seriam parceladas em 18 vezes: a primeira, de R$ 366 mil, em fevereiro de 2019; da segunda à oitava, também de R$ 366 mil, de agosto de 2019 a fevereiro de 2020; e as dez restantes, de R$ 587,2 mil cada, de março a dezembro de 2020.

Contando o pagamento de luvas, salários e direitos econômicos, o Cruzeiro teria um gasto médio anual de R$ 6,65 milhões com Dodô, totalizando aproximadamente R$ 33,25 milhões em cinco anos de contrato.

Dívida


De acordo com a petição, Dodô não treina de maneira adequada desde o início do ano, quando o Cruzeiro comunicou, em 10 de janeiro, que ele estava liberado para procurar outro clube. Nesse período, o atleta não recebeu um mês sequer de salário, segundo afirmou seu empresário, Junior Pedroso, em entrevista ao canal do jornalista Jorge Nicola, no YouTube, em 5 de maio.

“Existe uma grande pendência de salários com ele, talvez mais de 50%. Este ano eles não estão reconhecendo. Como a parcela de 300 mil euros era em janeiro e como eles não reconheceram o vínculo, não quitariam com a Sampdoria por estratégia deles. Os últimos meses de contrato ele não recebia. Existe uma boa-fé muito grande do Dodó e do pai, mas infelizmente do outro lado a gente não enxerga isso”.

O conselho gestor que administrou o Cruzeiro antes do presidente Sérgio Santos Rodrigues fez uma proposta para a reintegração do lateral ao grupo, porém as partes não chegaram a um acordo. O clube queria bases diferentes do vínculo original, contestando principalmente os R$ 8,8 milhões em luvas, e a repactuação dos vencimentos do atleta dentro do limite de R$ 150 mil.

Contratado sob alta expectativa após boa temporada pelo Santos em 2018, Dodô frustrou grande parte da torcida do Cruzeiro. Na maior parte de 2019, sem conseguir regularidade, amargou a reserva de Egídio, mesmo com o titular sofrendo com muitas críticas. O ponto positivo nos 28 jogos do lateral-esquerdo foi um belo gol de fora da área, marcado na vitória por 4 a 0 sobre o Huracán, da Argentina, na fase de grupos da Copa Libertadores.

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