Conselheiros do Cruzeiro batem boca e cobram acesso ao contrato da SAF

A reunião entre conselheiros do Cruzeiro, representantes da equipe de Ronaldo e da XP Investimentos gerou bate-boca na noite desta quinta-feira (31), no Barro Preto. Um dos mais participativos, o ex-presidente Alvimar de Oliveira Costa chegou a se levantar da cadeira com dedo em riste para dizer que se sentiu traído pelo atual mandatário, Sérgio Santos Rodrigues.

Alvimar e outros conselheiros - entre eles o advogado Sérgio Murilo Braga e o desembargador José Eustáquio Lucas Pereira - cobraram acesso aos contratos de venda de 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) ao grupo Tara Sports, controlado por Ronaldo. 

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Na próxima segunda-feira (4), conselheiros voltarão a se reunir no Barro Preto para votar duas demandas de Ronaldo antes da assinatura do contrato final. A primeira pede autorização para a associação passar por uma Recuperação Judicial ou Extrajudicial. A segunda, para que as Tocas I e II sejam transferidas para o patrimônio da SAF. 

"Eu quero deixar claro que o que chegou para a gente não é isso (que foi apresentado ao longo da reunião). Já está bem melhor do que aquilo que foi assinado", disse Alvimar. "Por isso que a gente falou que (o que havia sido apresentado anteriormente) era preliminar", interrompeu Sérgio. "Não, não. Preliminar é o que foi assinado no dia 18. Então estou informando que, o que eu li, não tinha nada disso", rebateu Alvimar.

O ex-presidente fez parte de uma comissão formada em 2021 para analisar a fundação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no Cruzeiro. Contudo, nos bastidores, ao longo dos últimos meses, ele deixou clara sua insatisfação sobre a forma como a negociação com Ronaldo foi conduzida pela XP Investimentos e por Sérgio Rodrigues.

"Fica complicado para nós conselheiros, e eu sou um conselheiro benemérito com muito orgulho, votar na segunda-feira algo que a gente não conhece. Hoje é quinta, dia 31, a quatro dias da reunião para a gente votar, e não conhecemos ainda. Está sendo mostrado para nós agora. Então gostaria que ficasse registrado para aqueles que não tiveram o privilégio de ler o contrato como eu tive. O pré-contrato", disse Alvimar.

Sérgio, então, pediu a palavra. "Sabe o que me espanta? Pode falar, pode rir, o que for. Lá no 18 de dezembro, quando eu implorei ajuda para vários, ninguém estendeu a mão", disse. Neste momento, Alvimar levantou com o dedo em riste em direção a Sérgio.

"Todo mundo deu a cara e confiou no senhor, presidente. Nós colocamos nossa cara e confiamos no senhor. E fomos traídos. E agora queremos saber tudo nos mínimos detalhes. Precisava demorar 90 dias para a gente saber? E você quer que a gente digere (sic) o contrato em quatro dias?", questionou Alvimar.

No mesmo sentido, o advogado Sérgio Murilo Braga pediu que todos os conselheiros tenham acesso aos contratos de venda. Segundo ele, sem isso, não há condições de votar as novas demandas de Ronaldo na segunda-feira.

"Quando se exige votação do conselho, é porque o conselho, no nosso Estatuto, está acima da nossa própria diretoria. Todos devem saber disso. Por isso o Conselho, muitas vezes, tem que ajustar e confirmar um ato. Não basta falar que tem confidencialidade quando o Conselho é que vai deliberar exatamente qual a solução da matéria. Não temos condições de deliberar sobre a matéria na segunda-feira, antes que os 400 conselheiros tenham acesso à integralidade dos contratos. É a minha opinião. O conselheiro não pode aprovar algo que ele não conhece", disse.

Minutos depois, Sérgio voltou a pedir a palavra. "Eu vou esclarecer qual é minha posição. Ninguém conhecia nada desse contrato. Hoje é que fiquei sabendo que tem parecer jurídico, parecer financeiro, tem parecer de auditores. Evidentemente, se tem esses pareceres, eles serão apresentados na segunda-feira. Então, acho que devemos levar a matéria para segunda-feira por um motivo muito singelo. Se já tem dívida com a Fifa, temos que fazer o aporte financeiro. Não tem solução. Se tem área jurídica, financeira, auditoria contábil, temos que votar na segunda-feira e aprovar. E o Ronaldo assinando", disse.  

Favorável ao negócio com Ronaldo, o desembargador Wanderley Paiva defendeu a criação de uma comissão de juristas do Conselho Deliberativo do Cruzeiro para debater o contrato de venda. Ele sugeriu que isso fosse feito até segunda-feira.

"Quando o Zezé (Perrella, ex-presidente do Cruzeiro) estava negociando com a Hicks Music, foi designada uma comissão de juristas, e eu participei, para analisar os contratos. Não deu problema nenhum. Aprovamos. Eu sugiro, pega aí o Taquinho, o Ildeu, o Mauro e o Sérgio e analisa essas cláusulas até segunda-feira para ver se a gente vota isso", disse.

Alvimar voltou a pedir a palavra. Concordou com a ideia, mas disse que não há tempo hábil para montar um grupo de trabalho até segunda-feira. "Desembargador, eu acho que o prazo é muito curto. Mas a ideia de se montar uma comissão, naturalmente, vai dar um conforto muito maior para os conselheiros. Não tenho a menor dúvida disso. E temos vários juristas", disse.

Num outro momento da reunião, Alvimar voltou a pedir a palavra para dizer que 'não há parceiro melhor que o Ronaldo' para o Cruzeiro. O ex-presidente, no entanto, pediu que as negociações sejam mais equilibradas, em discurso semelhante ao apresentado pela Mesa Diretora do Conselho Deliberativo e por outros associados em carta divulgada em 16 de março.

"Acho que o que vou falar representa o sentimento de todos vocês. Não tem parceiro melhor que o Ronaldo. Foi de uma felicidade muito grande (a escolha). O Ronaldo tem uma identificação muito grande com o Cruzeiro, começou aqui. Então, a gente não leva em consideração uma proposta com Ronaldo, que tem valor imensurável, e o valor de uma segunda, uma terceira proposta", disse.

"Do que a gente está sedento e carente? De informação, de uma informação que nos deixe absolutamente tranquilos, e um contrato que seja mais equilibrado. Nós sentimos que há um desequilíbrio muito grande nesse contrato. O que a gente espera e que prevaleça o bom senso, que associação e Cruzeiro cheguem num denominador comum", complementou.