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Papagaio, Nonoca: o que a mudança de nome pode representar para os atletas

Em casos recentes, Vini Jr. e Gabi também pediram para que fossem chamados de outra maneira

postado em 27/03/2021 11:44 / atualizado em 27/03/2021 11:53

(Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)
Tem chamado a atenção, nos últimos tempos, no futebol, a 'mudança de alguns nomes de atletas'. O primeiro caso e mais recente foi o de Vinicius Jr., que seguindo uma recomendação 'técnica' de agências de publicidade, pediu para ser chamado de Vini Jr.

Outro pedido que proporcionou enorme repercussão no final da temporada passada foi o atacante Gabigol. Antes de uma partida contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, ele postou em suas redes sociais: "new name". O antigo e já popular Gabigol dava lugar ao nome de Gabi na camisa, apelido que ele é chamado por amigos e companheiros de Flamengo – diferente de uma sugestão mais ‘profissional’ recebida por seu ex-companheiro de Flamengo.

Marcelo Palaia, especialista em marketing esportivo, entende que essas alterações são mais prejudiciais do que benéficas aos atletas. "O nome de um atleta, assim como de músico, artista, celebridades, são verdadeiras marcas que eles passam a ter durante a carreira. O cuidado com essa marca, com o nome, tem que existir constantemente", alerta.

"A força midiática no profissional dificulta muito esta mudança de rota, mas o que vale mesmo é ser transparente com o público em qualquer momento que isto ocorra", complementa Rene Salviano, ex-coordenador comercial e ex-diretor de marketing e de novos negócios do Cruzeiro, e há 20 anos transitando no marketing esportivo. 

Porém, existe outro lado

Nesta semana, quem apareceu de nome ‘novo’ foi o atacante Papagaio, revelado pela base do Palmeiras. No clássico desta quarta-feira (3) contra o Corinthians, constava seu nome de origem às costas, Rafael Elias. Em entrevista, revelou que a mudança tem a ver com uma ‘nova fase da vida’ – em meados do ano passado, ele foi pego no exame antidoping quando estava no Atlético-MG, após ter ingerido um remédio para emagrecer, proibido no país.

Apesar disso, na própria transmissão dos canais SporTV, ao entrar em campo, a arte no momento da substituição apontava para o nome de Rafael ‘Papagaio’, ainda em alusão ao seu apelido. O mesmo acontece com Gabigol, que raramente é chamado de Gabi. 

“Neste caso, acho válida a mudança do nome do Papagaio. Um dos motivos é o fato de ele ainda ser jovem e de ter sido pego no doping com esse apelido, tem um peso. Rafael Elias passa a ser mais profissional, passa seriedade, e como ele mesmo disse, é uma nova fase”, aponta Palaia.

Outro caso parecido e recente aconteceu com o atacante Gustavo Mosquito, do Corinthians. A assessoria de imprensa do jogador chegou a pedir aos jornalistas para o chamarem de Gustavo Silva, mas o próprio jogador falou que não se incomodaria com o Mosquito. Na camisa de jogo do Corinthians, consta escrito o nome de Gustavo Silva. 

“Acredito que esses tipos de apelidos adotam um tom pejorativo, fica ruim para a imagem dos atletas e até por isso os profissionais que cuidam desses atletas tendem a querer uma mudança”, completa Palaia.

Há cerca de dois anos, quem também pediu para ter o nome mudado foi o lateral-esquerdo Léo Pelé. Na transferência do Bahia para o São Paulo, seu clube atual, ele pediu para deixassem o Pelé de lado – apelido que ele ganhou pela aparência com o Deus do futebol.

“Pelé é Pelé, né. Leva um peso a mais desnecessário. Tenho uma carreira, quero colocar o meu nome. Pelé é consagrado demais, já conquistou o que tinha de conquistar. Não precisa levar o nome de Léo Pelé. Léo é o suficiente. Pés no chão”, disse o jogador, em janeiro de 2019, ao ser apresentado no Tricolor paulista.

No caso de Vini Jr., a mudança seguiu uma linha de estudo de que era difícil pronunciar o nome Vinícius entre os catalões e até mesmo em outros países europeus e até mesmo asiáticos, como China e Japão, mercados em que o estafe do atacante já pensa a longo prazo - e por isso a alteração para Vini.

"Existe toda uma relação afetiva, que vem desde as categorias de base ou quando esses atletas passam a criar uma identificação com seus clubes de origem. No caso do Vini, foi algo pensado e estudado, mas o atleta não pode simplesmente mudar o nome porque achou que é mais bonito ou mais feio. Ele começou assim e fica difícil depois mudar", aponta Palaia.

A declaração também é corroborada por Rene Salviano, especialista em marketing esportivo "Os apelidos são lúdicos como o futebol, são traços do nosso país. Geralmente, chegam na infância e trazem certa afetividade, vários apelidos são quase impossíveis de sumirem. Acredito que os atletas precisam se sentir à vontade com seu próprio nome, mas, caso queiram mudar, o momento de ter a decisão como quer realmente ser chamado deve ser antes da chegada ao profissional, preferencialmente", comenta.

Do mesmo jeito que muda o penteado a cada partida, pode ser que Gabi volte a querer ser chamado de Gabigol no futuro, mas o zelo com aquilo que chama de 'marca' precisa ser encarado com importância. "Imagina se Lebron James não fosse mais chamado de King, se Anderson Silva abandonasse o Spyder, ou se Pelé voltasse a querer ser chamado de Edson?. Depois pode não ter o mesmo reconhecimento que você criou ou desenvolveu ao longo de toda vida profissional", finaliza Palaia.

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