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CAMPEONATO MINEIRO

Arbitragem faz os últimos preparativos para o retorno do futebol em Minas Gerais

No período em que ficaram sem competições, árbitros e assistentes mantiveram a preparação física e técnica em casa; agora, na reta final, imprimiram ritmo mais forte sob a coordenação da FMF

postado em 19/07/2020 08:52 / atualizado em 21/07/2020 17:56

(Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Com a retomada das disputas no futebol marcadas, ainda que com algumas incertezas, os árbitros e árbitros assistentes correm para estar em boas condições tanto para o restante do Campeonato Mineiro quanto para o início do Campeonato Brasileiro. Desde a semana passada, os que exercem atividade em Minas iniciaram intertemporada com o objetivo de recuperar a melhor forma. Antes, vinham cuidando individualmente da parte física e trabalhando a parte técnica virtualmente.

 

Assim como os jogadores contam com todo um aparato de profissionais nos clubes, a arbitragem também recebe apoio. Claro que é um organograma bem mais enxuto, mas nem por isso menos cuidadoso, principalmente no que se refere aos cuidados com a saúde: o primeiro passo da Comissão que cuida do setor na Federação Mineira de Futebol (FMF) foi testar todos os selecionados para esta retomada.

 

“Como as competições da FMF estão voltando em fases, primeiro o Módulo I, depois o Módulo II, a Segunda Divisão, as categorias de base e finalmente o futebol amador, pudemos nos programar. Dentro disso, separamos 30 oficiais (14 árbitros e 16 assistentes), todos do quadro CBF e/ou da Fifa, que fizeram pré-temporada via vídeos fornecidos pela CBF. Isso ajudou muito, pois eles não ficaram parados na parte teórica, receberam vídeo-aulas”, argumenta o chefe da Comissão de Arbitragem da FMF, Juliano Lopes Lobato.

 

Já com a data de retorno das primeiras competições definidas, foi hora de iniciar a parte prática. O local escolhido foi o campo do Santa Luzia, no Bairro São Joaquim, em Contagem, mas, na sexta-feira, a decisão da prefeitura da cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) de aderir ao programa Minas Consciente, do Governo do Estado, que prevê a retomada gradual das atividades econômicas, acabou provocando uma pequena mudança de planos, já que o local não poderá mais ser utilizado.

 

“Desde o início da semana, eles vinham aprimorando fundamentos como reflexo, tomada de decisão, tudo no campo. São trabalhos técnicos aliados à parte física, das 6h às 8h30, todos os dias. Dividimos em dois grupos para não dar aglomeração, como exigido pelas autoridades”, explica Lobato, que imediatamente buscou alternativas para não interromper a preparação, seja através de preparação remota, seja buscando um novo local para os treinos em conjunto em outras cidades da RMBH.

 

Todo o protocolo a ser adotado para os jogos ainda está sendo finalizado, mas já é quase certo que todas as equipes de arbitragem terão de antecipar a chegada aos locais da partida. Se for na mesma cidade de residência, terão de ficar isolados por 48 horas, aguardando resultado dos testes. Se algum caso positivo for constatado, será imediatamente substituído por quem estiver na “reserva”. Como serão jogos seguidos, quem atuar em uma rodada fica fora da seguinte, mas deve seguir com todos os cuidados.

 

Os árbitros se mostram bastante animados com o retorno das atividades. Não só pelo lado financeiro, mas, principalmente, por a maioria esmagadora adorar o que faz e não estar acostumada a ficar tanto tempo longe dos gramados.

 

“Ficar até 30 dias parado é normal, são as férias de qualquer trabalhador. Mas quatro meses inativo nunca havia ficado. Depois de um mês, começou a bater a ansiedade. Passei a buscar alternativas para manter o condicionamento, sob orientação de preparador físico da CBF, em casa, na garagem do prédio, na rua logo cedo, quando há menos pessoas. Claro que não é a mesma coisa, mas foi o possível, não podia ficar totalmente parado”, afirma Ricardo Marques Ribeiro, do alto de seus 22 anos de arbitragem e com a experiência de ter integrado o quadro da Fifa entre 2009 e o ano passado.

 

Com 13 anos de arbitragem, mas ainda considerado de uma nova geração, Felipe Fernandes de Lima também contou com ajuda remota para se manter em forma. Para completar, como também é professor de educação física, teve facilidade de garantir o condicionamento, tão importante em um futebol cada vez mais corrido.

 

O que faltará nos primeiros jogos, certamente, será mesmo a prática, ainda mais que não é possível realizar jogos-treino em função da pandemia. “Precisamos de ritmo de jogo tanto quanto os jogadores. Ainda mais porque não estamos acostumados a ficar tanto tempo sem trabalhar. Em 13 anos, nunca havia ficado mais de um mês. Então, os trabalhos de simulação são importantes, melhoram o reflexo, a tomada de decisão”, declara ele, que na 11ª rodada, dia 29, vai atuar em URT x América.

 

Ajuda em duas frentes

 

Como a maioria dos árbitros da elite, Ribeiro e Lima têm na mediação de jogos um complemento de renda. Nem por isso deixaram de ser afetados financeiramente pela pandemia, como grande parte da população.

 

“Sou funcionário público (do Poder Judiciário), tenho meu salário, mas a arbitragem ajuda bastante. Então, tive de cortar gastos para o orçamento caber dentro da nova realidade. Foi o que fiz”, afirma Ribeiro, eleito o melhor árbitro brasileiro de 2014, mas que sabe que a realidade de outros companheiros é diferente. “Alguns vivem basicamente da arbitragem e viram a renda zerar da noite para o dia. A CBF, sensível com a situação, fez a antecipação de uma cota de arbitragem por mês, por três meses, que posteriormente virou doação, mas apenas para os árbitros do quadro nacional. De qualquer forma foi importantíssimo.”

 

Lima também elogia a medida da entidade máxima do futebol nacional, que foi fundamental para superar o período sem jogos. Um árbitro do quadro da Fifa que tenha apitado a Série A do Brasileiro do ano passado, como ele, recebe pouco mais de R$ 5 mil por partida. Os que são CBF, R$ 3,6 mil. Já os árbitros assistentes têm direito a 60% desses valores.

 

“Meu trabalho ficou totalmente comprometido, pois as academias estão completamente fechadas. Tentei dar aulas on-line, mas não representa nem 20% do que estava acostumado a receber. A CBF deu uma ajuda que foi excelente. E agora estou conseguindo dar aula em parques, a domicílio. Aos poucos vamos voltando”, diz.
Ambos destacam ainda outra ajuda da CBF, tão importante, segundo eles, quanto dinheiro: apoio psicológico. Afinal, a incerteza sobre a volta do futebol, aliado à diminuição de renda, gera muita ansiedade.

 

Como todos que vivem e gostam do futebol, a volta é comemorada, mas ainda faltará um dos principais elementos, a torcida nos estádios. E até para isso os árbitros vêm se preparando, pois será uma situação diferente.

 

“Futebol sem torcida é totalmente atípico. Ainda mais no meu caso, cujo último jogo foi um clássico (Atlético 2 x 1 Cruzeiro, no Mineirão). Então, estou me preparando psicologicamente para isso. Claro que teve jogo vazio, mas não totalmente como será agora e a gente tem de estar preparado”, afirma o educador físico. “Nos acostumamos a atuar com a adrenalina da torcida, o que nos deixa mais atentos. Já sem torcida, precisamos nos concentrar ainda mais, pois escuta às vezes até o que não precisa, o que não é importante, que pode tirar o foco. Será uma adaptação para a gente também. Já fiz jogo com portões fechados, mas poucos. É mais um desafio”, declara o funcionário público, cujo próximo jogo será Boa x Tupynambás, também dia 29.

 

Cuidados com a COVID-19

 

Em tempo de pandemia, também será necessário se adaptar à nova realidade. Uma certeza é que terão de se isolar 48 horas antes dos jogos, sendo testados antes de cada partida. Além disso, vão usar garrafas individuais para se hidratar e usar máscaras e álcool em gel quando não estiverem em campo. “O futebol vai ser o lugar mais seguro, pois estamos sendo muito testados. Então, estou absolutamente tranquilo de que vai dar tudo certo”, diz Lima.

 

Já quanto aos jogadores, muda pouca coisa. Vão orientar quanto à necessidade de se evitar contatos além do inerente ao esporte. “Temos de ter bom senso. A gente vai orientar, prevenir, mas sabe que futebol envolve emoção. Não dá para pedir para não comemorarem um gol juntos”, afirma o experiente árbitro. “Os atletas sabem que são exemplo para a sociedade e vão se comportar”, completa o mais jovem.

 

 

ARBITRAGEM EM TREINAMENTO

 

 

Árbitros    Jogos no Módulo I em 2020

1 - Igor Junior Benevenuto            4
2 - Emerson de Almeida Ferreira    4
3 - Antônio Márcio T. da Silva         6
4 - Gabriel Murta Barbosa Maciel    5*
5 - Andreza Helena de Siqueira       3
6 - Leonardo Rotondo Pinto           2
7 - Marco Aurélio A.Fazekas           5
8 - Michel Patrick C.Guimarães        4
9 - Ricardo Marques Ribeiro             5
10 - Paulo César Zanovelli da Silva   4
11 - Ronei Cândido Alves                 6
12 - Wanderson Alves de Souza      7
13 - André Luiz Skettino Bento        5
14 - Felipe Fernandes Lima              5

(*) Incluindo partidas como quarto árbitro (a)

           

Ássistentes    Jogos no Módulo I em 2020

1 - Augusto Magno Ramos              5
2 - Breno Rodrigues                        4         
3 - Celso Luiz da Silva                     5
4 - Douglas Almeida Costa              3
5 - Felipe Alan C. Oliveira                 4
6 - Leonardo Henrique Pereira         7
7 - Luiz Antônio Barbosa                 5
8 - Magno Arantes Lira                    7
9 - Marconi Helbert Vieira                6
10 - Marcus Vinícius Gomes             7
11 - Marcyano da S. Vicente           5
12 - Fernanda Nandrea G. Antunes  4
13 - Filipe Ramos Santana               6
14 – Pablo Almeida Costa                6
15 – Frederico Soares Vilarinho        6
16 – Guilherme Dias Camilo             5

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