Futebol Internacional
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Sob frio e disciplina, zagueiro Edcarlos quer fazer história na Coreia do Sul

Defensor teve passagem apagada pelo Cruzeiro

postado em 20/02/2013 08:35 / atualizado em 20/02/2013 08:44

Divulgação
Ao atuar ao lado de Fabão e Lugano, Edcarlos viveu seu melhor momento na carreira em 2005. Sob o comando de Paulo Autuori, o zagueiro conseguiu se firmar como um dos pilares daquele vencedor 3-5-2 do São Paulo, sendo titular na conquista do Mundial Interclubes, além de estar no elenco campeão da Libertadores da América. Nas duas temporadas seguintes, já sob os olhares de Muricy Ramalho, o jogador participou das campanhas vitoriosas do Campeonato Brasileiro, foi vice-campeão continental, marcando gol na decisão contra o Internacional, e partiu para o futebol português, onde defendeu as cores do Benfica.

Promessa da base do Tricolor do Morumbi, Edcarlos não conseguiu manter a estabilidade e, entre altos e baixos na carreira, também passou por Fluminense, Cruz Azul, Cruzeiro, Grêmio e Sport, sem ter o mesmo sucesso dos anos no futebol paulista. Em 2013, no entanto, o zagueiro enfrenta mais um desafio, bem diferente de qualquer outro na carreira: contratado pelo Seongnam Ilhwa, maior campeão nacional e semifinalista no Mundial de 2010, o jogador vai se aventurar no futebol sul-coreano, onde, além de uma cultura bem diferente, vai ter que enfrentar o frio do país e um esporte marcado pela disciplina de seus colegas.

Ainda em pré-temporada, o zagueiro chega como novidade em um futebol acostumado em contratar brasileiros para ocupar o setor ofensivo de suas principais equipes, que buscam fazer um jogo intenso durante os 90 minutos, de acordo com o próprio jogador. Em entrevista exclusiva, Edcarlos conta sobre sua adaptação ao novo país sob um frio local de -8°C, relatando as principais dificuldades encontradas, marcadas, principalmente, pelas diferenças culturais de dois extremos do mundo, mesmo contando com a ajuda do atacante brasileiro Jael.

Quando você foi contratado, no início de janeiro, você disse que era uma novidade na carreira, já que o futebol sul-coreano sempre contratou atacantes. Quais fatores contribuíram para a negociação?
Edcarlos- O atual treinador do meu time foi zagueiro, quando era jogador, jogou neste time e fez história por aqui. Acho que por ter jogado nessa posição, ele quis a contratação. Em especial, esse time nunca tinha tido nenhum zagueiro estrangeiro, para mim foi uma surpresa, porque eles sempre procuram atacantes.

Você acredita que seu treinador foi a maior influência?
Edcarlos- Acho que também influenciou bastante pelo fato de ele ter trabalhado com um zagueiro brasileiro há dois anos, o Adílson (atualmente no FC Seoul), pouco conhecido no Brasil, que já faz sete anos que está por aqui. Esse zagueiro tem muita moral, foi escolhido por muitas vezes como o melhor da posição no campeonato local. Quando eu cheguei aqui, os sul-coreanos diziam que eu parecia com ele.

Em relação ao estilo de jogo, quais são as principais mudanças que você notou no futebol sul-coreano? Eles realmente são mais rápidos do que os nossos jogadores?
Edcarlos- Eles conseguem agir com rapidez e com qualidade. Não tem aquela técnica de tirar um, dois, três jogadores, mas conseguem ser técnicos e rápidos. Quando a gente fala em rapidez é porque a bola gira muito rápido, é o tempo inteiro, não para, você não vê a bola sair de campo. Você está ganhando de 2 a 0 ou 3 a 0 e continua imprimindo o mesmo ritmo.

Então não existe aquela “cera” que é bastante comum nos jogos dos times brasileiros?
Edcarlos- Não, isso não tem não. No Brasil, a gente controla o jogo, segura o resultado, aqui isso não existe. Os jogos aqui terminam 4 a 3, ou 3 a 2, sempre com muitos gols. Dificilmente você vê resultado de 1 a 0, pelo fato de o time estar ganhando e não diminuir o ritmo.

E o público nos jogos do futebol sul-coreano? Já deu para notar como é o comportamento do torcedor?
Edcarlos- Meu presidente é de uma religião que o pessoal tem um certo preconceito, e isso faz com que o torcedor não se aproxime do time. A média de público do Seongnam é de 15 ou 20 mil torcedores. Os times com mais torcida, como o FC Seoul, conseguem levar de 50 a 60 mil para o estádio.

E sua adaptação no novo país? Vocês está sendo ajudado por algum brasileiro no elenco?
Edcarlos- O Jael, atacante que já foi do Flamengo, é meu companheiro de clube. Além dele, também converso com o Jordan e com o Reina (Ex-Cruzeiro, Vitória e Ceará), que são colombianos, então fica mais fácil de falar.

Além da língua, você está enfrentando outras dificuldades?
Edcarlos- Minha cidade fica a 20 minutos de Seul. Lá você encontra churrascaria brasileira e outras coisas que facilitam. Também tem um intérprete brasileiro que dá o auxílio. O clube se preocupa muito com os jogadores, então eles disponibilizam um representante que fala português e coreano para ajudar.

No convívio interno dos jogadores, você sente diferença entre os atletas sul-coreanos e brasileiros?
Edcarlos - Os jogadores brasileiros são palhaços, no bom sentido, em todas as horas. Os coreanos, quando estão próximos da comissão técnica, têm um respeito muito grande, é como se o técnico fosse um pai ou um avô deles. Mas longe são todos iguais (risos).

Você conhecia a Coreia antes de ser contratado pelo Seongnam?
Edcarlos - Eu estive aqui com a Seleção Sub-20, em Jeju, uma ilha turística muita bonita. Eu tinha vindo com a Seleção, mas não tive a oportunidade de conhecer o lugar, já que o tempo foi curto.

Como está sendo a pré-temporada? O frio intenso atrapalha a preparação?
Edcarlos - Faz muito frio agora, então a gente sempre procura um lugar mais quente. A cada 15 dias a gente troca de lugar. Alguns times chegam até a sair do país para fazer a pré-temporada.

Qual sua expectativa para esta temporada no Seongnam Ilhwa? A mudança na carreira é muito grande?
Edcarlos - É uma novidade muito grande, até pela porta que se abre, no aspecto de nunca ter contratado nenhum zagueiro. O fato de o treinador querer um zagueiro e ter me escolhido é muito importante para mim. Nós acompanhamos o futebol internacional, sabemos que a competitividade é muito grande. Então, o “cara” confiar no seu trabalho é um algo a mais. É um desafio muito grande sair do país com sua família. Espero fazer um grande trabalho.

Você pretende voltar ao Brasil para encerrar a carreira?
Edcarlos - De início, eu esperava mais dificuldade, mas estou me surpreendendo muito. Eu sofro de ficar longe da minha esposa e da minha filha, que logo vão estar junto comigo. O povo é bem acolhedor e educado, acho que vai ser importante também para educação da minha filha. Eu espero fazer história por aqui.

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