Futebol Nacional
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REVÉTRIA

Lembranças de um uruguaio

O ex-jogador marcou três gols na primeira partida decisiva do Mineiro de 77

postado em 31/05/2013 09:11 / atualizado em 31/05/2013 16:52

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Marta Vieira - Montevidéu

Se o bom filho à casa torna, como diz o ditado, a torcida cruzeirense, e por que não também os atleticanos, podem se preparar para receber ainda este ano o ex-craque Hebert Revétria. Uruguaio de nascimento, mas belo-horizontino de coração, foi artilheiro da Raposa em duas partidas decisivas do clássico mineiro de 77. Os três gols de Revetria derrubaram o Galo dos então campeões Toninho Cerezo, Paulo Isidoro, Reinaldo, Ortiz, Vantuir e Marcelo Oliveira – atual técnico celeste. Voltar a BH significa mais que reviver cada minuto dos dois anos passados por aqui. Seu desejo é ver um outro clássico no Mineirão, entre Seleção Brasileira e Uruguaia, numa possível final da fase de grupos da Copa das Confederações.

Tomado pela emoção das lembranças do tempo em que o garoto uruguaio de 21 anos jogou na terra de Pelé, Revétria contou ao Estado de Minas que volta ao Brasil em junho acompanhando a Seleção Uruguaia em dois jogos marcados para Salvador e uma partida no Recife. Na programação, está decidido a abrir a agenda para visitar amigos e ex-companheiros em BH. O ex-craque relembrou os momentos de tensão nos jogos de 77, que levaram mais de 120 mil pessoas ao Mineirão na final, e revelou em uma única frase a confiança na seleção que o Brasil vai mostrar em 2014. “Jogar contra o Brasil no Brasil! Dá medo”, afirmou.

A paixão por BH é tamanha que fez Revétria interromper o trabalho como gerente desportivo da empresa que detém os direitos sobre as exibições dos jogos da Seleção Uruguaia para participar de um evento patrocinado pela Embratur, autarquia do Ministério do Turismo, que divulga as atrações das cidades-sedes do mundial. O pôster com a foto do Minerão fez com que ele se sentisse em casa, como gosta de se referir a BH. ”Na terra de vocês o futebol é rei. Um dia fui rei na terra de reis”, confidenciou. Veja os principais trechos da entrevista:

• AS PARTIDAS EM 1977
Naquele 25 de setembro de 77 (primeira partida do campeonato) estava muito nervoso. Nunca havia jogado uma partida como aquela. Era um garoto de 21 anos, protagonista do maior clássico de Minas Gerais, ao lado de grandes jogadores e contra outros da mesma qualidade. Depois do segundo jogo havia ficado mais tranquilo porque joguei bem. Depois da partida conversei com o Flamarion (volante), que chegou ao Cruzeiro também quase junto comigo. Fomos juntos ao treino e morávamos no Gutierrez. Ao final, ele me disse: “Gringo, você fez história com aqueles três gols”. Aquelas palavras foram como as de um vidente. Uma semana antes do Mineiro, já estava no Cruzeiro quando o time jogou na Taça Libertadores aqui em Montevidéo contra o Boca Juniors, mas não participei porque não estava inscrito. No vestiário, o Iustrich (técnico) me falou: comece a treinar para jogar no Mineiro. (O Cruzeiro perdeu a partida nos pênaltis).

• DEPOIS DA DECISÃO EM OUTUBRO DE 1977
Vantuir me cumprimentou. É muito difícil cumprimentar o adversário quando o coração está a 200 batidas por minuto e você pensa na derrota. Vantuir demonstrou, naquele momento, seu caráter. Dentro de campo, apanhei dele numa jogada normal de disputa da bola. Tentei cabecear e cai, machucando a clavícula no primeiro jogo. Fiz infiltração e joguei nas duas partidas seguintes. (O Atlético havia vencido o primeiro jogo por 1 a 0, gol de Reinaldo. Os três gols de Revétria no segundo jogo levaram o Cruzeiro, que venceu por 3 a 2, à decisão e um gol no primeiro tempo do terceiro jogo garantiu o empate, que levou para a prorrogação. Ao final, a Raposa venceu por 3 a 1, com os outros gols de Lívio e Joãozinho.)

• PROJEÇÃO NA CARREIRA
Há um dia na vida de todas as pessoas em que dá tudo certo. Na terra de vocês o futebol é rei e os melhores jogadores do mundo são jovens. Para mim foi um desafio jogar no Brasil de Piazza, Raul, Nelinho, todos jogadores campeões da Libertadores. Um dia fui rei em terra de reis. Isso é importante não para que eu saia falando por aí. É algo único inclusive para minha vida pessoal. O Cruzeiro confiou em mim com tantos excelentes jogadores. Me chamavam de gringo. Esse sentimento não morre nunca: lembrar-me de que experimentei a emoção de jogar na terra de Pelé.

• VIDA EM BH
A vida em BH me marcou como jogador e em muitas coisas. (Revétria chegou ao Cruzeiro aos 21 anos. Jogou dos 17 aos 33 anos, também na Colômbia, México e Chile. Encerrou a carreira no River Plate do Uruguai). Quando fui ao México e participei da equipe de melhores jogadores, acredito que foi pelo que aprendi em BH. Passei um momento único na minha vida de 77 a 79. Tenho muita saudade de BH. Nunca cortei meu cordão umbilical com BH.

• VINDA AO BRASIL
Volto ao Brasil em junho. Minha intenção é ir a BH, claro. Vamos com a seleção em Salvador e Recife. Se Brasil ficar em primeiro lugar na primeira fase da Copa das Confederações e o Uruguai ficar em segundo, poderá haver uma partida final em BH. Jogar com o Brasil no Brasil dá medo.

* A repórter viajou a convite da Embratur