Futebol Nacional
None

Entrevista/Emerson Ávila

Depois de sair da Seleção Sub-20 de forma traumática, Emerson Ávila, ex-técnico do Cruzeiro, aguarda propostas de trabalho e garante que dará a volta por cima

postado em 03/03/2013 08:54 / atualizado em 03/03/2013 08:59

(Daniel Seabra/EM/D.A Press)

O técnico Emerson Ávila se destacou na base do Cruzeiro, mas foi no ano passado que ganhou as manchetes nacionais, principalmente depois do fiasco no comando da Seleção Brasileira Sub-20 no Sul-Americano da categoria, quando o time foi eliminado na primeira fase pela segunda vez na história. Agora, sem clube e sem propostas, aguarda convites e garante estar preparado para assumir qualquer time brasileiro.

Como foi seu início de carreira?
Foi no Santa Tereza, em 1992, como preparador físico. Saí em 96, convidado para ser técnico do infantil do Cruzeiro. Em 2005 fui para o profissional, onde trabalhei com vários treinadores. Mas iniciei minha carreira como técnico na final do Mineiro em 2007, na vaga do Paulo Autuori, que saiu entre o primeiro e segundo jogo da decisão. Depois fui para o Ipatinga e Barueri. Mas em 2010, voltei ao Cruzeiro, como coordenador técnico do profissional.

Você ainda assumiu em 2011, quando o Joel Santana saiu, e não fez boa campanha. O que houve?
A equipe vinha em um momento ruim. Departamento médico lotado. Quando fui anunciado, disse para minha esposa: ‘Sou o novo técnico do Cruzeiro’. Ela me perguntou se não estava feliz, pela forma como falei. Disse que sim, feliz, mas preocupado pelo momento da equipe.

Você estava preparado?
Inteiramente. Mas o momento do grupo não foi o correto.

O que deu errado?

Não tínhamos um elenco (30 jogadores). Perdia 5 ou 6 jogadores contundidos, três por cartão, ia para o jogo muito desfalcado. Jogadores da base que não estavam preparados. Algumas contratações não trouxeram respostas para o clube.

Você esperava ficar?
Tinha certeza de que uma hora íamos ganhar, a situação iria melhorar. Mas o ano provou que estava complicado. O (Wagner) Mancini veio e ficou 4 jogos sem vencer. Acabou que no final do ano o Cruzeiro se salvou. Eu podia ter manchado a história do Cruzeiro se tivesse sido rebaixado. Seria terrível para mim. Mas poderia ter me firmado ali. Mas foi uma decisão da diretoria. Futebol é assim.

Guardou alguma mágoa do Cruzeiro?
De forma alguma. O Cruzeiro foi a minha porta de entrada para o futebol. Sempre fui tratado com muito respeito. Minha opinião sempre foi muito ouvida no clube. Várias indicações minhas se tornaram lucro para o Cruzeiro, como Montillo, Guilherme (atacante), Alecsandro, Gérson Magrão e Nenê (atacante).

Você voltaria ao Cruzeiro?
Depende da função que for oferecida. Estou aberto ao mercado.

Então você assumiu a Seleção Sub-17, por indicação do Ney Franco, sendo campeão sul-americano e quarto no Mundial.
O Ney Franco era o coordenador e técnico da sub-20. Eu não era exclusivo da CBF. Nas poucas folgas no Cruzeiro, me dedicava à Seleção. Fizemos um bom Sul-Americano, fomos bem no Mundial. Veio o ano seguinte e o Ney me pediu para optar entre Cruzeiro ou sub-17. Como vinha de um desgaste no Cruzeiro, segui no projeto com a CBF.


O Ney franco indicou seu nome para assumir a sub-17. Qual é sua relação com ele?
Excelente. Falo com ele uma vez por semana. Estive com ele quando o São Paulo veio jogar com o Atlético (pela Libertadores).

Aí o Ney assumiu o SP...
Sim, em julho de 2012. Ficou aquele vazio, porque não se anunciou ninguém para o cargo de coordenador e nem para técnico da sub-20. Segui na sub-17, mas percebendo que alguma coisa poderia acontecer, comecei a olhar mais para a sub-20.

E a Sub-20 caiu no seu colo?

Caiu, mas bem próximo do fim do ano. Próximo do Sul-Americano. O tempo inteiro, conversava muito com as pessoas próximas a mim, inclusive o Toninho (Almeida Filho, supervisor), a única pessoa que era mediador entre seleções e CBF. O tempo foi passando e estávamos nos preparado para um torneio em dezembro do sub-17. Ele (Toninho) me disse que teríamos a convocação do sub-20 em 4 de dezembro (para o Sul-Americano). Como até então não havia sido anunciado ninguém, era para deixar uma convocação pronta e aguardar o que os caras vão fazer. Deixei, viajei com a sub-17 e quando voltei, dia 5, a apresentação era dia 10. Como não tinha ninguém na sub-20, eu fui. Nunca fui comunicado de que eu era o técnico.

Foi dito que você era muito inexperiente para assumir a sub-20. O que você acha disso?
Um absurdo, uma bobagem tremenda. Tenho plena convicção de que naquele momento era o mais indicado para assumir o cargo. Acho que, na saída do Ney, deveriam ter me dito que eu era o técnico da sub-20. Eu ia focar mais como técnico da sub-20.

O Brasil fez quatro jogos no Sul-Americano Sub-20, só venceu um, sendo eliminado na primeira fase. O que aconteceu?
Uma série de problemas. Primeiro, sou o maior crítico do meu trabalho. Acho que deveria ter feito uma convocação melhor. Esse foi um dos principais erros. Convoquei jogadores que já estavam no profissional, mas muitos não vinham atuando sempre, como Adryan e Mattheus. Precisava de jogadores com mais ritmo, com mais sequência, pois o torneio estava perto. E fiz apostas que não deram resultado, como Felipe Anderson, Leandro, Fred e Marcos Júnior. O Rafael Alcântara eu não conhecia pessoalmente, mas se falava muito bem dele. Vi alguns jogos dele. Não achei que era uma coisa de outro mundo, mas se falava que era o que tinha de melhor da geração dele. Ainda não pudemos trazer todos que queríamos, porque os clubes não liberaram, outros estavam lesionados.

Você sentia que tinha o grupo na mão?
Tranquilamente. Não tivemos nenhuma indisciplina. Quando voltamos, ouvi um jogador falar alguma coisa disso (Marcos júnior).

E o fato de que tinha jogador com namorada na concentração?
No primeiro dia, quando chegamos, o Bruno Mendes desceu de mão dada com uma moça e uma senhora ao lado. Perguntei ao pessoal do meu estafe o que era aquilo. É uma competição, estamos representando o país. No Sul-Americano Sub-17 também aconteceu isso, mas sem nenhuma interferência, nenhum problema. Mas foi por distração do jogador. Depois que falei com ele, nem vi mais a moça.

Então isso não interferiu?
Em nada, o Bruno sempre foi muito esforçado, interessado em participar. Falaram em empresários no hotel. Lá havia cerca de 20 ou 30 empresários. Era um dos únicos hotéis grandes na cidade, isso é inevitável. Sempre acontece na sub-17, na sub-20, vai acontecer sempre.

Mas isso atrapalha o jogador?
O ideal é que a gente cerque isso. Mas os empresários são muito discretos. Sabem do limite deles. São pessoas que sabem da postura que eles têm que tomar. Isso não prejudicou em nada.

Você acha que faltou competimento de alguns jogadores?
É difícil julgar se uma pessoa está envolvida no processo, porque isso é abstrato, é pessoal. Só entendo que o atleta brasileiro precisa ser mais competitivo, desde a base. Se os clubes não melhorarem seu processo de formação, dificilmente vamos continuar sendo formadores e exportadores como sempre fomos. Vamos ter dificuldade quando formos jogar com sul-americanos. Eles evoluíram muito. E o Brasil está parado na formação.

Falta qualidade também?
Falta. Hoje não é como antigamente. Há, sei lá, 10 anos, quando ia a um jogo sub-20, tinha jogadores de altíssimo nível. Hoje não tem isso. Os campos estão menores, o espaço ficou menor, os jogadores ficaram mais fortes, não tem aquela liberdade.

Sua saída da CBF foi traumática...
Foi ruim, muito ruim. Apostei muito. Recusei convite de uma equipe bem estruturada, da Série B, que vai brigar para subir este ano, com bom salário, mais do que eu recebia na CBF, em prol de não abdicar de um trabalho na Seleção. Naquele momento, eu era o único treinador da CBF. Se largasse, iria virar o caos, o Sul-Americano próximo e a Seleção sem treinador.

Não falou organização da CBF?
De certa forma sim, mas não posso culpar ninguém. Porque o presidente (José Maria Marin) entrou e começou a ver as prioridades, e sem dúvida a (Seleção) principal era a prioridade, que passava por uma troca no comando técnico, saindo o Mano (Menezes). Isso demanda muito tempo, muita tensão. E acabou que como o cargo do Ney, que era coordenador, ficou vazio, isso não deu ao presidente a noção de que o Sul-Americano estava perto, que as coisas estavam acontecendo.

Você se sente preparado para assumir um grande clube ou acha que seria melhor recomeçar com um clube de menor expressão?
Claro que para trabalhar em um clube de Série A, por exemplo, é preciso de suporte, uma diretoria forte, que aposte em seu trabalho, que o banque, porque a tendência é que sempre as pessoas querem apostar nos nomes mais rodados, mais conhecidos. Mas estou preparado. Acredito que não vá, no momento, surgir um convite de um clube da Série A, de ponta, pelo final de trabalho na CBF, que foi bem negativo para mim. Mas vou buscar um projeto, um clube para ser treinador, e me sinto muito preparado.

O que você acha do círculo vicioso do futebol, com os mesmos nomes rodando pelos grandes clubes?
O Brasil tem essa cultura, de que o que dá certo é o experiente, rodado. Mas o mercado está aberto para todos. A palavra que deveria reger o mercado é competência. Se o cara tem competência, não interessa se tem 30, 40 anos.

É fundamental ter sido jogador para ser bom treinador?
Não. Os exemplos mostram isso. Parreira, Autuori, Oswaldo de Oliveira, Ney Franco e outros. É claro que se você puder aliar as duas coisas seria ótimo. Ter uma passagem boa como atleta e ter uma passagem acadêmica seria ótimo. Mas o dia a dia é mais importante que você ter sido um bom camisa 10.

Você não jogou futebol…
Joguei na base, até o juvenil, no Santa Teresa. Profissionalmente não. Cheguei a ir para a Suíça, em 91, para tentar. Era volante.

Bom jogador?
Razoável.

Você se convocaria para a Seleção?
De forma alguma. Para mim, o atleta para servir à Seleção tem que ser completo.

Como você vê essa abertura do mercado nacional para técnicos mineiros?
Demorou muito para se valorizar o mercado mineiro. Hoje temos quatro equipes que vão disputar a Série A com treinadores mineiros: o Enderson (Moreira) no Goiás, o Ney no São Paulo, o Marcelo (Oliveira) no Cruzeiro e o (Ricardo) Drubscky no Atlético-PR. E até voltando à pergunta anterior, só um deles, o Marcelo, jogou. Tem até a questão da idade. O Enderson, por exemplo, é até mais novo que eu (tem 41). Mas isso facilita. No futebol você sempre depende da palavra de alguém, de uma indicação. Não trabalho com empresário. Então você precisa que alguém fale bem, não do Emerson, mas do meu trabalho.

E você tem propostas?

Não. Algumas conversas, um convite para trabalhar na base, que hoje não me motiva tanto. Prefiro tentar seguir como treinador. E outra para trabalhar como auxiliar técnico. Mas o mercado está muito parado. Com os finais dos regionais, vem aquela cultura do futebol brasileiro. Vão sendo trocando treinadores e uma hora vai surgir uma oportunidade.

Tags: americamg atleticomg cruzeiroec