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CAMPEONATO MINEIRO

Aposentadoria de Erivelto, do América-TO, mostra lado B do "milionário futebol"

Jogador passou em concurso público em Guarulhos e decidiu abandonar clube mineiro

postado em 06/03/2013 17:42 / atualizado em 06/03/2013 18:32

Divulgação/América-TO

O futebol moderno é conhecido como a 'mina de ouro' para jogadores que querem se tornar ricos e famosos. É o caso de atletas como Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, que fazem o talento movimentar essa indústria milionária. Mas pouco se fala do 'lado B' desse popular esporte: os clubes modestos e a vida simples que levam os anônimos atletas do interior.

Na última terça-feira, o atacante Erivelto, do América-TO, trocou a carreira no futebol por um emprego público na prefeitura de Guarulhos, Grande São Paulo, conquistado graças a uma aprovação num concurso. Ele foi o 14º colocado em meio a três mil concorrentes.

Assim como Erivelto, muitos jogadores realizam o sonho de jogar profissionalmente, mas não alcançam a fama e fortuna imaginados quando começaram a carreira. O agora ex-atacante do América-TO admitiu que o salário no clube do Vale do Mucuri, em Minas, era maior que o que receberá como funcionário público, mas optou pela estabilidade. A nova vida também lhe permitirá ficar mais tempo perto da esposa Juliana e do filho Nicolás, de apenas cinco anos.

Confira a entrevista exclusiva de Erivelto concedida ao Superesportes, em que ele explica a decisão de abandonar o futebol aos 31 anos para seguir uma carreira bem diferente.

Superesportes: Por que você tomou a decisão de abandonar o futebol?

Não foi exatamente um abandono. Tomei esta decisão junto com a minha família. Não é fácil você viver sua vida longe das pessoas que você gosta. Às vezes o futebol não permite que você tenha esse convívio. Em 2012, antes de assinar com o Botafogo_PB, estava sem clube. Neste momento, fiz o concurso público em Guarulhos, que é minha cidade e de minha família. Penso neste momento em passar mais tempo com as pessoas que gosto, de ter uma estabilidade financeira que o futebol não permite. O futebol é coisa de momento. Se não vivesse um bom momento em Minas, terminaria meu contrato e ficaria sem clube. Apesar de receber menos, vou ter uma estabilidade que não teria nos meus últimos anos de carreira.

SE: Quais foram os melhores momentos de sua carreira?

Nas categorias de base, passei três anos no São Paulo, depois estive no Santos e no Juventus. Comecei profissionalmente no Corinthians-AL, mas minhas melhores passagens foram no FK Qäbälä, do Azerbaidjão, na República Tcheca, onde fui o artilheiro do campeonato com 14 gols em 16 partidas e na Canedense, que, apesar do rebaixamento no Campeonato Goiano, fui um dos artilheiros da competição e me projetei bem quando atuei pelo clube.

SE: O que você conseguiu com o futebol em termos materiais e financeiros?

Muita gente pensa que é fácil ganhar a vida com o futebol. Posso afirmar que apenas 20%, 25% dos jogadores são aqueles que têm salários astronômicos e conseguem se aposentar com tranquilidade e ter uma vida perfeita. Infelizmente, a maioria dos jogadores sofrem com os clubes de pouco poder financeiro. As equipes fazem contratos, não cumprem, o jogador acaba sem receber nada por realizar o seu trabalho. Quando esses jogadores que não têm um nome forte no futebol vivem uma boa fase, recebem no máximo entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, um valor bom, mas longe das vitrines no futebol. Felizmente, muitas coisas deram certo na minha carreira. Jogando fora do país consegui fazer minha independência financeira, dar uma casa para os meus pais, comprar minha casa e meu carro. Mas não é nada demais. Poderia ter meu próprio negócio, mas levei muitos clubes na Justiça por falta de pagamento. O futebol é um sonho, todo mundo se sente bem em fazer aquilo que gosta, mas é difícil se manter bem, porque é um mundo com muitos aproveitadores.

SE: Em que posição você passou no concurso e como se sentiu?

Fiquei muito feliz por ter conseguido me classificar. Estava vivendo um momento difícil na carreira e resolvi arriscar, mesmo sabendo que seria complicado. Eram mais de 3 mil concorrentes para 80 vagas. Fiquei em 14º sem fazer qualquer curso preparatório e isso me deixou satisfeito, pois sei que posso sobreviver sem o futebol.

SE: O que você espera da nova vida sem a rotina do futebol?

É uma novidade essa vida. Se fecha uma 'cortina', onde vivi feliz por muitos anos da minha vida. E agora abre outra, com a vida real. O jogador de futebol vive um sonho, e quando acaba, temos que nos preparar. Já vi muitos jogadores viverem em depressão após pararem de jogar. Por isso, sempre me preparei para esse momento, para que não sofresse. Sabia que um dia chegaria, mas a gente nunca quer parar. Sempre procurei me manter informado para as oportunidades da vida, para que eu conseguisse me manter bem sem o futebol.

SE: Pretende voltar ao futebol em outras funções?

Não me vejo trabalhando de novo no futebol, nem na beira de campo ou como diretor. Muitos falam que eu daria certo, pois sou uma pessoa que se dá bem com todos. Sempre tive bons relacionamentos no futebol e muitos acreditam que eu poderia dar continuidade ao meu trabalho, agora longe do gramado. Mas não quero viver mais com isso. Futebol toma muito tempo de uma pessoa e quero aproveitar mais com minha família. Quero levar o futebol como lazer agora.

SE: Você esteve na segunda partida do Novo Mineirão, contra o Cruzeiro (derrota por 2 a 0). Como você se sentiu jogando em um estádio que será utilizado por craques na Copa das Confederações e na Copa do Mundo?

Foi a realização de um sonho. O Brasil se prepara para a Copa do Mundo e existe uma movimentação muito grande para que tudo dê certo. Os estádios estão passando por reformas e ficando maravilhosos. Meu sonho era jogar em um desses estádios antes de parar com o futebol e consegui. Joguei em um dos maiores estádios do mundo e, apesar da derrota, fiquei muito satisfeito. É outra estrutura, se compararmos com um estádio do interior. O Mineirão ficou belíssimo, muito caprichado e bem feito. Todos que estavam envolvidos estão de parabéns, ficou sensacional o Mineirão e me senti realizado de terminar a carreira jogando em um estádio de tamanha importância para o futebol brasileiro.

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