Futebol Nacional
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SONHO FUTEBOL CLUBE

Minha amiga, a bola

Foi por meio da bola que a auxiliar de serviços Ana Carolina Pereira Mendes, de 28 anos, conseguiu motivar os estudos de Igor Gabriel Pereira Mendes, de 9. Não havia o que fizesse o mocinho firmar o interesse pela escola fundamental. Longe das salas de aula, Ana Carolina identificou a loucura do filho pelos gramados. Daí, foi só oferecer os treinos na escolinha em troca da dedicação ao ensino. Sucesso possível graças ao apoio financeiro do padrinho, Antônio, “um anjo enviado de Deus”, segundo Ana Carolina.

Se no mundo da bola a vida é uma festa para o pequeno Igor, em casa a realidade é dura para a família. Sem marido, a auxiliar de serviços gerais peleja em jornadas de dia e noite para sustentar, além de Igor, as filhas, Ana Luiza, de 11; Jennifer, de 7; e Alice, de 4. Todos em barracão de fundos da casa de parente, no Bairro Jardim América, na Região Oeste de BH. Águas enxutas no rosto com as costas das mãos enquanto o filho dá show em campo do Centro Taffarel de Futebol, Ana Carolina suspira: “A gente vive como dá, né!?”.

Ao longe, o garoto cisca e pedala, habilidoso. Comovida, a mãe emenda a frase em novo fôlego: “Essa luta toda às vezes desanima, mas a gente vai sobrevivendo como dá. Mãe tem que dar exemplo. O que posso fazer, eu faço”. Grata, Ana Carolina ressalta que, com a proposta do padrinho de bancar a escolinha, o comportamento de Igor é uma preocupação a menos. Desde então, o garoto vive para o futebol e para os estudos.

ESTUDOS Ana Carolina diz não depositar a sorte da família nos pés do pequeno. “Não gosto de futebol. É uma ilusão. É um sonho dele. Ele sabe que se quiser ser alguém na vida, um bombeiro, um policial, vai ter que estudar muito. Por isso, não abro mão dos estudos.”

No campo, Igor recolhe a bola. De chinelos cor-de-rosa, calça jeans desbotada e mãos tímidas no colo, a mãe alegra-se ao ver o atacante aproximar-se feliz abraçado à melhor amiga: a bola.