Futebol Nacional
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Bandeiras unidas contra a homofobia

Torcedores de Atlético, Cruzeiro, Palmeiras, Corinthians, Grêmio e Internacional se mobilizam no Facebook contra a discriminação entre as torcidas nos estádios brasileiros

postado em 13/04/2013 10:12 / atualizado em 13/04/2013 10:14

A luta pela igualdade chegou às arquibancadas. O campo ainda é virtual, mas se depender da vontade e determinação dos criadores das páginas de Atlético, Cruzeiro, Palmeiras e Corinthians no Facebook contra toda sorte de discriminação, a batalha contra a intolerância logo chegará aos estádios de futebol.

A iniciativa partiu de uma estudante universitária mineira, que prefere não se identificar. “Sou atleticana e gosto de futebol desde criança. Morei mais de um ano no exterior, onde me envolvi com estudos de gênero e da teoria feminista. Quando voltei ao Brasil e ao estádio, fiquei atônita com a naturalidade e a naturalização da homofobia. Senti um incômodo e uma urgência de fazer algo”.

Ela criou a página intitulada Galo Queer na terça-feira, dia em que o músico Henrique Portugal levantou a discussão contra o preconceito na coluna “Da Arquibancada”, no Estado de Minas. A ideia logo foi encampada por outros atleticanos e hoje um grupo responde pela página. “Ela deu o pontapé inicial e vários torcedores identificados com a causa se somaram para ajudar. Somos atleticanos e atleticanas, de idade diversa e orientação sexual diversa”, disse um dos mantenedores da Galo Queer, que prefere o anonimato.

Na esteira da repercussão da página atleticana, surgiu a Cruzeiro Anti-homofobia, criada pela estudante de direito Bruna Cardozo, de 26 anos, que mora em BH. “Com as declarações polêmicas de pastores famosos como o Marco Feliciano e o Silas Malafaia e tendo em vista o preconceito no futebol, se mostrou necessária a criação de um canal que lute contra isso também no esporte”, conta.

Há correntes favoráveis e contrárias à iniciativa, o que não desanima os fundadores da Galo Queer: “Tem prevalecido a opinião das pessoas progressistas, de bom senso, apesar do grande volume de opiniões conservadoras, homofóbicas, machistas, sexistas. O teor violento assusta em determinados momentos, mas acaba servindo de combustível para nossa luta. Queremos tornar o meio do futebol um ambiente verdadeiramente democrático, popular e sem discriminações”. Para reforçar esse caráter democrático, ontem à noite eles colocaram em votação dois modelos de logomarca, já que a proposta inicial foi rejeitada por muitos internautas, por alterar o escudo original, com as cores do movimento LGBT no lugar das listras alvinegras.

Sobre as manifestações da torcida, a cruzeirense Bruna completa: “Os mais conservadores tendem a ser até mais agressivos na forma de expressar a sua opinião contrária, ora porque são contra o movimento, ora por medo de a página ser motivo de piadas preconceituosas de rivais. Nosso objetivo é mostrar que a orientação sexual diferente não é mais motivo de ofensa ou xingamento”.

PELO BRASIL

O movimento ganhou ainda mais força quando torcedores de Corinthians, Palmeiras, Grêmio e Internacional decidiram aderir a ele. A potiguar Ligyane Tavares, de 28 anos, estudante de publicidade, criou a página Palmeiras Livre . “A iniciativa foi minha e a motivação é a luta pelos direitos de igualdade das mulheres, negros e homossexuais, que já faze parte da minha luta diária como feminista. Tudo que nasce dentro das mídias ganha uma proporção gigantesca, ainda mais sendo uma causa que está atrelada ao momento crítico que vivemos de luta por igualdade.”

Já a Corinthians Livre foi levada ao ar pelo engenheiro Alexandre Ferreira, morador de Campinas. “Queremos mostrar para todos que podemos torcer para qualquer time futebol independentemente da orientação sexual, e que todos devem ser respeitados. As paginas do Atlético e Cruzeiro foram pioneiras e até começamos um contato hoje (ontem) a respeito de novas ideias”, disse, mostrando que o grupo está se mobilizando.

A Galo Queer confirma: “Pensamos em levar essa luta para os estádios, sim, mas ainda não é o momento e nem queremos provocar um clima de incitação ao ódio. Quando formos, será algo muito bem organizado para evitar problemas”.

DA ARQUIBANCADA
Em sua coluna de terça-feira, Henrique Portugal levantou a discussão sobre o preconceito no futebol.
Henrique Portugal


“Sei que serei criticado por diversos torcedores, mas, como cruzeirense, acho uma mania muito chata que, nas resenhas, sempre que nossos rivais perdem a razão, vêm com a história de que somos as Marias. (…) sei que não sou a pessoa que mudará essa cultura popular, mas, devido às mudanças sociais nos últimos anos, esse tipo de atitude, por lei, já é considerada preconceito.”

“No Brasil a cor rosa é sinônimo de feminilidade, e o Atlético criou uma camisa dessa cor para seus torcedores. Logicamente que a criação desse uniforme foi motivo de polêmica e acabou dando origem ao apelido de Rosanas, como resposta às Marias.”

“Existem algumas op
ções pessoais sobre as quais não cabem discussão, e sim convivência: religião, política, time de futebol e orientação sexual.”