O técnico Lisca, do América, é um dos principais personagens do futebol brasileiro. Recentemente, o gaúcho se envolveu em polêmicas nos clássicos contra o Cruzeiro e agitou os bastidores do futebol mineiro com suas declarações. Nesta segunda-feira (10), a postura do treinador virou tema de um debate sobre os ‘prós e contras’ de seu trabalho, no SporTV.
Na partida de ida da semifinal do Campeonato Mineiro, contra o Cruzeiro, Lisca foi pivô de grande polêmica. O técnico do Coelho disse ter sido provocado por atletas da equipe rival no gol celeste, e fez o mesmo nos tentos que marcaram a virada de seu time por 2 a 1. Ele encarou o banco de reservas da Raposa e chegou até a discutir com o goleiro Fábio durante o jogo: ‘Se ninguém te tira do gol do Cruzeiro, eu vou tirar’. Lisca fez gestos com a mão, insinuando que o arqueiro celeste ‘fala muito’.
Após eliminar a Raposa no último domingo (9), com nova vitória, por 3 a 1, no Independência, o técnico do América foi flagrado no vestiário do time alviverde aos dizeres: ‘1, 2, 3, o Conceição é meu freguês’. Em entrevista à Rádio Grenal, o treinador ressaltou que a fala teve tom de brincadeira e, em nenhum momento, teve a intenção de provocar o comandante do rival celeste.
Nos últimos meses, nas mesas esportivas, muito se debateu sobre o fato de Lisca ter abandonado o rótulo de ‘doido’, que antes o perseguia. O gaúcho conseguiu trazer os holofotes para o seu trabalho pelos bons resultados no América, especialmente pela histórica campanha na última edição da Copa do Brasil.
As últimas atitudes de Lisca, no entanto, fazem os rótulos voltarem a rondá-lo? Essa postura ofusca o bom profissional por trás do personagem? Essas questões viraram tema de um extenso debate no programa Seleção SporTV desta segunda-feira (10). Veja, a seguir, os principais trechos do diálogo.
Paulo Nunes
“O trabalho do Lisca, para mim, é impressionante. Dentro do campo, o trabalho dele é perfeito. A capacidade que ele tem de envolver os seus jogadores, de tirar aquilo que o jogador pode dar de melhor. Às vezes, mexer com o brio do atleta. Eu acho isso importantíssimo para um treinador”.
André Rizek
O apresentador do Seleção SporTV salientou sua simpatia por Muhammad Ali, ex-boxeador, conhecido por grandes resultados no esporte e também pelas provocações. Na visão de Rizek, personagens como Ali e Lisca engrandecem o futebol como ‘espetáculo’.
“Meu grande ídolo no esporte é o Muhammad Ali. Além de ser o Pelé do boxe, o maior provocador que o esporte já viu. Provocava todos os seus rivais e pagava um preço alto por isso também, porque despertou o ódio de muitos dos seus rivais e tinha que comprovar no ringue. Portanto, eu não posso ser incoerente com os valores que eu acho legal do esporte. Vejo o esporte também como uma atração. Não é só um jogo, uma luta, uma corrida - é uma atração”.
“Personagens como o Lisca, no meu entendimento, desde que não seja algo forçado, alguém que crie um personagem que não é espontâneo - o Lisca é assim -, acho que acrescentam muito, muito mesmo, ao espetáculo, ao entretenimento do futebol. Eu acho o maior barato. Agora, eu sei que o Lisca, ao provocar, também paga um preço, fica exposto. Tem que se garantir. Provocou, depois se garante”.
Luís Roberto
Perguntado sobre o assunto, o narrador rasgou elogios ao América e ao técnico Lisca. Na visão de Luís Roberto, a postura do treinador é ‘encantadora’ e amplia ainda mais os holofotes sobre o clube mineiro.
“Eu acho bem legal a gente falar do ‘pacotão Lisca’. ‘Tamo Liscado!’, para plagiar o Gil do Vigor, do nosso BBB. O caso é o seguinte, Rizek: eu estou com você. Acho o Lisca um grande personagem. Acho que, no caso do América, que tem uma torcida pequenininha, e o torcedor do América pode ficar bravo comigo, mas hoje em dia é uma torcida pequenininha, mas é um clube que está se mostrando muito organizado. Um clube que busca recursos, consegue sobreviver num conflito pelo mercado com dois gigantes (Atlético e Cruzeiro). São gigantes independentemente do momento do Cruzeiro. Então, o América tem muito mérito”.
“Eu acho que para o América, o Lisca desse jeito, está contribuindo. É legal! Ajuda! Bota a cabeça de fora e fala: ‘Nós estamos aqui e não é por acaso’. Foi assim na temporada passada, de forma brilhante na Copa do Brasil - os confrontos contra o Internacional foram épicos, na minha opinião. Acho que o Lisca é um grande treinador, acho que ele terá dimensão, dependendo do clube para o qual ele for trabalhar, como se comportar, como usar esse lado dele que é poderoso. Ele faz esses movimentos porque ele tem esse carisma. Não é forçado, é o Lisca!”.
André Rizek
Carlos Eduardo Lino
Questionado sobre o tema, Lino foi enfático e disse não ter visto problemas na atitude de Lisca com Felipe Conceição. O comentarista também saiu em defesa dos profissionais do grupo Globo, que fizeram a filmagem do momento em que o treinador realizava a brincadeira.
“Só acho que não aconteceu nada de errado. Acho que o Lisca fez uma brincadeira normal. Acho que a nossa função também é fugir um pouco das luzes da ribalta, descobrir um pouco do que acontece nos bastidores. O trabalho jornalístico é perfeito. A gente tem que investigar, e cada um que assuma as consequências daquilo que disser. Nossa função é tentar encontrar não só versões oficiais, mas descobrir o que acontece em bastidores também. E também acho que ele não falou nada demais. Foi uma brincadeira que vai ficar no lugar dela. Não achei ofensiva também não”.
André Rizek
“Dando o peso certo a isso: é futebol, gente. Uma coisa é o Presidente da República ofender uma nação soberana, que está nos fornecendo insumos para a vacina, por exemplo. Isso é uma coisa extremamente grave. A outra é um técnico tirar uma onda com quem ele derrotou três vezes num campeonato estadual. Vamos dar o devido peso a que esse assunto merece”.