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Vendedora de moedas comemorativas é assediada por torcedor em jogo do Cruzeiro

Caso ocorreu durante jogo entre Cruzeiro e La U, pela Libertadores

postado em 28/04/2018 19:00 / atualizado em 28/04/2018 19:16

Mineirão/divulgação
A noite de quinta-feira, 26 de abril, não foi só de festa no Mineirão com a vitória do Cruzeiro sobre a Universidad de Chile, por 7 a 0, pela Copa Libertadores. Enquanto trabalhava, a jovem Dayane Stephanie, de 21 anos, foi assediada por um torcedor celeste. Ela vendia moedas comemorativas do jogo na área dos bares, no setor Amarelo Superior

No momento em que o árbitro marcou o pênalti a favor do Cruzeiro e Sassá converteu o terceiro gol, a jovem foi agarrada por um homem, que aparentava ter entre 30 a 40 anos. Ele a pegou pelo pescoço. Um casal presente no local a ajudou a se esquivar do agressor. 

A reportagem do Superesportes estava presente e percebeu que, antes mesmo de ser atacada, Dayane se mostrava muito incomodada com a abordagem do torcedor cruzeirense.

"Eu o abordei oferecendo a moeda, ele me perguntou valor e começou a fazer gracinhas, pedindo meu número e eu fui educada dizendo que não. Ele me pediu um beijo e eu também neguei", disse. "Foi horrível, eu fiquei super desconfortável. Ainda mais que estava trabalhando e não podia xingar, ser grossa", destacou Dayane.

O comerciante Henrique Machado, de 25 anos, foi uma das pessoas que ajudou Dayane Stephanie durante o assédio. Ele conta que escutou o homem planejando o contato físico com a jovem. "Antes de o Sassá bater o pênalti, ele disse para os amigos dele que, se fosse gol, beijaria a menina", relata. 

Após ser atacada, Dayane se queixou de dores no pescoço e ficou muito abalada. "Eu fiquei sem reação, muito assustada, paralisada. Tive que ficar por lá um tempo para me 'recuperar', aos poucos. Foi uma situação estranha. Às vezes, quando acontece com outra pessoa, a gente pensa que agiria de uma forma, reagiria, mas não é assim. Infelizmente", relatou.

O agressor ainda procurou Dayane na sequência para se desculpar e se justificou dizendo que sua atitude teria sido provocada pela "empolgação do gol". "Quando ele me pediu desculpas, eu novamente fiquei sem reação. Só consegui chorar. Mas queria muito xingar ele, mas nem reação pra isso eu tive". 

Em dias de jogos do Cruzeiro na Copa Libertadores, as moedas comemorativas são vendidas por duplas, geralmente formadas por um homem e uma mulher. Mas, no momento do assédio violento, Dayane estava sozinha.

"Antes de começarmos a trabalhar, eles instruíram que ficaria sempre um homem e uma mulher na comercialização, justamente por conta do assédio dos rapazes. Tem gente que não tem noção", explicou Dayane Stephanie à reportagem.

"Já fiz várias ações desse tipo, não só no Mineirão, e nunca aconteceu de alguém me agarrar, como ocorreu no jogo entre Cruzeiro e Universidad de Chile. Depois desse caso, eu só conseguia pensar no que eu estava fazendo lá, com vontade de ir embora e que queria minha mãe". A jovem contou que sequer teve estrutura emocional para procurar a segurança privada ou a delegacia do Mineirão para prestar uma queixa contra o agressor. "Eu até pensei em procurar um segurança, mas não procurei porque eu sabia que não ia dar nada. Nunca dá". 

O assédio a Dayane Stephanie vem à tona justamente em meio à campanha #DeixaElaTrabalhar, encabeçada por jornalistas esportivas, contra o assédio e machismo nos estádios de futebol e outros ambientes. A ação começou após a repórter Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, ter sido beijada à força por um torcedor durante uma transmissão ao vivo, no jogo do Vasco contra a Universidad de Chile, também válido pela Libertadores. 

O assessor de imprensa da Minas Arena – administradora do Mineirão -, Rivelle Nunes, disse que o assédio a Dayane não chegou ao conhecimento da administração por meio da segurança privada ou da polícia, apenas por meio da reportagem. "Nós, inclusive, incentivamos que as mulheres denunciem e quebrem o silêncio sobre essas situações completamente inaceitáveis", declarou. Ele alertou que, em casos similares, mulheres podem procurar a segurança imediatamente. O estádio é monitorado por câmeras, o que pode ajudar na identificação dos agressores.

Nos últimos jogos, o Mineirão vem promovendo várias campanhas contra o assédio às mulheres. Além de expor a hashtag #DeixaElaTrabalhar na tribuna de imprensa e no telão, a operadora do estádio cedeu ingressos para torcedoras em parceria com o Cruzeiro. "As campanhas em prol da equidade entre os gêneros no estádio são perenes. Não só contra o assédio à mulher, mas também em prol do público LGBT”, disse Rivelle Nunes.

Episódio não foi o primeiro 

Na final do Campeonato Mineiro, entre Cruzeiro e Atlético, a torcedora cruzeirense . Renata Teixeira Gama, de 25 anos, também foi vítima de assédio na arquibancada. Ela estava acompanhada de amigas no setor Inferior Roxo. À reportagem, ela relatou que foi  agarrada por um torcedor, que tentou beijá-la "de todas as formas". "Na hora, fiquei muito assustada, minhas amigas também. E nos afastamos. Eles me ofereceram para fazer o boletim de ocorrência mas, por medo, não quis fazer". O receio se deve ao fato de que, em todos os jogos do Cruzeiro, ele ocupa o mesmo espaço no estádio. Renata publicou a agressão em seu Facebook.


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