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Críticas a Itair e Perrella, dívidas do clube, vida fora do Cruzeiro: Gilvan abre o jogo seis meses após deixar a presidência

Ex-presidente Gilvan Tavares concedeu entrevista exclusiva ao Superesportes

postado em 26/06/2018 14:44 / atualizado em 27/06/2018 10:09

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Seis meses após deixar o comando do Cruzeiro, o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares tenta retomar a sua rotina normal. Aos poucos, vai se readaptando à advocacia. Mas, segundo ele, não faltam convites para entrar na vida pública. Gilvan, contudo, descarta seguir a carreira política. Agora, ele quer aproveitar a família. Apesar disso, não foge dos assuntos espinhosos e garante permanecer ativo no clube. Em entrevista exclusiva ao Superesportes, o ex-presidente da Raposa fez críticas duras ao atual vice de futebol, Itair Machado, e ao presidente do Conselho Deliberativo, Zezé Perrella. Além disso, buscou explicar as dívidas deixadas por sua gestão e falou sobre o legado de títulos conquistados.

Seis meses afastado do Cruzeiro, como o senhor está levando a vida, o que tem feito neste tempo?

Um clube como o Cruzeiro toma nosso tempo todo. A vida fica dedicada ao clube para fazer com que as coisa andem bem. E isso acaba com sua vida particular. Sou advogado, tinha escritório de advocacia com grande clientela e tive que acabar com a clientela para me dedicar integralmente ao Cruzeiro. Estou refazendo minha vida na advocacia. Estou voltando à advocacia, vendo se encontro outros caminhos. Voltar ao Cruzeiro nunca mais, não dá para você voltar a exercer o cargo de presidente do clube novamente.

O senhor saiu magoado do Cruzeiro?

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Não saí magoado. A vida dentro do futebol é assim mesmo, não tem porque achar que seria diferente, não tenho mágoa nenhuma. Sei que o reconhecimento vem depois, isso que está acontecendo no Cruzeiro é ranço político. Quem perdeu está levando isso para ver se desconstrói a imagem que eu deixei no clube. Imagem vencedora. Cruzeiro ganhou quatro títulos brasileiros na história. Primeiro 1966, com Felício Brandi. O segundo na era Perrella, que ficou anos à frente do clube, foi no período do Alvimar ainda (2003). Eu, em pouco tempo, ganhei dois. Nosso maior adversário tem na história um Campeonato Brasileiro. Isso dói nos adversários políticos que tentam voltar e não tiveram êxito [crítica implícita ao ex-presidente Zezé Perrella]. Achei que não era momento de alguns deles voltarem, porque sei que usam o clube como trampolim político. Lutei contra uso político do Cruzeiro e isso magoou muitos adversários. Foi uma vingança política. Sei que a torcida vai saber distinguir isso depois.

Mas não foram apenas os adversários políticos que reclamaram da sua gestão. Itair Machado, da chapa vencedora apoiada pelo senhor, reclamou que a sua administração deixou o Cruzeiro  devendo seis meses de direitos de imagem e três de salários. E que os jogadores não queriam nem se reapresentar. Qual a sua posição sobre o assunto?

Quem é Itair Machado na vida do Cruzeiro? Nunca existiu. Não tem passado, chegou ontem. Era um sujeito que durante a campanha ficava me amolando, dizendo que eu era a única pessoa que poderia vencer os Perrellas dentro do Cruzeiro. Quando eleito, ele tomou ódio de mim porque combati ele dizendo que era absurdo colocar pessoa estranha em detrimento de pessoas com serviço prestado dentro do clube. Ele tomou ojeriza de mim, combati a presença dele dentro do Cruzeiro. Entendo essas questões políticas. Mas ele vai ser esquecido, enquanto serei lembrado. Repito: quem foi Itair? Foi dono de um clube de futebol, não tinha diretoria, quem mandava era ele, fazia o que queria. O Ipatinga foi grande porque os jogadores eram do Cruzeiro. Depois caíram para a Segunda Divisão do mineiro e nunca mais voltaram. Ninguém dá noticia do Ipatinga.

Mas procede a reclamação de salários atrasados?

O que não foi pago na nossa gestão foi o prêmio da Copa do Brasil. Isso, normalmente, a gente chama os jogadores e negocia depois. Eles [atual diretoria] acharam um absurdo, queria que a gente pagasse. Mas agora parcelaram e estão pagando essa dívida. Mas não deixamos nenhum direito de imagem atrasado, já que pouca coisa é direito de imagem. A maioria da folha do Cruzeiro é na carteira. Não estava atrasado. 

Nota da redação: a reportagem também conversou com o ex-diretor financeiro do Cruzeiro, José Ramos. Segundo ele, a folha de dezembro, que vence em janeiro, e o 13º salário ficaram para pagamento da diretoria que assumiu no início de 2018. Ainda de acordo com ele, a gestão Gilvan adiantou 12% da receita de televisão no ano passado para fechar as contas. Sobraram 18% para antecipação – legislação permite 30% de adiantamento da TV -, que foram feitos pela atual diretoria para pagar parte dos salários no início do ano. Ele também nega atrasos em direitos de imagem.

A dívida do Cruzeiro cresceu na sua gestão. Como o senhor explica isso?

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
É preciso fazer uma análise do que aconteceu no Cruzeiro. Aumentou o crescimento da dívida, mas aumentou a arrecadação também. Passamos a arrecadar como os grande clubes brasileiros. Eles deixam de contabilizar o elenco que deixei para eles. Sei que o Lyon pode oferecer uma fortuna e eles não estão querendo vender o Dedé. Na época que contratei ele, muita gente achou um absurdo, passou o momento difícil de lesões e agora está mostrando o nosso acerto. Na minha opinião, é o melhor zagueiro do Brasil. E deixei um elenco de primeira linha: tem Thiago Neves, um craque, tem o Murilo, zagueiro de futuro, tem o Raniel que pode valorizar muito, jogador de potencial, jovem; Arrascaeta, jogador de Copa do Mundo. Se vendesse alguns desses jogadores, eles pagariam as contas. Mas eles queriam os jogadores e dinheiro em caixa para contratar. Pegaram R$ 50 milhões emprestados para isso. E todos os jogadores contratados pelo Itair são reservas. O time campeão mineiro quem montou foi a nossa gestão. Os jogadores do Itair estão sem jogar, estão no banco, no departamento médico. Contrataram o Fred, que não precisava contratar, temos outros bons atacantes, agora o Cruzeiro pode pagar um valor milionário ao Atlético, que queria se livrar dele, jogador caro. E o Cruzeiro foi irresponsável, cometeu erro primário.

A gestão do senhor é investigada pelo Conselho. Há algum temor?

Não sou eu que faço cálculos do balanço, quem faz isso é o contábil do clube, tem auditoria independente e o Conselho Fiscal. O Conselho Fiscal pauta as contas do clube e, neste trabalho do Conselho, soltam relatórios, está tudo contabilizado. Essa diretoria insiste que a nossa gestão deixou o clube endividado. É simples de entender, fizeram críticas das contas, mas não trazem a público. Disseram que o Cruzeiro tinha R$ 50 milhões de dívida na Fifa.  Agora, ouvi o Itair dizendo que são R$ 90 milhões. Quando for apurado, vai ver que este sujeito é mentiroso. Está faltando com a verdade. Disse que tem um clube do México que quer o Caicedo. É um dos que está com dívida. Então mostra competência, vende e acaba com a dívida. A situação do Ábila já foi acertada, assim como aconteceu com o Riascos. E dizem que tem mais dívida. Então, mostra. Outra crítica que fizeram é que as contas não estavam corretas porque tinha dívida com a Minas Arenas. Foi dito pela contabilidade para não colocar porque era uma discussão jurídica. Mas ninguém quer tapar as contas, existe oportunidade de pagar. A Minas Arena sempre foi parceira, é preciso acertar, mas não tratam isso desta forma. Mas quando abrirem as portas do Conselho vamos colocar isso em pratos limpos.

Já não era momento de o Conselho estar agindo de forma mais ativa?

O Conselho tem muita gente boa, muita gente interessada. Mas quem esta à frente do Conselho [Zezé Perrella é o presidente] é uma pessoa que não tem tempo, tem cargo público. Espero que o Conselheiro comece a se reunir logo.


O senhor se arrepende de alguma decisão da sua gestão?

Não faria nada de diferente. Só me arrependo de apoiar esta diretoria que me traiu. Tudo que foi acertado com eles, e os conselheiros sabem disso, aqueles que sempre ajudaram, foi cumprido da minha parte. Os conselheiros ilustres tinham pavor que o Itair assumisse o Cruzeiro. Então, convocamos o Wagner Pires de Sá para ouvir dele. Eu disse que se fosse para colocar o Itair, não apoiaria. Todos os conselheiros me ouviam e apoiaram o Wagner.  Ele mudou a posição e colocou o Itair.

Esperava outra postura do Wagner?

Até hoje não entendi porque ele passou a ser cordeiro do Itair. Não entendi porque ele entregou a administração nas mãos do Itair, porque é isso que parece. É o Itair quem se posiciona. Hoje, é ele quem fala e quem manda no Cruzeiro.

Como o senhor tem recebido as acusações dos opositores?

Evidentemente isso machuca, dói na gente. Mas basta olhar quem faz as acusações. O sujeito se achava dono do Cruzeiro [Zezé Perrella], perdeu feio, não teve coragem de se candidatar porque colocaram o nome dele em faixas na rua, o nome dele estava envolvido em um caso de uma operação da polícia, ele diz que não tem culpa em nada. Mas ele perdeu a eleição e fica com ranço, raiva, ódio. O Itair eu já falei. Até pela minha idade, não tenho mais condições de debater com pessoa que não tem eira nem beira. Ele surgiu agora no Cruzeiro. Nunca tinha estado no Cruzeiro...

Beto Novaes/EM/D.A Press


O senhor foi cogitado para se candidatar a algum cargo político?

Estão em cima de mim. Mas não quero entrar. Vou cuidar da minha vida, até pela idade. A gente está preocupado com o que acontece no país, não anda bem, está na hora de outras pessoas assumirem essa luta. Estou atento, acompanhando e eu tomei tanta ojeriza...

Tem alguma posição para a próxima eleição?

Infelizmente não tem candidato. Tem um sujeito com passado limpo, ex-governador do Paraná, o Álvaro Dias, a gente consegue enxergar a figura dele uma mudança. Hoje, o Brasil é um pais entregue às moscas, endividado, últimas administrações eram de uma corrupção enorme...

Está acompanhando futebol?

Estou assistindo a todos os jogos do Cruzeiro. Minha história no Cruzeiro é antiga e vai continuar. Agora estou vendo a Copa do Mundo. O nível caiu muito este ano. Seleções que antes encantavam o mundo não estão com este futebol todo. Futebol brasileiro também não está encantando. O Douglas Costa surgiu muito bem, tirou o Brasil do risco contra a Costa Rica, mudou o jogo e não vai mais poder jogar. A gente espera que a má fase seja um problema temporário, que o Neymar volta a jogar. São poucos jogadores que estão encantando a gente.

Quem você destacaria da Copa?

James Rodríguez, da Colômbia, é o jogador que mais me encanta. A seleção dele não era uma das melhores. Na última partida da Colômbia contra a Polônia, eles deram um show de futebol. Se eles jogarem assim, ninguém ganha da Colômbia. Estou gostando também daquele atacante da Bélgica... o Lukaku joga demais, tem categoria de fazer gols. Aquele que joga no Barcelona também. Não, ele joga no Real Madrid. O Modric está jogando muito. Cristiano Ronaldo também está fazendo os gols, se sobressaindo.

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