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Abel Braga cita sentimento de 'dívida' e quebra 'regra particular' para ajudar Cruzeiro a permanecer na elite do Brasileiro

Técnico foi apresentado pelo clube na tarde deste sábado, na Toca II

postado em 28/09/2019 15:50 / atualizado em 28/09/2019 19:49

<i>(Foto: Alexandre Guzanshe/EM D.A Press)</i>
Um dos motivos que levaram Abel Braga a aceitar o convite para treinar o Cruzeiro foi o sentimento de “dívida” dele com o clube. Em 1981, o então zagueiro deixou o Paris Saint-Germain, da França, para retornar ao Brasil. E o clube celeste lhe abriu as portas. Em quase dois anos, o defensor disputou 29 partidas e marcou três gols - um deles ajudou a equipe a permanecer na elite, na vitória por 1 a 0 sobre a Desportiva-ES, pela Taça de Ouro (equivalente à primeira divisão nacional). Mais de 37 anos depois, como técnico, Abelão recebe a missão de tirar a Raposa da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.

“Estou extremamente contente. Muitos de vocês não eram nascidos. Eu, depois de dois anos de Paris Saint-Germain, tive uma contusão e quis regressar ao Brasil. E o Cruzeiro abriu as portas para mim. A maioria de vocês não era nascido porque foi em 1981. E sempre ficou essa dívida, sempre ficou a vontade. Vontade essa que, por três vezes, não se concretizou”, frisou o técnico de 67 anos, lembrando, em seguida, que o ex-diretor de futebol Eduardo Maluf, falecido em 2017, foi o responsável por intermediar os contatos.

“Quem me convidou as três vezes foi o Maluf, o saudoso Maluf (Eduardo Maluf, diretor de futebol do Cruzeiro de 2001 a 2010). É como se eu estivesse pagando alguma coisa. Mas não quero pagar com gratidão e sim com resultados. Sei exatamente o peso da camisa do Cruzeiro, sei medir o tamanho do clube e sei medir exatamente a capacidade individual de cada um. É um momento importante para mim, é um momento importante para a equipe, porque todos nós estamos carregando um peso muito grande pela posição que não condiz com o tamanho de tudo isso”.


Ao assinar com o Cruzeiro até dezembro de 2020, num contrato sem multa rescisória
, Abel quebrou uma regra particular de não assumir equipes no decorrer da temporada. Tanto que nos últimos anos, o treinador trabalhou em apenas quatro clubes.

“É de, de repente, encontrar novamente essa adrenalina, tendo consciência de que eu poderia ajudá-los. Alguma coisa, obviamente, está se passando. Eu quebrei uma regra minha, vocês sabem que nunca peguei trabalho no meio. Se você analisar meus últimos 15 anos, eu passei por seis ou cinco clubes. Em 2004 começou no Flamengo. Foram duas vezes no Flamengo, três vezes no Fluminense, duas vezes no Inter, duas no Al Jazira”.

Para o novo comandante, os adversários têm de temer o Cruzeiro nas partidas no Mineirão.

“Eu sei bem. Eu nunca vim jogar tranquilo no Mineirão contra o Cruzeiro. E não quero, sinceramente, que o adversário venha enfrentar o Cruzeiro com tranquilidade. Não pode. Sabendo exatamente o tamanho disso tudo, passa pela capacidade dos jogadores. Eu confio, eu tenho admiração, alguns já trabalharam comigo, já conhecem minha maneira de ser”.


Abel ainda disse que o trabalho no Cruzeiro começará do zero e pediu o apoio dos torcedores.

“É um recomeço. O começo foi lá em janeiro, uma pessoa que conquistou muitas coisas aqui, com muita competência, que foi o Mano. Depois veio o Rogério. Agora é o terceiro começo do ano. O torcedor tem que apoiar. Ele apoiando, vai tirar um peso, vai tirar o lado emocional, o estresse. Primeiramente, é tentar detectar: o que está acontecendo? Se descobrirmos isso rapidamente, é tentar, cada vez mais, aumentar o coletivo da equipe e trazer o torcedor de volta para nos dar confiança”.

Caso tenha o contrato registrado no Boletim Informativo Diário da CBF na segunda-feira, data da partida contra o Goiás, Abel Braga poderá dirigir o Cruzeiro no Serra Dourada. O jogo pela 21ª rodada do Campeonato Brasileiro está marcado para 20h.

Na última quarta-feira, com o empate por 0 a 0 diante do Ceará, no Castelão, o time celeste retornou ao Z4, em 17º lugar, com 19 pontosNa quinta-feira, a diretoria optou pela demissão do técnico Rogério Ceni, que enfrentou problemas de relacionamento com alguns jogadores.


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Relação 'olho a olho'


“Eu sou um cara que tem muita felicidade nessa relação entre comissão técnica e grupo. Tudo é muito olho no olho. Meus jogadores sabem que aqui dentro, vou falar para eles daqui a pouco, vamos olhar nos olhos deles e sempre falar a verdade. Agora, com vocês aqui, do campo para fora, eu seguro a onda”

Trabalho com veteranos


“Conhecendo exatamente o que esses camaradas têm, acho que, com todas as informações, não vou ter problema, não digo nem ganhar ao grupo, mas a me incorporar ao grupo. Problema zero. Problema maior está quando peguei o Fluminense em 2011. Ali tinham três grupos. Um de um lado, um do outro, e um neutro, que balançava para os dois lados. E você viu onde nós chegamos. Já dirigi o Vasco em 2000 com Edmundo e Romário brigados. E você não imagina o quanto aquela briga foi útil para a equipe. Eu me dei muito bem, adorei, amei trabalhar com os dois. Basta você saber e ter consciência de que o clube é maior que nós todos”.

Quebra de “regra”


“Eu sei que esse convite não veio antes porque eu tinha esse negócio comigo de não pegar trabalho no meio. Mas o mercado está louco demais, está tudo muito rápido. O cara dá treino de manhã e já tem outro dando treino à tarde. Pensei bem: ‘poxa, espera aí’. Pensei lá atrás, vi o que era o Cruzeiro, quando eu conheci a Toca I. Estive aqui no Flamengo, no jogo contra o Atlético, para treinar. Superficialmente, conheci a Toca II. E o que é mais importante: conheço os jogadores e eles me conhecem. Não apenas os que trabalharam comigo. Normalmente, a notícia corre entre eles”.

Rótulo de ‘paizão’


“Você colocou uma coisa bem clara, que sou do diálogo, mas cobro muito. Nem gosto que os caras falem ‘paizão’. ‘Paizão’ é porque defendo os jogadores. Se depois do jogo eles não estiverem deixando 10% para depois, vou morrer por eles. É muito ruim quando acaba o jogo, o jogador está tirando a chuteira e vira para o colega: ‘poxa, podia ter dado um pouquinho mais’. Mas aí acabou o jogo. Isso de mim não vai faltar. E eu estou prometendo que não vai faltar, por isso me responsabilizo em fazer esse pedido”.

Estratégia contra o Goiás


“Isso vocês vão ver. Eu não vou dizer aqui. Não vou nem abrir treino. Há jogadores que estão fora. Sabe o que acontece? Se eu tivesse quatro dias pelo menos, ia insistir em mostrar algumas coisas a eles como eu penso e vejo futebol. Mas, no fundo, independentemente de estratégia, parte tática hoje a boa é aquela que ganha. Eu gosto de três atacantes. Eu gosto de um atacante de área. Eu gosto de dois atacantes rápidos de lado. Eu tenho no Cruzeiro. Ou não tenho? Este jogo já sei que não tenho o Fred”.

Mescla de experientes e jovens


“A mescla acontece com naturalidade. Mas uma equipe é formada no campo. Para mim não importa se vai jogar uma equipe experiente ou com muitos garotos. Mas eu chego aqui hoje, eu vi um jogo. Não prestei atenção no jogo imaginando que viria treinar o Cruzeiro. É uma diferença muito grande entre ver o jogo e analisar um jogo. Mas, realmente, nesse último jogo, esse menino, o Éderson, fez um grande jogo contra o Ceará. Já fui informado pelo Itair e por pessoas da comissão que há outros bons jogadores na base. Tudo será com calma. Agora, a situação, o momento, não é ideal e nem propício ficar na dependência de que os garotos vão resolver. Tenho muita sorte em revelar jogadores, mas as coisas acontecem com naturalidade, e não colocando peso nas costas de ninguém. Hoje o Cruzeiro tem um peso nas costas pela posição que ocupa. Isso quem vai determinar é o campo”.

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