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'Bagaço' e enriquecimento no Cruzeiro: Perrella e Gilvan rebatem presidente Wagner e cobram prova de acusação

Declarações de Wagner Pires de Sá repercutem mal entre antecessores

postado em 30/09/2019 06:30 / atualizado em 30/09/2019 01:10

<i>(Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press e Beto Novaes/EM/D.A Press)</i>
No último sábado, o presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sáafirmou durante feijoada no Parque Esportivo do Barro Preto, em Belo Horizonte, que a maioria dos seus antecessores ocupou o cargo para “ficar rico”. O dirigente chegou a comparar o clube hoje a um “bagaço”. “Só eu. A maioria dos que vieram aqui vieram para ficar ricos. Eu já era rico, tô ficando pobre. A maioria deixou a mamucha (bagaço) da laranja. Sobrou pra mim”.

A declaração de Wagner Pires de Sá repercutiu mal entre seus antecessores. Ouvidos pelo Superesportes, Zezé Perrella e Gilvan de Pinho Tavares rebateram as acusações de enriquecimento às custas do clube e cobraram provas do atual mandatário.

Zezé Perrella esteve à frente do Cruzeiro em três mandatos nos períodos 1995 a 2002 e 2009 a 2011. O ex-presidente chegou a chamar Wagner de “lixo do lixo” pela postura inadequada num evento social do clube diante de conselheiros e associados.

Ele tinha que ter coragem de dar o nome (dos presidentes que enriqueceram no clube) e apresentar as provas. Ele deixou todos os ex-presidentes mal. Se ele for homem, ele tem a obrigação de dar o nome ou os nomes. Eu tenho é vergonha de ter um presidente desse. A mesma vergonha que todo cruzeirense está sentindo hoje. Bagaço da laranja? Um cara que nem foi a estádio de futebol até ser presidente, rapaz. É o lixo do lixo!”, disse Perrella.

O ex-presidente ainda questionou a afirmação de Wagner Pires de Sá de que entrou no Cruzeiro rico e que está empobrecendo. “Se você pegar a declaração de Imposto de Renda dele, você vai ver que ele nunca foi rico. Tem uma pequena participação em uma empresa. E mexia com negócio de bingo, que é ilegal”, concluiu.

Gilvan faz duras críticas a Wagner

Presidente que passou o bastão a Wagner e que até ajudou a colocá-lo no poder em 2018, Gilvan de Pinho Tavares é hoje um dos líderes da oposição e fez duras críticas ao atual mandatário. 

Tavares fez menção inicialmente à dificuldade que Wagner Pires de Sá tem de se expressar e suas rotineiras aparições em estado de embriaguez. “Eu examinei o vídeo e achei aquilo até hilário. A gente sabe da dificuldade que ele tem para se expressar, tanto que ele fala pouco, delega muito para os outros, exatamente porque não tem facilidade de se expressar. E naquele vídeo ele estava numa farra, devia ter bebido muito e acabou se expressando de forma inconveniente. Ele sabe que faltou com a verdade, porque não pegou ‘bagaço’ no Cruzeiro”.

Gilvan comandou o Cruzeiro entre 2012 e 2017. Ele negou que tenha deixado “bagaço” para o sucessor. “Ele teve nas mãos um time de futebol montado, que tinha acabado de ser campeão da Copa do Brasil (2017). Deixamos tudo pronto, tanto que esse elenco que nós deixamos acabou sendo campeão mineiro em 2018, campeão da Copa do brasil em 2018 e campeão mineiro em 2019. O mesmo time que deixei para ele. Com incompetência, eles se desfizeram de peças importantes, estão desmantelando o time, e deixando o time nessa situação de risco de rebaixamento. Ele faltou com a verdade”, acrescentou.

A afirmação de que antecessores entraram no clube para enriquecer foram rebatidas com contundência por Gilvan. Para ele, Wagner foi irresponsável e tentou manchar famílias que engrandeceram a história de 98 anos do Cruzeiro.

Falou bobagem, estava na farra, estava bebendo, e vem dizer que as pessoas que passaram pela presidência entraram no Cruzeiro para ganhar dinheiro. É uma acusação gravíssima contra gerações e gerações que fizeram o Cruzeiro ser o que é, desde Palestra Itália até os dias atuais. Todos os presidentes fizeram o Cruzeiro crescer. Ele ofendeu a família Lemos; Felício Brandi; Furletti; os irmãos Masci, os irmãos Zezé Perrella e Alvimar de Oliveira Costa. Faltou com respeito comigo. Foi grave o que ele disse, inclusive sobre minha administração. Todos engrandeceram o Cruzeiro, clube que nunca foi rebaixado e que nunca passou tanta vergonha como agora, podendo até cair para a segunda divisão em meio a esses escândalos. Tudo isso pela péssima gestão do Wagner e das pessoas que ele levou pra lá, como esse Itair, sem contar outros. Isso está deixando a torcida preocupada”.

Gilvan de Pinho Tavares chegou a desafiar Wagner e sua diretoria a apresentar declarações de Imposto de Renda. “E ele dizendo que chegou rico e que dirigentes anteriores enriqueceram às custas do Cruzeiro. Eu posso até convocá-lo, eu posso fazer isso, os presidentes anteriores também. Posso protocolar no Conselho Deliberativo as minhas declarações de Imposto de Renda de quando entrei no Cruzeiro e de quando saí. Não levei um centavo do Cruzeiro. Duvido que essa administração tenha coragem de fazer isso. A gente está vendo pela imprensa o tamanho dos salários desses dirigentes. Estão dividindo o dinheiro do Cruzeiro entre si. E o Cruzeiro com dificuldade de quitar a folha, porque dirigentes estão ganhando em dia salários maiores que muitos jogadores. E funcionários com salários atrasados, o elenco também. O Wagner fala muita bobagem, mas tem que levar em consideração que aquilo ali é uma farra, ele devia estar bebendo, devia estar bêbado”.

Pior gestão da história

Gilvan de Pinho Tavares apontou a gestão de Wagner como a pior da história do Cruzeiro. O ex-presidente citou inéditos atrasos de salários de funcionários nas sedes e dos clubes, perda do controle financeiro na gestão do futebol, aumento das dívidas, falta de crédito no mercado, denúncias graves, investigações policiais e risco de rebaixamento. Tudo isso com perspectiva de atrasar ainda mais os salários dos atletas até dezembro.

Entrei no Cruzeiro nos anos 1950 como atleta e nunca vi nada igual como essa crise de hoje. Primeiro, nunca houve uma divisão, um racha tão forte como esse. Nunca se passou tanta vergonha também. O Cruzeiro virou manchete policial, ora investigado pela Polícia Civil, ora pelo Ministério Público, ora pela Polícia Federal. O Cruzeiro saiu no Fantástico por essas denúncias graves, até de lavagem de dinheiro. Isso é um vexame nacional, uma vergonha. Enquanto isso, os dirigentes estão com esses salários enormes, estão pagando conselheiros. Estão acabando com tudo”, disparou.

“Tenho a dizer que deixei o Cruzeiro com dívidas fiscais pagas. Não antecipei cota de TV para que ele (Wagner) tivesse dinheiro para pagar salários. Eles me acusam de não ter pago o salário de dezembro de 2017), mas o salário de dezembro é pago em janeiro de 2018, quando eles já assumiram”, defendeu-se.

Você engana a muita gente durante muito tempo, mas não vai enganar a vida inteira. A torcida já sabe quem eles são. São péssimos. Não sabem mexer com futebol. Trouxeram um dirigente que estava acostumado com Ipatinga e que deixou o Ipatinga na terceira divisão. Agora quer colocar o Cruzeiro na segunda divisão".

Renúncia

Para Gilvan, o único caminho honroso para Wagner Pires de Sá, Itair Machado, Sérgio Nonato e os vice-presidentes seria a renúncia. “A única saída deles, hoje, é a renúncia. Do contrário, vão cair de podre. Vai ser ruim demais ver essa gente que nunca fez nada pelo Cruzeiro deixar o Cruzeiro na segunda divisão. A renúncia seria uma saída até honrosa”.

“Não acho que vão fazer isso, mas seria uma grande solução. Mas eles têm que saber o que é melhor para eles. Dói na gente ver o clube passar por essa situação, e eles fazendo farra, bebendo, comendo feijoada, tudo certamente na base do 0800. Ora é feijoada, ora é caldo para ver se agradam os outros. Isso é uma vergonha”, concluiu.

Outros ex-presidentes

Nesse domingo à noite, a reportagem também tentou ouvir os ex-presidentes José Francisco Lemos Filho (1954), César Masci (1991-1994) e Alvimar de Oliveira Costa (2003-2008) sobre a afirmação de Wagner Pires de Sá, mas não conseguiu contato. Os outros homens que ocuparam a cadeira de presidente no clube já faleceram.

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