Cruzeiro
None

CRUZEIRO

Eleição do Conselho: Paulo Pedrosa fala de contas do Cruzeiro, mudança de Estatuto, declaração polêmica e expulsão de associados

Série do Superesportes entrevista os quatro candidatos à presidência do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, marcada para 21 de maio

postado em 05/05/2020 06:00 / atualizado em 05/05/2020 17:29

(Foto: Reprodução)
Primeiro candidato a registrar chapa para as eleições do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Paulo Pedrosa abre a série do Superesportes que entrevistará os postulantes ao cargo. Até sexta-feira, serão ouvidos, nesta ordem, Paulo Sifuentes, Luiz Carlos Rodrigues e Giovanni Baroni. Os candidatos responderão questionamentos fixos - feitos a todos eles - e também os específicos, direcionados de acordo com suas trajetórias no clube. 

Além disso, o Superesportes abriu espaço para o torcedor. Colunista do Estado de Minas, Gustavo Nolasco ficou responsável por representar as arquibancadas nas entrevistas com os candidatos à presidência do Conselho. Ele propôs dois questionamentos a cada um dos quatro candidatos.

Nesta entrevista, Paulo César Pedrosa, atual presidente do Conselho Fiscal, revela os planos de gestão caso seja eleito presidente do Conselho Deliberativo. Ele também analisa as contas do Cruzeiro, a utilização dos cartões corporativos pela direção executiva, a mudança de Estatuto e relembra a declaração polêmica, dada em 2019, de que tinha “certeza da inocência” dos diretores da administração do ex-presidente Wagner Pires de Sá. 

Leia, na íntegra, a entrevista com Paulo César Pedrosa:

Gostaria, inicialmente, que o senhor se apresentasse rapidamente ao torcedor. Principais funções exercidas ao longo da carreira e breve histórico no Cruzeiro.

A minha história com o Cruzeiro é muito legal. Estudei na escola Caetano Azeredo, nos anos 60, e frequentava o Barro Preto. Sou sócio do Cruzeiro há 39 anos, conselheiro suplente, efetivo e nato há mais de 25 anos. Quando me filiei ao Cruzeiro, nos anos 80, eu frequentava a Sede Campestre, na Pampulha. Depois eu me mudei para Rio Acima, fiquei mais perto do Centro, morava no Prado, Gutierrez, Teresa Cristina, e passei a frequentar o Barro Preto nos anos 90. Moro em Belo Horizonte e em Rio Acima. Sempre fui torcedor de arquibancada, frequentei o Mineirão a vida toda. Estou na presidencial do Conselho Fiscal. 

Na vida profissional, sou pequeno comerciante. Estou na presidência do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares de Belo Horizonte e Região Metropolitana, e também na presidência da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares de Minas Gerais, todas as duas entidades sindicais e patronais. E em nível de Brasil, estou na vice-presidência da CNTUR. 

O senhor pode garantir que colocará um novo estatuto para votação ao Conselho Deliberativo, caso eleito, até 31 de dezembro? 

Essa é a pergunta mais importante, que tanto torcida quanto conselheiros fazem. Prioridade número um a reforma estatutária. Prioridade número um a reforma estatutária. Adequação, modernização, enxugar. O Estatuto confere ao presidente poderes muito grandes. Precisamos cortar privilégios, poderes, cortar cartão corporativo. É bom a torcida ficar sabendo que, no Conselho ninguém é remunerado. Não tem cartão corporativo nem nada. Eu vou fazer em seis meses, porque o sétimo vai ser só a outra eleição. Meu objetivo é ter novo estatuto até setembro. 

Há uma demanda antiga do torcedor por mais democracia no clube, voto para sócio-torcedor. O senhor pode prometer que vai propor isso ao Conselho no novo estatuto?

Vamos obedecer o que o Estatuto mandar. Não vamos fugir da lei. O que a Assembleia aprovar, vamos cumprir. Agora, temos um prazo mínimo de dois anos para você pleitear (a vaga) de conselheiro suplente, efetivo, você tem nove anos, hoje, para para ser conselheiro nato. É uma decisão para a Assembleia. As mudanças serão modernas. O que posso prometer é que, se eleito for, é a participação efetiva dos torcedores, de torcidas organizadas, por meio de comissões. Sem briga, xingamento ou ameaça. Queremos que a torcida opine no Conselho Deliberativo. Vai ser aberto, principalmente para os conselheiros. 

Mas a sua opinião pessoal sobre a possibilidade de voto para o sócio-torcedor. Qual é?

O sócio-torcedor vai participar de comissões. Mas quanto ao Estatuto, ele rege que somente os conselheiros natos, efetivos e beneméritos têm direito a voto... 

A pergunta é, exatamente, sobre colocar a possibilidade do voto para sócio já neste novo Estatuto que deverá ser votado neste ano. O senhor é favorável?

É uma proposta que pode ser apresentada na reforma estatutária. Se ela for aprovada em assembleia pelos conselheiros, tranquilamente vamos cumprir.

E como conselheiro, o senhor é favorável que sócios-torcedores também votem?

Sou favorável a qualquer proposta que for apresentada ao conselho, aos novos diretores do Conselho Deliberativo. Teremos uma comissão em 60 dias para estudar e apresentar as propostas na reforma do estatuto e sua modernização. Mas claro que quem vai decidir são os 450, 470 conselheiros. Mas sou a favor, até porque, a maioria dos conselheiros são sócios. Não vejo problema que ele participe do conselho.  

- Se vencer a eleição, qual será sua primeira medida como presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro?

A reforma estatutária, modernização. Mas claro que temos a valorização dos conselheiros, do Conselho Deliberativo. Sabemos que ao longo desse um ano e meio, alguns conselheiros foram criticados, muito criticado, e sabemos que o Conselho do Cruzeiro é de alto nível. É formado por empresários, profissionais liberais, promotores, procuradores, desembargadores, pessoas industriais, representante comercial, médico, advogado, é um conselho de altíssimo. Eu sempre falo que é um privilégio estar no Conselho Deliberativo. Também precisamos fazer a eleição das 55 vagas para nato. 

Qual sua opinião sobre as expulsões de 30 associados do Conselho Deliberativo? O senhor entende que eles descumpriram o estatuto ao serem remunerados pelo clube sem abrir mão do mandato?


Primeiro vamos corrigir: eles não foram expulsos. Existe uma portaria que exclui temporariamente até a diretoria, presidência, responder as notificações que receberam. Não houve expulsão. Até porque, a comissão eleitoral, doutor Gilvan de Pinho Tavares, que eles (os expulsos) poderão votar. Agora, sobre a conduta deles, não posso avaliar. Eu só posso avaliar o que está no Estatuto. O que está no Estatuto? Conselheiro empregado. Conselheiro empregado é aquele que tem carteira assinada. Pelo que tenho conhecimento, aqueles conselheiros trabalharam lá como Pessoa Jurídica. Mas não sou eu que vou julgá-los. Quem vai julgá-los é o Conselho Deliberativo depois das eleições.

Mas o senhor não tem uma opinião sobre a conduta dessas pessoas? Porque fato é que, como pessoas físicas ou jurídicas, eles receberam dinheiro do clube sem abrir mão dos mandatos como conselheiros. 

Interessante que todo mundo fala sobre esses conselheiros atuais. Em todas as administrações anteriores, existiam conselheiros trabalhando. As administrações anteriores tinham conselheiros remunerados e trabalhando. Mas é aquilo que eu disse, cabe ao Conselho Deliberativo fazer o julgamento final. Eles estão no prazo de defesa e não sabemos se eles recorreram à Justiça para voltar. A gente não pode dar uma resposta final. Vamos obedecer o estatuto. O Estatuto diz: conselheiro empregado. 

Nota da redação: em artigo recente, o atual presidente do Conselho Deliberativo, José Dalai Rocha, afirmou que a regra vale desde outubro de 2015, quando a última versão do Estatuto foi votada. “Como a Lei só retroage para beneficiar, nunca para punir, foram mantidos nos cargos remunerados conselheiros que lá estavam antes do novo Estatuto”, escreveu Dalai.  

O Conselho de Ética prepara um parecer sobre possíveis expulsões de Wagner Pires de Sá e Hermínio Lemos do Conselho Delibeerativo do Cruzeiro. Sem tratar especificamente sobre o rito da expulsão, o senhor considera que o ex-presidente e o ex-vice-presidente devem ser expulsos, de fato, por gestão temerária?

Primeiro tem que abrir um amplo direito de defesa, o contraditório. Pelo que sei, eu nem sabia disso de expulsão, eles têm de ser notificados (ambos já foram) e aí têm o direito de defesa. E quem exclui é o Conselho Deliberativo, não é o presidente por uma simples assinatura.

E o senhor acha, como membro do Conselho, que os dois têm de ser expulsos? Cabe o julgamento de gestão temerária?

Se ficar comprovada alguma irregularidade, eles serão punidos. O Estatuto prevê isso. Eu não tenho conhecimento de quais seriam as irregularidades para tomar uma decisão dessa de expulsão. São 450, 470 conselheiros que têm direito a voto. Tem que dar o direito de defesa, o contraditório, para excluir do clube dois dirigentes que passaram pelo Cruzeiro.

Voltando ao pleito do Conselho Fiscal, no ano passado. O senhor foi eleito com apoio público do Wagner, que promoveu até noite de caldos para reforçar que estava ao seu lado. O logotipo da sua chapa era o mesmo utilizado pelo Wagner em 2017. Os principais articuladores do grupo também eram os mesmos. Você era defendido a todo custo pelo presidente que você deveria fiscalizar se eleito. Apesar de democrática, essa não foi uma eleição cercada por imoralidades?

Absolutamente. Foi uma eleição absolutamente tranquila e normal. Se eu fui eleito com voto do Wagner, do João ou do Pedro, eu não sei. Nós vencemos a eleição. Primeiro que eu não votei no Wagner. Nem eu, nem o Nagib, nem o Afrânio (outros integrantes do Conselho Fiscal). Votamos na outra chapa que concorreu com ele em 2017. E fiz campanha para o Sérgio Santos Rodrigues. Eu estou muito tranquilo. Nós estamos tranquilos sobre a eleição para o Conselho Fiscal. Mas não posso recusar votos de nenhum conselheiro. Agora, para o Conselho Deliberativo, também. Essa acusação, essa mentira, esse fake news, eles esquecem que eu nunca fui de nenhuma chapa, a não se o apoio ao Sérgio em 2017. E esses que falam as coisas, esses sim que foram desse grupo, dessa chapa. 

Mas são 470 conselheiros aproximadamente. Se eu tivesse perdido as eleições, a que ia ganhar que ia consertar a casa? É a pergunta que eu faço. Nós fomos eleitos democraticamente, com transparência, trabalhando sem comprometimento com nenhum diretor. Nenhum diretor nunca nos pediu nada. Não tivemos contato com nenhum diretor. Eu tive votos dos dois lados. Estou muito tranquilo em relação ao nosso Conselho Fiscal, tendo em vista a aprovação de contas de 2018, que ainda não foi aprovado, com mais de 10 ressalvas, suspensa a aprovação até a investigação da Polícia Civil e Ministério Público.

Como presidente do Conselho Fiscal, o senhor foi um dos responsáveis por analisar as contas de 2018. Entre outras denúncias realizadas por outros veículos de comunicação, o Superesportes mostrou recentemente gastos no mínimo imorais com cartões de crédito corporativos, especialmente do ex-presidente Wagner.  O senhor não viu problema com gastos com clínica de estética, viagem a Portugal, restaurantes de luxo? Quando foi eleito, o senhor disse ter “certeza da inocência” daquela diretoria. Essa certeza permanece intacta?

Sobre cartão corporativo, toda empresa, pequena, média ou grande porte, têm cartão corporativo para seu presidente e diretores. Isso não é novidade nenhuma. O que precisa apurar são os gastos abusivos. Quando ao cartão do Cruzeiro, é bom lembrar que as despesas apresentadas em 2018, as faturas começaram a chegar em 2019. 2019 as contas ainda estão sendo analisadas. Só chegou até nossas mãos o primeiro trimestre de 2019, que estamos analisando. 

E sobre a declaração de ‘certeza de inocência’. A certeza permanece intacta?

Sobre a minha declaração, enquanto não for provado… Qual condenação existiu até agora? Primeira instância, há condenação? Segunda instância? Houve trânsito em julgado de alguma sentença? Como posso condenar alguma pessoa? Está tudo sendo apurado. Vamos aguardar as investigações. Eu parto do princípio que todas as diretorias que o Cruzeiro teve, que antecederam o Wagner, Gilvan, Perrellas, eu parto do princípio que foram diretorias que trabalharam em prol do Cruzeiro. Não posso julgar, porque não houve condenação. 

Não existiram condenações, mas os fatos, como esse do cartão corporativo, existem. Eles não bastam para você formar uma opinião?

Temos que aguardar os acontecimentos. Como advogado, eu não posso sair fazendo acusações levianas sem ter provas. Ministério Público está apurando, a Justiça está apurando, tem uma Vara específica que está apurando, então vamos aguardar os acontecimentos para ter certeza que eles erraram. A Polícia Civil está com os inquéritos, como você vai acusar? Pessoal fez gestão temerária… O que aconteceu no Cruzeiro também, vocês têm que dizer, quanto a diretoria pegou de dívida? Foram 450 milhões que o Cruzeiro encontrou. Está no balanço. Não sou eu que estou dizendo. 

Geralmente, candidaturas são construídas a partir de apoios de grupos, especialmente em um conselho fragmentado como é o do Cruzeiro. Essas alas dão tração política aos postulantes. Imagino que você tenha a sua ala. Você pode relatar, nominalmente, quais são as lideranças do seu grupo de apoio

Não tenho grupo nenhum, até porque nunca participei de nenhum grupo. Sobre lideranças, eu acho que todo conselheiro do Cruzeiro é uma liderança. Todos nós, 470 conselheiros. É voto a voto. Um voto não vale mais do que o do outro. Eu tenho apoio de todos os conselheiros. Eu nunca briguei com conselheiro, trato todos com educação, aceito divergência, crítica. Por isso que estamos trabalhando tranquilos, com pés do chão. Sem brigar, sem discutir com conselheiros. Com humildade. Todo conselheiro é líder. 

Gustavo Nolasco: A torcida que é quem sustenta financeiramente esse clube não aceita a manutenção do atual estatuto arcaico e podre. Ao se colocar como postulante a esse cargo, o senhor estudou estatutos mais modernos de outros clubes? Se sim, cite qual e qual medida desse estatuto pretende implementar?

Tenho falado isso em toda entrevista. O Cruzeiro Esporte Clube é da torcida. Ele não pertence ao presidente do Conselho nem aos conselheiros. Ele não pertence ao presidente do clube nem aos diretores do clube. O Cruzeiro é da torcida. Seus nove, dez milhões de torcedores. Quanto ao Estatuto, será modernizado, enxuto, com a participação efetiva da torcida, por meio de comissões. 

Gustavo Nolasco: O senhor é a favor que representantes do Conselho Fiscal sejam punidos pelo estatuto ou mesmo condenados pela Justiça caso se comprove que houve ilícitos em contas aprovadas por eles? 

Se a Polícia Civil, Ministério Público chegarem a resultados conclusivos e isso chegar na Assembleia do Conselho Deliberativo… Nós teremos Comissão de Ética e Disciplina rigorosa. Não é para passar a mão na cabeça de ninguém. Talvez é isso que outras administrações não fizeram.

Tags: Cruzeiro serieb interiormg futnacional