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Cruzeiro entrega investigação da Kroll ao Ministério Público e lista irregularidades; veja detalhes

Kroll informou que o estudo envolveu um mapeamento de conexões familiares e empresariais de 645 pessoas consideradas relevantes

postado em 18/05/2020 15:47 / atualizado em 18/05/2020 18:44

(Foto: Divulgação/Cruzeiro)
Cruzeiro entregou, na tarde desta segunda-feira, um relatório com mais de 600 páginas ao Ministério Público de Minas Gerais. Trata-se de todo o trabalho desenvolvido pela Kroll, especializada em gestão de risco, investigações corporativas, compliance e cibersegurança. A empresa havia sido contratada pelo Conselho Gestor no início de março.

Aos jornalistas, o Cruzeiro divulgou uma síntese da investigação, preservando nomes e dados sigilosos. No relatório, a Kroll informou que o estudo envolveu um mapeamento de conexões familiares e empresariais de 645 pessoas consideradas relevantes. 

“Também foram coletados e analisados documentos corporativos, bases financeiro contábeis e 214 GB de dados eletrônicos advindos de computadores do Cruzeiro. Ao todo, foram analisados 795 documentos, 1.116 transações financeiras e 803 comunicações eletrônicas”, detalha o documento divulgado nesta segunda.
 
O Ministério Público de Minas Gerais informa que o material foi recebido e juntado ao procedimento criminal instaurado. Nesta terça-feira, será encaminhado à Polícia Civil do estado. 
 
A gestão de Wagner Pires de Sá é investigada por supostos crimes de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica. Em dois anos à frente do clube, Wagner e sua diretoria elevaram a dívida celeste de R$ 387 milhões para cerca de R$ 800 milhões.

As irregularidades vieram à tona em maio de 2019, quando o programa Fantástico, da TV Globo, denunciou os supostos crimes. A crise institucional se refletiu dentro de campo, e o time foi rebaixado à Série B. Com receitas escassas e despesas acumuladas, o clube prevê déficit de R$ 143 milhões em 2020. 

Foram listados 12 pontos principais do processo de apuração. Leia abaixo, na íntegra:

- O Cruzeiro assinou contratos de intermediação de atletas sem que a participação desses intermediários nas negociações fosse cadastrada na CBF, o que é vedado pelo Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol. Esses contratos originaram 13 comissões, que somam R$ 13.270.715,00.

- O Cruzeiro ofereceu direitos econômicos de jogadores em garantia de pagamento de dívida em, ao menos, dois contratos, o que é proibido pelo Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol da CBF e pelo documento equivalente da FIFA. Entre os jogadores relacionados em um dos contratos estava um atleta amador, a época com 9 anos de idade. O Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol proíbe qualquer transação envolvendo direitos econômicos de menores até que o atleta complete 16 anos.

- Apesar de a Lei Pelé e o Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol da CBF vedar a remuneração do atletas menores amadores, familiares de, ao menos, dois jogadores de base do Cruzeiro recebiam pagamentos mensais por meio de empresas de consultoria abertas próximas a data de assinatura dos contratos com os atletas.

- Um intermediador recebeu comissão de R$ 500 mil pela negociação do um atleta menor amador com o Cruzeiro, o que é vedado pelo Regulamento Nacional de Intermediários da CBF.

- Um terceiro contrato foi identificado em que o Cruzeiro forneceu a um intermediador 10% dos direitos econômicos futuros de um menor amador, caso este viesse a se tornar profissional e posteriormente ser transferido do clube.

- O Cruzeiro pagou R$ 7.072.000 em comissões a intermediários de jogadores que já atuavam no Cruzeiro, por terem negociado aumento salarial para estes atletas. Além disso, o contrato de um intermediador previa recebimento de bonificação todas as vezes em que o atleta que ele representava atingisse metas de performance. Essas comissões, apesar de não serem regulares, podem ser consideradas inusuais e prejudiciais ao Cruzeiro.

- As despesas do Cruzeiro aumentaram em 50% no período entre 2018 e 2019 com relação ao biênio anterior, passando de R$ 770.097.107 para R$ 1.180.676.437 Os salários, que compõem 20% das despesas do clube, também tiveram um aumento do 50%, saltando de R$ R$ 156.581.352 para R$ 234.380.814.

- Entre as despesas analisadas, despesas pessoais e não condizentes com as atividades performadas pelo Cruzeiro, no valor de R$ 80.777,18, foram pagas com cartões de crédito corporativos emitidos em nome de quatro dirigentes, durante o período em análise. Os estabelecimentos incluíram lojas de eletrônicos, lojas de roupas, clínicas de saúde, bebidas alcoólicas, resorts de luxo e casas noturnas de entretenimento adulto.

- Foram realizados, durante o período em análise, pagamentos de notas de débito de dirigentes no valor de R$ 1.548.608, sem qualquer descrição da natureza desses gastos nos registros contábeis. A Kroll requisitou ao Cruzeiro comprovantes que justificassem suas despesas, mas não os recebeu até a conclusão dos trabalhos de investigação.

- O Cruzeiro pagou um total de R$ 8.521.311,80 a empresas vinculadas a dirigentes e/ou seus familiares durante o período em análise. As empresas favorecidas eram, em sua maioria prestadoras de serviços de consultoria e tinham contratos com o clube que abarcavam os serviços performados pelos dirigentes em seus cargos. Entre os pagamentos identificados, há empresas em nome do esposas de dirigentes, comissões e pagamentos de rescisão não previstos em contrato, bonificação de dirigentes por desempenho do time e recebimentos em duplicidade por parte de dirigentes.

- O Cruzeiro pagou R$ 6.068.078,33 a empresas vinculadas a 52 conselheiros, apesar de o Estatuto Social do clube vedar esse tipo de relação. A Kroll analisou em detalhe pagamentos a 12 conselheiros, que receberam acima de R$ 100 mil e perfazem 83% de todo o valor pago a esta categoria. Os pagamentos analisados referem-se contratos de mútuos, serviços de consultoria, advocacia e compras em estabelecimentos. A Kroll ressalta que parte destes pagamentos pode estar relacionada a atividades comerciais regulares, mas não recebeu os dados suporte para confirmar essa hipótese.

- Foram pagos R$ 2.139.653,74 a empresas de consultoria jurídica, tributária e de engenharia com descritivo genérico de atividades e sem comprovação de serviços prestados. Além disso, foram pagos R$ 591.250 em comissão por negociação de contratos com patrocinadores do Cruzeiro.

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