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Aos 40 anos, Fábio completa 900 jogos pelo Cruzeiro; feito é raro no mundo

Camisa 1 alcança marca no jogo diante do Sampaio Corrêa, nesta quinta

postado em 08/10/2020 06:30 / atualizado em 08/10/2020 08:56

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Em sua 16º temporada como titular, o goleiro Fábio, de 40 anos, completará 900 jogos pelo Cruzeiro no duelo contra o Sampaio Corrêa, às 18h30 desta quinta-feira, no Mineirão, pela 14ª rodada da Série B. No futebol brasileiro, a marca histórica foi atingida por outros quatro atletas: Rogério Ceni, do São Paulo (1.238); Pelé, do Santos (1.116); Roberto Dinamite, do Vasco (1.110); e Ademir da Guia, do Palmeiras (901).

No mundo afora também é raro encontrar um jogador que tenha participado de 900 ou mais partidas por uma equipe. São os casos do italiano Paolo Maldini, do Milan (902), e do galês Ryan Giggs, do Manchester United, da Inglaterra (963) - assim como o pouco conhecido zagueiro norte-irlandês Noel Bailie, que entrou em campo 1.013 vezes pelo Linfeld, maior time de seu país.

Outros craques da bola que ficaram marcados por defender a mesma camisa durante tanto tempo não chegam perto de Fábio. No Barcelona, Xavi alcançou 767 jogos, enquanto Lionel Messi soma 734. No Manchester United, Paul Scholes disputou 718 partidas, número ligeiramente superior aos 710 de Steven Gerrard no Liverpool. Na Itália, Javier Zanetti esteve em 858 jogos pela Inter de Milão, e Francesco Totti representou a Roma em 786 oportunidades. No Brasil, é possível citar Júnior (865 jogos pelo Flamengo), Valdomiro (853 jogos pelo Internacional), Harlei (831 jogos pelo Goiás) e Wladimir (805 jogos pelo Corinthians), além de Pepe (750 jogos pelo Santos), Nilton Santos (721 pelo Botafogo) e Zico (732 pelo Flamengo).

A trajetória de Fábio até o 900º jogo no Cruzeiro começou há duas décadas, em um amistoso contra o Universal-RJ, no dia 4 de março de 2000, no Mineirão. Na ocasião, o então garoto de 19 anos era o primeiro nome da escalação que também tinha Glayssinho, Alexandre, Cris e Sorín (Wendel); Leandro Gaviolle (Walter Minhoca), Viveros (Alonso), Joelson e Paulo Isidoro (Cléber Monteiro); Geovanni e Marcelo Ramos (Cristian). A Raposa ganhou por 2 a 0, gols de Joelson e Wendel.

Em 9 de julho de 2000, Fábio estava na reserva de André no time que bateu o São Paulo de virada, por 2 a 1, no Mineirão, e conquistou o tri da Copa do Brasil. No segundo semestre, transferiu-se para o Vasco e se sagrou campeão brasileiro como suplente de Helton. Quatro anos e meio depois, em janeiro de 2005, retornou ao Cruzeiro para não sair mais.

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Na Toca, Fábio demorou a alcançar status de ídolo. De 2005 a 2007, viveu efeito montanha-russa ao alternar atuações com grandes defesas e falhas em sequência. Em 2008, elevou o nível técnico e passou a ser uma das principais referências do time. Entretanto, ainda havia quem o questionasse como um dos grandes nomes da história cruzeirense devido à ausência de um título de expressão.

Fábio calou os críticos ao ganhar o Campeonato Brasileiro de 2013 e dois prêmios de melhor goleiro - Bola de Prata, da revista Placar e do canal ESPN; e Craque do Brasileirão, da Rede Globo e da CBF. Em 2014, não fez parte da seleção da competição, porém levantou o segundo troféu consecutivo. Já em 2017 e 2018, foi decisivo ao defender pênaltis nos mata-matas que levaram o Cruzeiro aos títulos da Copa do Brasil.

Pegar pênaltis, aliás, é uma das grandes especialidades de Fábio no Cruzeiro. Das 30 defesas, destaque para as três do jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil de 2018, contra o Santos - segurou os chutes de Bruno Henrique, Rodrygo e Jean Mota -, e a da decisão de 2017, diante do Flamengo - espalmou a cobrança de Diego.

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Em quase 16 anos no Cruzeiro, Fábio foi sete vezes campeão mineiro (2006, 2008, 2009, 2011, 2014, 2018 e 2019), duas do Campeonato Brasileiro (2013 e 2014) e três da Copa do Brasil (2000, 2017 e 2018). Além disso, ajudou o time a chegar à final da Copa Libertadores de 2009, na qual teve atuação memorável no duelo de ida contra o Estudiantes, em La Plata, na Argentina, ao fazer pelo menos seis grandes defesas. No jogo de volta, o Cruzeiro frustrou sua torcida ao perder de virada no Mineirão, por 2 a 1.

Drama na Série B


(Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)
Em 2019, Fábio amargou a pior experiência na carreira ao cair para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Mesmo com um elenco caro, com folha salarial estimada em R$ 15 milhões, o Cruzeiro somou apenas 36 pontos em 38 rodadas (7 vitórias, 15 empates e 16 derrotas), terminando o Brasileirão em 17º lugar.

Na temporada 2020, Fábio foi um dos jogadores que aceitaram repactuar os salários dentro do “teto” de R$ 150 mil, com a diferença a ser paga em 20 parcelas a partir de abril de 2021. O planejamento era para que o clube pudesse honrar o compromisso mediante o retorno à primeira divisão, mas o cenário atual é bastante preocupante.

O Cruzeiro é o 17º colocado, com 11 pontos - 12 a menos que o quarto, Juventude. De acordo com cálculos do site Probabilidades no Futebol, do Departamento de Matemática da UFMG, o time precisa somar 50 pontos em 75 - 66,66% de aproveitamento - para alcançar 61 e ter boa chance de regressar à elite nacional.

Desta forma, Fábio tenta exercer a voz de liderança do grupo para recolocar o Cruzeiro novamente na briga pelo acesso. Com contrato até dezembro, ele precisa estender o vínculo para terminar a Série B, em 31 de janeiro de 2021. Depois, avaliará se continuará a jogar ou encerrará a carreira.

Preparadores falam sobre Fábio


O Superesportes pediu depoimentos de preparadores de goleiros que trabalharam com Fábio no Cruzeiro. Robertinho, Leandro Franco, Flávio Tênius, Ailton Serafim e Leonardo Lopes parabenizaram o ídolo do clube pelos 900 jogos e falaram sobre a sua qualidade técnica, liderança e personalidade.

Robertinho

Foram 10 anos bem vividos com grandes conquistas, muitas alegrias e algumas decepções que fazem parte do processo. O Fábio é uma figura humana espetacular que se dedicou o tempo todo aos trabalhos e chegou a essa marca histórica de 900 jogos pelo Cruzeiro. Dificilmente outro atleta vai atingir essa marca tão expressiva. É fruto de muita dedicação, trabalho e comprometimento.

É um cara que investiu a sua vida no futebol, no esporte e ao clube. Tenho muita coisa boa a falar do Fábio. Poderia enumerar aqui diversas coisas, e a gente passaria muito tempo o elogiando e falando bem. A verdade é que ele é um cara merecedor de tudo isso, dessa marca, dessas conquistas e de tudo que bom que aconteceu na vida dele.

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Infelizmente, o Cruzeiro está passando por um momento delicado, difícil, mas eu acredito muito que se o Fábio estiver bem, será capaz de colocar o Cruzeiro de volta à Série A do Campeonato Brasileiro. É um goleiro com capacidade e condições para isso. Já demonstrou isso no passado ajudando o Cruzeiro a conquistar grandes títulos. Acho que isso é uma questão que é perfeitamente possível.

Fico de longe na torcida pelo amigo, torcendo para que tudo bem, e para que no final ele usufrua de mais momentos grandiosos em sua carreira. Gostaria aqui de deixar um abraço e desejar saúde para que ele siga firme na caminhada e, no futuro, comemore o acesso à Série A que é tão sonhado pelos cruzeirenses”.

Leandro Franco


Trabalhar com o Fábio foi um dos sonhos que se realizaram na minha vida, um algo a mais no meu currículo. Eu acompanhava os jogos e pensava: ‘caramba, esse goleiro é um monstro!’. Graças a Deus, tive essa oportunidade.

As pessoas me perguntam - os preparadores de goleiros, os goleiros - ‘Leandro, como que é o Fábio?’. Eu resumo da seguinte maneira: ‘você já viu um cavalo arrancando? É mais ou menos isso. O bicho é muito bravo!’.

(Foto: Arquivo pessoal)

Parceiro, você sabe que sou seu fã, você é um monstro, um fenômeno como goleiro. Que Deus te abençoe. Parabéns pelos 900 jogos, poucos vão conseguir isso na carreira. Obrigado pela amizade. Um abraço, Fabião!”.

Flávio Tênius

Falar do Fábio para mim é uma satisfação muito grande. Tive a oportunidade de trabalhar com ele duas vezes. Em 2000, quando cheguei lá, ele já estava no Cruzeiro, tinha sido contratado para a base, eu não tive dúvidas que ele poderia ser aproveitado no profissional. Foi assim que aconteceu, a gente acreditou nele, e, a partir dali, começou essa carreira brilhante. Em seis meses, foi campeão da Copa do Brasil, não chegou a jogar, mas participou, era reserva imediato do André. Depois, foi para o Vasco e começou essa carreira.


Fui encontrá-lo depois em 2006, já era uma realidade e está lá no Cruzeiro até hoje, quebrando marcas e marcas e ganhando vários títulos. Eu não tenho dúvida nenhuma em falar que ele foi um dos melhores goleiros com quem trabalhei. Sempre que sou perguntado, nunca me esqueço dele, porque ele realmente é diferente. A carreira dele está provando isso. Fico feliz de poder ter trabalhado com ele, e só tenho a parabenizar por tudo que conseguiu no futebol brasileiro e na vida pessoal também.

Ailton Serafim

É uma honra falar de um dos maiores goleiros que o Brasil produziu em todos os tempos. Um cara que nasceu para ser goleiro, com todas as valências que um goleiro precisa: é rápido, técnico, estatura boa, potente, treina pra caramba, é líder, comanda ali atrás. Muitas vezes injustiçado, né Fábião?! Só a gente sabe o quanto o futebol não tem justiça. Mas é um cara que nunca desistiu, passou por situações difíceis na carreira, como lesões, e deu a volta por cima.

É um goleiro multicampeão, que foi evoluindo junto com a posição. Quando começou, via-se o goleiro de um jeito. Hoje é totalmente diferente, é um cara que foi se adaptando à evolução da posição.


Já são mais de mil jogos na carreira e 900 jogos por um clube. Ninguém chega a 900 jogos em um clube se não tiver alguma coisa diferente. E isso ele tem de sobra. A gente sabe que você é diferenciado, cara.

Tive a honra de trabalhar com alguns goleiros de nomes muito grandes no futebol, como o Magrão, no Sport; o Diego Cavalieri, no Fluminense; o Diego Alves, no Atlético quando surgiu; o Fernando Prass, no Ceará; o Douglas, no Bahia; o Harlei, no Goiás, onde estou.

Estive com o Harlei no Goiás quando ele atingiu a marca de mais de 830 jogos pelo clube. É uma coisa que eu tenho a te dizer, Fábio: convivemos por seis meses trabalhando junto e foi onde eu aprendi muito também. Aprendemos juntos e crescemos juntos nas dificuldades, no dia a dia de treinamento, na situação de pandemia que passamos. Mas de uma coisa eu tenho certeza: você é um dos grandes amigos que fiz no futebol. Eu tenho a honra e o orgulho e dizer que eu te treinei.

Que nesses 900 jogos que você vai fazer, que Deus continue te protegendo como protegeu, te abençoando, livrando de todos os males e das coisas ruins que vier a aparecer. Que você continue sendo esse cara fantástico. Tive orgulho de ser seu treinador de goleiro, mesmo que por período curto.

Só tenho a agradecer, que Deus te abençoe e que você continue brilhando. Um grande abraço, Fábio. Parabéns pelos 900 jogos e que venham mais 100, 200, quem sabe. Do jeito que você treina, acho que vem até mais! Parabéns, que Deus te abençoe sempre.

Leonardo Lopes

Não é à toa que o Fábio está fazendo 900 jogos. Grande profissional, espetacular ser humano, dedicado à família, ao clube, ao grupo, respeitador. Sabe, também, os limites da hierarquia, de comando. Obediente, se faz ouvido, fala quando necessário, é firme, leal, é muito verdadeiro.



Profissionalmente, como goleiro, muita potência, muita força, muita técnica, excelente posicionamento, um goleiro com características espetaculares. Mesmo com 40 anos, trabalha como se fosse um jovem, um garoto. Não reclama, está sempre dedicado a novos trabalhos e a comprar ideias que são boas.

Com bons conteúdos e bons argumentos você faz com que ele compre a ideia, e ele te ajuda nessa ideia e faz com que seu trabalho seja melhor ainda. É um grande exemplo para os garotos, para os mais velhos, para os profissionais do clube, para a torcida. É um fenômeno.

O Fábio merece esses 900 jogos. E vai fazer mais, porque treina muito, tem muita qualidade. Há muito o que evoluir ainda, pois há muitas coisas que a gente passa para ele, e ele pega rápido. Fica fácil montar trabalho e fazer as coisas para ele.

É dedicado, líder, sabe a hora de falar, sabe se expressar. É muito religioso, devoto a Deus, que dá todas as honras de suas vitórias e à sua família.

(Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Eu, depois de 10 anos no clube, e há dez meses no time profissional, só tenho orgulho e agradecer por trabalhar com um profissional como ele. É uma lenda do futebol. O que ele já fez dentro do campo e já pode fazer ainda já está na história.

Ele se dedica para isso, cobra muito de todos e ajuda muito todos. Ajuda os goleiros, os jogadores de linha, a comissão técnica. O Fábio é um profissional exemplar, que merece toda a glória. Parabéns a ele. Orgulhoso de estar  presente nessa vida dele dentro do profissional e dentro do futebol.

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