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Com dinheiro da China e linha-dura de Conte, Inter de Milão começa a acordar

Clube tenta se reestruturar para acabar com hegemonia da Juve na Itália

postado em 16/10/2019 13:36 / atualizado em 16/10/2019 14:32

<i>(Foto: AFP/Marco Bertorello )</i>

O dia era 22 de maio de 2010 e a torcida da Inter de Milão estava no céu. No Estádio Santiago Bernabéu, templo do Real Madrid, o time italiano venceu o Bayern de Munique por 2 a 0 e fechou com o título da Liga dos Campeões da Europa a melhor temporada da história do clube - já havia conquistado o Campeonato Italiano e a Copa da Itália. Mal sabiam os torcedores, porém, que a decadência azul e negra começava exatamente ali, entre muitos abraços e garrafas de espumante.

Logo depois da tríplice coroa, o técnico José Mourinho se mandou para o Real e o desmanche foi inevitável. Desde então, com a razoavelmente honrosa exceção de uma Copa da Itália vencida logo na temporada seguinte, o clube que já teve como ídolos os goleadores Ronaldo e Adriano não ganhou mais nada. Pior, viu de muito longe a Juventus estabelecer uma hegemonia sem precedentes no futebol do país. E só agora, depois de apanhar por quase dez anos, a Inter dá sinais de que está dando a volta por cima.

A história recente da outrora poderosa Inter começou a mudar em junho de 2016, quando o grupo empresarial Suning, da China, comprou do indonésio Erick Thonir a maioria das ações do clube. Em outubro do ano passado, o Suning passou a ser dono de 100% das ações e Steven Zhang (filho de Zhang Jindong, presidente do Suning), de 28 anos, tornou-se presidente do clube.

Com os chineses, chegou o dinheiro, mas não só isso. Giuseppe Marotta foi contratado para ser o diretor esportivo depois de alguns anos cumprindo essa função na Juventus - ele é apontado pela imprensa italiana como um dos responsáveis pela hegemonia do clube de Turim na Itália (oito títulos nacionais consecutivos).

Com o dinheiro chinês e o currículo de Marotta, só faltava um treinador acostumado a vencer para o cenário estar completo. E Antonio Conte chegou no meio do ano para ser esse homem. Credenciado pelo sucesso na Juventus, na seleção italiana e no Chelsea, o técnico empolgou a torcida tanto ou mais do que as novas estrelas da companhia, os atacantes Romelu Lukaku e Alexis Sánchez, ambos trazidos do Manchester United.

"O Conte foi escolhido a dedo porque ele é um profissional muito rigoroso, exige disciplina dos jogadores. E os chineses prezam muito por coisas como organização, hierarquia e disciplina", afirma o jornalista italiano Andrea Elefante, que acompanha o dia a dia da Inter. Não por acaso, a Inter tratou de se livrar do atacante argentino Icardi e do meia belga Nainggolan, ambos com problemas disciplinares no currículo, tão logo Conte chegou.

Para o ex-jogador Zé Elias, que defendeu a equipe italiana entre 1997 e 1999, a chegada de Conte vem sendo decisiva para o time. "A Inter sempre teve bons jogadores, mas nem sempre teve técnicos de peso. Às vezes os jogadores se achavam mais importantes do que a instituição, mas o Conte sabe fazer todo mundo respeitar a camisa que veste. Ele é muito sério, muito profissional, é a pessoa certa, até pelo temperamento dele. O Conte consegue fazer os jogadores olharem para ele de baixo para cima", diz o ex-atleta, ao Estado.

CHOQUE DE REALIDADE - Nas últimas oito temporadas, a Inter jamais terminou o campeonato nacional menos de 20 pontos atrás da Juventus e só participou duas vezes da Liga dos Campeões (sem contar a atual edição).

No Italiano em andamento, a Inter da "era Suning/Marotta/Conte" chegou ao clássico contra a Juventus na liderança, o que deixou os torcedores eufóricos, mas a derrota por 2 a 1 em Milão serviu como uma cachoeira de água gelada sobre as cabeças interistas. A avaliação do comando do clube é que ainda falta melhorar bastante para alcançar o nível do time de Cristiano Ronaldo. Por isso, dois jogadores devem ser contratados na janela de transferências de janeiro.

Mesmo com a chegada desses reforços, os comandantes da Inter sabem que superar a Juventus nesta temporada é muito difícil, mas eles não têm pressa. A ideia inicial é consolidar o clube como a segunda força da Itália para em seguida acabar com a supremacia da Velha Senhora e, por fim, voltar a triunfar na Europa, tendo Conte como o "novo Mourinho".

"Acredito que a Inter vai voltar a ser forte. O time está sendo reconstruído com a espinha dorsal que o Conte montou, bem competitiva, com marcação por pressão, o Lukaku brigando lá na frente... É um estilo bem italiano, é assim que o Conte trabalha", comenta Zé Elias.

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