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Integrantes de equipe médica suspeitos da morte de Maradona começam a depor

Ídolo morreu em 25 de novembro de 2020 durante sua convalescença em uma casa nos arredores de Buenos Aires

postado em 29/05/2021 13:52 / atualizado em 29/05/2021 14:25

(Foto: AFP / ALEJANDRO PAGNI)
A procuradoria argentina que investiga a morte do ídolo do futebol Diego Maradona começará na segunda-feira a receber depoimentos de sete pessoas, incluindo seu médico pessoal, psiquiatra e enfermeiro, suspeitos de tê-lo "abandonado à própria sorte".

Todos também estão sendo investigados por prescrever tratamento "inadequado, deficiente e temerário", de acordo com as conclusões do relatório de uma comissão médica que analisou as circunstâncias da morte do astro.

Maradona morreu em 25 de novembro de 2020 durante sua convalescença em uma casa nos arredores de Buenos Aires, após uma cirurgia bem-sucedida na cabeça para remover um hematoma.

Essa fase do processo vai até 14 de junho, quando o último dos suspeitos prestará seu depoimento.

Passos processuais 

Os interrogatórios serão feitos na sede da Procuradoria Geral de Justiça de San Isidro, na periferia norte de Buenos Aires, que está instruindo o processo.

De acordo com o sistema penal da província de Buenos Aires, os réus comparecem perante os promotores para serem informados do que estão sendo investigados. Por se tratar de um ato de defesa, o acusado pode depor ou se recusar a fazê-lo.

Após os depoimentos, a acusação irá encaminhar o caso para o juiz com a recomendação de processá-los ou arquivá-los. Finalmente, após um processo que pode durar muitos meses e até anos, o caso pode chegar a um julgamento popular.

"Eles provavelmente irão a julgamento, nada indica o contrário", disse uma fonte judicial próxima ao caso.

Na Argentina, para investigar uma pessoa, ela é primeiro acusada, ou seja, é aberta uma investigação contra ela.

Profissionais na mira 

O primeiro a prestar depoimento na segunda-feira será o enfermeiro Ricardo Almirón (37) e nos dias seguintes será a vez da enfermeira Dahiana Madrid (36), o psicólogo Carlos Díaz (29), a médica coordenadora da internação domiciliar Nancy Forlini (52) e o coordenador dos enfermeiros, Mariano Perroni (40).

Em seguida, comparecerá a psiquiatra Agustina Cosachov (35 anos), acusada de não garantir "a correta administração da medicação e psicotrópicos" que haviam sido indicados ao paciente.

A rodada será encerrada no dia 14 de junho com o depoimento de Leopoldo Luque, neurocirurgião de 39 anos, que foi médico de família de Maradona e foi o responsável pelo atendimento do campeão do mundo no México em 1986 em seus últimos dias.

O laudo dos peritos concluiu que Luque "evitou atender e/ou pelo menos prestar atenção médica adequada a Maradona, pois não garantiu o seu devido acompanhamento com estudos e controles cardiológicos, nem convocou especialistas em questões cardiovasculares, hepáticas e renais, conforme seu quadro exigia, deixando seu destino à sua própria sorte".

Todos os sete estão em liberdade, mas na quinta-feira a justiça proibiu a saída deles do país a pedido da promotoria.

Acusação

No início, a morte do astro argentino foi atribuída a suas inúmeras doenças e histórico de vícios e problemas cardíacos. Pouco depois, sua morte foi investigada como "homicídio culposo", com penas de um a cinco anos de reclusão, que se refere à morte causada por uma pessoa a outra de maneira ilícita, mas sem a intenção de matar. A morte ocorre devido ao ato imprudente ou negligente do assassino.

Mas na semana passada, o Ministério Público agravou o caso e passou a apurar os fatos como "simples homicídio doloso", que contempla de 8 a 25 anos de reclusão, com base na investigação da junta médica.

Na Argentina, esse crime indica que mesmo sabendo dos danos que uma determinada ação pode causar, a pessoa continua fazendo isso sem evitar o mal.

Segundo o laudo médico, a equipe de profissionais que ficou responsável por Maradona "representou plena e cabalmente a possibilidade do desfecho fatal em relação ao paciente", mas se mostrou "absolutamente indiferente a essa questão".

Da coleta de mensagens entre os réus, pode-se deduzir que eles sabiam que Maradona se entregava a excessos de álcool e medicamentos psiquiátricos e consumia maconha.

Segundo o relatório, "os sinais de risco de vida apresentados" pelo ex-jogador do Barcelona e do Napoli foram ignorados. O controle médico que a lenda do futebol mundial recebeu foi "inadequado, deficiente e temerário", acrescenta.

"Fiz todo o possível" 

"Estou muito tranquilo. Fiz todo o possível. Ofereci a Diego tudo o que estava ao alcance, algumas coisas ele aceitou e outras não", se defendeu Luque em várias ocasiões, denunciando uma "operação" contra ele.

O médico pediu a nulidade do laudo pericial e garantiu que em seus últimos dias Maradona estava deprimido e sozinho: "Eu sei que a quarentena (devido à covid-19) atingiu muito fortemente seu estado emocional", explicou.

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