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MINEIRÃO: 20 ANOS DO RECORDE DE PÚBLICO

Autuori, Marcelo Ramos, Nonato, Gottardo e cia: campeões rememoram público histórico

Presença de 132.834 torcedores no Mineirão também marcou profissionais

postado em 22/06/2017 07:55 / atualizado em 22/06/2017 10:36

O recorde de público do Mineirão, em 1997, na decisão do Estadual entre Cruzeiro e Villa Nova, não marcou apenas os 132.834 torcedores que estiveram no Gigante. Campeões naquele 22 de junho com a vitória por 1 a 0, jogadores e o então técnico cruzeirense Paulo Autuori têm o dia histórico gravado na memória.

Divulgada minutos depois da volta olímpica, a notícia sobre o número de torcedores presentes só fez aumentar a festa no vestiário azul. O lateral Nonato, ídolo histórico do Cruzeiro, foi o primeiro a saber do feito da torcida e compartilhou a notícia. Vinte anos depois, todos lembram com carinho daquele domingo na Pampulha.

PAULO AUTUORI, técnico do Cruzeiro em 1997

Guardo aquela fase com muito carinho

”Lembro bem daquele dia. Nunca tinha visto o Mineirão tão cheio. É que teve aquela promoção em que mulheres e crianças entravam de graça. E depois fomos saber que era o recorde de público do estádio. O que me chamou a atenção foi justamente sentir ele balançando mesmo. O Mineirão pulsava. Impressionante! E conseguimos sair dali com o título mineiro, com um gol do Marcelo Ramos logo no início do jogo. Era um time de grandes jogadores, um ótimo grupo. O Cruzeiro ainda seria bicampeão da Libertadores naquele mesmo ano. Fomos muito felizes naquela temporada. Guardo aquela fase com muito carinho.”

Washington Alves/Estado de Minas - 24/02/1997

MARCELO RAMOS, atacante e autor do gol do título

Agradeço a Deus por ter me colocado na história de um clube como o Cruzeiro

”Ficamos super motivados. Saímos da Toca já motivados. Nós víamos muita gente nas ruas e no entorno do Mineirão, e imaginávamos 80, 90 mil pessoas, público normal para jogos importantes, clássicos, etc. Nunca passou pela nossa cabeça que poderia ultrapassar 100 mil pessoas. Foi um dia histórico e ainda bem que deu tudo certo.

Ficamos sabendo do público depois. Sabíamos que estava cheio, mas sabíamos que tinha algo diferente. Não tínhamos noção que hoje estaríamos na história do Mineirão, dentre tantos títulos, tantos jogos decisivos. É muito gratificante. Não tínhamos ideia que poderia ter dado o recorde. Graças a Deus não teve nenhum problema em relação a tragédia, pelo excesso de pessoas, pois poderia manchar o título.

Quando você ganha um título da forma como foi, com a torcida enchendo o estádio, contra o Villa, que, com todo respeito, não era um clássico, ficamos motivados. Foi super importante para a sequência do ano, pois se perdêssemos o título, poderíamos nos complicar na Libertadores. Mas conseguimos jogar bem e mostrar confiança ao torcedor. Sabemos como é o futebol. Se perdemos o jogo, perdemos a credibilidade com a torcida.

Agradeço a Deus por ter me colocado na história de um clube como o Cruzeiro e, em pouco tempo, ser tão decisivo, marcando o gol da final da Copa do Brasil, depois já consigo marcar outro gol na final do Mineiro. Tenho muito carinho pelo torcedor que me reconhece quando vou a BH. Fico muito feliz por ter feito parte daquele jogo, por ter dado alegrias a crianças e mulheres, que estavam todos apertados ali na arquibancada”.

Washington Alves/Estado de Minas - 24/02/1997

VITOR, lateral-direito

Somos privilegiados de estar na história do Mineirão

”Como eu cheguei ao Cruzeiro em 1996 e tinha poucos meses de clube, eu ainda não tinha uma ideia do que era ver o Mineirão completamente lotado. Fizemos grandes jogos, mas nada se comparou àquela final de 1997. Por conviver muito com o Morumbi, como jogador do São Paulo, eu não tinha tanta noção de como seria no Mineirão. Mas depois do título mineiro é que tive uma noção de que o torcedores apoiavam muito, iam muito ao estádio, enchiam o Mineirão. Depois disso, você passa a ter uma sensação melhor do que era o Mineirão.

Fico feliz por estar também presente naquele dia e isso fica na memória da imprensa, de torcedores, de todos nós. Só tenho a agradecer a Deus por tantas bênçãos, ao Cruzeiro, que me acolheu, pela recepção, pelo grupo que nós tivemos, um grande treinador que era o Autuori. Fico muito honrado de ter feito parte de mais um recorde, além de tantos títulos.”

12/06/1997. Credito: Arquivo Estado de Minas

WILSON GOTTARDO, zagueiro

Toda a minha família estava na grande final


“Você não tem informações exatas no momento sobre o público. Mas toda a minha família estava na grande final. Parentes de São Paulo, Rio. Alguns tiveram a oportunidade de acessar o gramado após o jogo. Foi um momento ímpar, um momento histórico.

É um marco na história de um atleta. Vivi tantos momentos como jogador, tantos anos disputando em alto rendimento e você consegue poucos grandes momentos de conquistas. Os atletas raramente conseguem conquistar títulos na carreira. Ainda mais na minha origem humilde, da segunda divisão paulista. Por mais otimista que fosse, jamais imaginei chegar num momento daquele. Imaginava jogar em estádios grandes, como Mineirão, Morumbi, Maracanã, mas num momento daquele, jamais. Aquilo foi uma realização pessoal e um orgulho por parte de uma história grandiosa como a do Cruzeiro”.

22/06/1997. Credito: Arquivo EM/D.A Press

CÉLIO LÚCIO, zagueiro

O tempo vai passando a gente vai vendo como aquilo foi importante

”Eu me sinto privilegiado. A gente nem imaginava que daria aquele público (132.834). Quando o tempo vai passando a gente vai vendo como aquilo foi importante. Eu peguei uma fase no Cruzeiro em que vivemos muito isso, essa questão de grandes públicos. Estávamos acostumados com aquela avalanche de pessoas. Nesse dia, não foi diferente. Só que a gente não tinha muita noção de capacidade. Eu já tinha jogado no Mineirão com 90, 100 mil torcedores e a gente nem percebe. Só depois, pela televisão, que percebemos.

Ficamos sabendo do público bem depois do jogo. Se não me engano, tinha uma promoção e os ingressos estavam esgotados. Realmente marca. Você estar presente em uma final e fazer história em um estádio que recebeu grandes decisões, é emocionante.

Foi importante principalmente por se tratar do torcedor. Tenho visto que o pessoal não valoriza o Campeonato Mineiro como antigamente. Antes, sentíamos muito a importância de ganhar um Estadual. Todo título é importante. Esse, em especial, pelo que foi feito no último jogo, pois o time do Villa era muito forte, foi um dos títulos mais importantes da minha carreira, pela dificuldades que enfrentamos. No jogo no Castor Cifuentes (derrota por 2 a 1), quase sofremos o terceiro gol. E teve a questão da promoção, que surpreendeu até mesmo nós jogadores. Emocionalmente, foi uma das finais mais difíceis para nós. Com todo respeito ao Villa, que entrou como coadjuvante, mas se a gente perde aquele jogo, estaríamos na história, porém, negativamente. Foi uma carga psicológica muito grande em cima da gente. E o time do Villa era muito entrosado”.

Jorge Gontijo/Estado de Minas - 22/04/2005

NONATO, lateral-esquerdo

Ficamos atordoados. Nunca imaginaríamos que um jogo daquele daria tanta gente

“Perdemos por 2 a 1 lá em Nova Lima, no jogo de ida, e nós jamais esperávamos um público daquele, por não ser um clássico. Ficamos muito emocionados quando entramos em campo e vimos aquele tanto de torcedor.
 
É legal demais fazer parte de uma história de um estádio como o Mineirão. Conquistar aquele título e entrar para a história daquela maneira, com um estádio lotado, não tem dinheiro que pague isso.
 
Ficamos atordoados. Nunca imaginaríamos que um jogo daquele daria tanta gente, por ser final de um Campeonato Mineiro entre Cruzeiro x Villa Nova.
 
Recebemos a notícia (do recorde de público) com emoção. ‘Não acredito que conseguimos bater um recorde’. Cheguei no vestiário e falei: ‘Entramos na história do Cruzeiro e na do Mineirão também’. Foi sensacional”.

Jorge Gontijo/EM

CLEISON, meio-campista e atacante

Particularmente me sinto honrado em ter jogado esse jogo

“Foi uma final muito difícil, principalmente lá em Nova Lima e o gol de diferença meu, no primeiro jogo, foi muito importante para levarmos o jogo para o Mineirão, pois com o placar mínimo conseguiríamos o título. O Villa valorizou demais nosso título e a torcida teve um papel fundamental. Hoje, dificilmente esse recorde é batido. Particularmente me sinto honrado em ter jogado esse jogo e deu muita confiança para continuarmos a temporada.

Eu falo por mim e pelos jogadores. Por mais que fosse perto, demoramos uma hora para chegar ao Mineirão. Ônibus estava devagar pelo mar de gente. Arrepiamos. Foi um sentimento maravilhoso. É uma motivação que o torcedor passa. Começamos a ganhar o jogo naquele instante. Eu lembro que, no ônibus, falávamos: ‘Gente, temos que ganhar esse jogo. É hoje o dia’.

Na época a gente até conversava sobre estádio lotado. Sabíamos que ia lotar, mas não sabíamos que iria tanta gente. Estávamos aquecendo e não estávamos vendo. Mas quando entramos em campo, deu uma motivação extra. Tiramos força de onde não tínhamos. Foi uma emoção muito grande. Foi de arrepiar e falamos: ‘Temos que ganhar esse título’. O Villa tinha um time muito bom, mas o Cruzeiro era o favorito. Todos ali estavam confiando que ganharíamos. Se não ganhássemos, poderia se transformar em um baque para o segundo semestre.

No vestiário ficamos sabendo que era o recorde de público. Não me recordo se foi o Nonato que me falou. Mas hoje, você falando, a gente para e pensa: ‘Meu Deus, como pode ter 132 mil pessoas na arquibancadas e mais 20 mil fora? Foi sensacional’.”

22/06/1997. Credito: Washington Alves/EM/D.A Press.

FABINHO, volante

Aquela conquista ampliou a confiança da equipe

“Aquele era um jogo de família. Eu lembro que mulher e criança não pagavam, mas a gente não esperava o recorde de público. Aquilo foi uma bênção. Entramos para a história do Mineirão. O número jamais será batido, pelo fato da capacidade de lugares ter diminuído. Tivemos um jogo muito difícil em Nova Lima, perdemos por 2 a 1, mas com uma vitória simples no Mineirão, levaríamos o título. Dificilmente perderíamos em casa, pois perdíamos poucos jogos lá. Nosso time era muito entrosado.

Não tínhamos muita noção de público, pois ficamos concentrados e não dá pra dimensionar a quantidade de pessoas. Eu lembro que, no dia jogo, estava muito engarrafado, muito tumulto, mas jamais esperava que fosse bater o recorde de público. Foi um jogo bem atípico, de família, e veio muita gente de Nova Lima também. O cantinho dos visitantes ficou bem apertado.

Foi um jogo bem truncado, depois que fizemos o gol, o Villa tentou sair um pouco e não conseguiram ameaçar a gente, pois tínhamos um time bem entrosado e estávamos retrancados, pois o empate era deles. Não quisemos arriscar para fazer o segundo gol, claro, jogamos com uma proteção na defesa, mas atacamos com uma certa responsabilidade para ampliarmos o placar. Aquela conquista ampliou a moral da equipe, que já vinha de três títulos, para a disputa da Libertadores daquele ano”

 Arquivo/Estado de Minas

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