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Wagner Pires de Sá e Hermínio Lemos assinam renúncia e deixarão Cruzeiro nesta sexta-feira

Saída tripla depende apenas da assinatura do segundo vice, Ronaldo Granata

postado em 19/12/2019 18:01 / atualizado em 19/12/2019 20:05

(Foto: Reprodução)
Está perto do fim a 'era Wagner Pires de Sá' no Cruzeiro. Em nota, o presidente informou que já assinou a ata com os termos de sua renúncia. O documento será entregue a José Dalai Rocha, presidente do Conselho Deliberativo, nesta sexta-feira para oficialização de sua saída.

A ata também já tem a assinatura do primeiro vice-presidente, Hermínio Lemos. De acordo com o comunicado publicado por Wagner nesta quinta-feira, resta apenas o sinal positivo do segundo vice, Ronaldo Granata, para a saída em bloco da chapa eleita em 2017.

Ao Superesportes, Granata disse que assinará a ata nesta sexta-feira. "Só me ligarem que vou assinar".

Leia, a seguir, a nota publicada pelo Cruzeiro:

"COMUNICADO OFICIAL – DIRETORIA DO CRUZEIRO ESPORTE CLUBE

O Cruzeiro Esporte Clube vem a público informar que o presidente do Clube, Wagner Pires de Sá, e o 1º vice-presidente, Hermínio Francisco Lemos, assinaram na tarde desta quinta-feira a carta de renúncia aos seus respectivos cargos no Clube Celeste.

O Clube ainda comunica que na manhã desta sexta-feira ambos farão a entrega da carta ao presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, José Dalai Rocha.

Portanto, ficará faltando a carta de renúncia do segundo vice-presidente, Ronaldo Granata."

Novos rumos

A partir da renúncia tripla, José Dalai Rocha assumirá a presidência interinamente até a realização de novas eleições. O período de transição terá ainda a participação de um Conselho de Notáveis, formado por Pedro Lourenço (dono do Supermercados BH), Emílio Brandi (dono da distribuidora de alimentos Nova Safra), Pietro Sportelli (dono da Aethra, empresa fabricante de componentes automotivos), Alexandre de Souza Faria (dono da Multiseg, corretora de seguros), Carlos Ferreira Rocha (sócio do frigorífico Uberaba), Jarbas Matias dos Reis (diretor regional da Galvão Engenharia S/A), Walter Cardinali Júnior (advogado) e Saulo Tomaz Froes (dono da Lokamig, locadora de veículos).

A tendência é que a chapa vencedora da eleição (presidente e dois vices) tome posse em junho, com um mandato de três anos e meio, até dezembro de 2022. Acometido por uma gestão temerária que praticamente dobrou a dívida geral em pouco mais de dois anos, o Cruzeiro tem como principais objetivos subir da Série B para a A e realizar um plano em longo prazo de recuperação de suas finanças. O clube completará 100 anos de fundação no dia 2 de janeiro de 2021.

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Uso da máquina

Eleito em outubro de 2017 com o aval de pessoas importantes do clube, casos do ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares e do ex-vice-presidente de futebol Bruno Vicintin, Wagner Pires de Sá pregou o discurso de que faria “engenharia financeira” para equilibrar as finanças celestes. Entretanto, tornou-se figura decorativa por delegar inúmeras de suas atribuições aos homens de confiança - Itair Machado, ex-presidente do Ipatinga, e Sérgio Nonato, ex-comentarista do programa Alterosa Esporte. Pires de Sá ganhou da torcida o apelido de Rainha da Inglaterra.

A nomeação de Itair Machado para o departamento de futebol foi, inclusive, o estopim para Wagner perder o apoio tanto de Gilvan quanto de Vicintin. Por outro lado, houve fortalecimento no Conselho Deliberativo no grupo denominado ‘Família União’. Muitos apoiadores dessa corrente ganharam cargos diretivos com remunerações polpudas nas Tocas da Raposa I e II, na sede administrativa e nos clubes sociais do Barro Preto e da Pampulha. Destaques para Alexandre Comoretto, o Gaúcho, e Vitório Galinari.

No primeiro ano da gestão de Wagner Pires de Sá, o Cruzeiro venceu, com o elenco montado  por Gilvan, o Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil - tendo faturado premiação recorde de R$ 61,9 milhões pela segunda conquista. Em 2019, ganhou o bi consecutivo do estadual, novamente em cima do rival Atlético, e fez boa campanha na fase de grupos da Copa Libertadores - líder isolado do Grupo B, com 15 pontos. Em várias ocasiões, o presidente protagonizou cenas excêntricas, chegando, inclusive, a mergulhar em uma banheira de água fria durante os festejos da Copa do Brasil de 2018. Entre um porre e outro, ele mesmo se definia como ‘presidente-raiz’.

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Denúncias e investigações

O ‘mar de rosas’ se transformou em ‘coroa de espinhos’ a partir do momento em que o mandato de Wagner Pires virou assunto nas páginas policiais. No dia 26 de maio, o programa Fantástico, da TV Globo, tornou pública a investigação da Polícia Civil contra a diretoria cruzeirense sobre suspeitas de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica, além de quebras de regra da Fifa, da Confederação Brasileira de Futebol e do Governo Federal.

O fato mais grave era sobre um empréstimo de R$ 2 milhões contraído com o empresário Cristiano Richard dos Santos Machado, sócio de firmas que atuam na locação de veículos e de equipamentos de proteção. Para abater o débito, o clube, segundo inquérito da Polícia Civil, incluiu parte dos direitos de jogadores do profissional, como David (20%), Raniel (5%), Murilo (7%), Cacá (20%), e de outros que passaram pela base e foram negociados, casos de Gabriel Brazão (20%) e Vitinho (20%). Além disso, o Cruzeiro inseriu participação em uma possível venda do promissor Estevão William, de apenas 12 anos, que, pelas leis trabalhistas, só poderá assinar vínculo laboral a partir dos 16.

Abusos e suspeitas de crimes

A Polícia Civil ainda apura superfaturamento de serviços, notas frias, comissões abusivas para empresários de atletas, aumentos substanciais nos salários de dirigentes, entre os quais os do ex-vice-presidente de futebol Itair Machado, R$ 180 mil mensais, e do ex-diretor-geral Sérgio Nonato, R$ 125 mil mensais. Integrantes de outras pastas também tinham remunerações consideradas acima do mercado. Outras possíveis irregularidades apuradas pela PCMG foram apontadas na contratação de conselheiros para a prestação de serviços e o pagamento a torcidas organizadas.

(Foto: Tulio Santos/EM D.A Press)

Reflexos no campo

O caos político e administrativo refletiu no futebol. Depois de ser eliminado para River Plate, nas oitavas de final da Copa Libertadores, e Internacional, pela semifinal da Copa do Brasil, o Cruzeiro fez campanha muito ruim no Campeonato Brasileiro - a pior de sua história na era dos pontos corridos - e caiu para a Série B em 17º lugar, com 36 pontos em 38 rodadas. No jogo do rebaixamento - derrota para o Palmeiras no dia 8 de dezembro, por 2 a 0, no Mineirão -, houve quebradeira e pancadaria no Mineirão.

A falta de planejamento ao longo da competição acelerou o rebaixamento inédito à segunda divisão. Substituto de Mano Menezes, Rogério Ceni durou apenas oito jogos como técnico, enquanto Abel Braga, que entrou no lugar do ex-goleiro, contabilizou 14 partidas. Adilson Batista não conseguiu cumprir a missão de ‘salvador da pátria’ nas três rodadas finais. Enquanto a torcida se frustrava com tropeços contra adversários praticamente rebaixados, Wagner Pires de Sá se esquivava de entrevistas e evitava a imprensa. 

Descontrole financeiro

Em meio ao maior vexame esportivo de sua história, o clube lida com atrasos nos salários de outubro, novembro e 13º, além de oito meses de direitos de imagem pendentes. A dívida geral subiu de R$ 386 milhões, no último ano da presidência de Gilvan de Pinho Tavares (2017), para R$ 520 milhões, na primeira temporada de Pires de Sá (2018). De acordo com o ex-gestor de futebol, Zezé Perrella, o passivo total do Cruzeiro já ultrapassou R$ 700 milhões. E a receita cairá bruscamente, sobretudo pela perda de pelo menos R$ 50 milhões em cota de televisão. O balanço do exercício de 2019 só será divulgado em abril de 2020.

Sem comando, o Cruzeiro nem sequer discutiu o seu orçamento para o próximo ano. Não há previsão de receitas e gastos. O Conselho Gestor terá de correr contra o tempo para tomar ciência do quadro financeiro, organizar a casa e dar suporte para o departamento de futebol.

Pressão da torcida nas ruas

Inicialmente, Wagner Pires hesitou em abrir mão da presidência. Em entrevista ao Superesportes, ressaltou que “só renuncia quem é covarde”, chamou os “torcedores de internet” de “robôs criados” e garantiu que as redes sociais não representavam o sentimento de quase dez milhões de pessoas. Os cruzeirenses, então, mobilizaram-se para exigir a saída do presidente por meio de protestos na porta da sede, em frente às residências de diretores e nos grupos de WhatsApp. E conselheiros de oposição formalizaram pedidos de afastamento.

Paralelamente, Zezé Perrella teve opiniões divergentes a respeito de Pires de Sá. Enquanto presidente do Conselho Deliberativo, chamou-o de ‘Rainha da Inglaterra’, já que Itair Machado e Sérgio Nonato eram quem, de fato, davam ordens no clube. No início de outubro, a dupla saiu do Cruzeiro, e Zezé foi nomeado gestor de futebol. O discurso logo mudou, com Wagner sendo poupado de críticas e até eximido de responsabilidade pelo descalabro financeiro. Porém, ao ser destituído da gestão de futebol, Perrella tornou a disparar contra Wagner e acusou Itair e Serginho de interferência em sua saída.

(Foto: Leandro Couri/EM D.A Press)

Mudanças no futebol

Antes da renúncia de Wagner Pires, o Cruzeiro renovou o contrato do técnico Adilson Batista até dezembro de 2020, mantendo ainda o auxiliar Cyro Garcia e o preparador físico José Mário Campeiz. A negociação foi conduzida pelo vice-presidente de futebol Márcio Rodrigues, nomeado em 12 de dezembro para a função, e pelo diretor de futebol Marcelo Djian.

Agora, com José Dalai Rocha na presidência e a entrada em cena do Conselho Gestor, a tendência é de mudanças drásticas em vários departamentos do clube e também no futebol. Em entrevista ao Superesportes, Pedro Lourenço adiantou que manterá o técnico Adilson Batista, mas promoverá uma “limpa” para enxugar a folha. O nome cotado para assumir a gestão do futebol é de Alexandre Mattos.

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