A Comissão de Ética e Disciplina do Cruzeiro concluiu, nesta terça-feira, os trâmites para definir a expulsão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice-presidente, Hermínio Lemos. O Superesportes apurou que três dos cinco integrantes da Comissão assinaram pela exclusão da dupla dos quadros do Conselho Deliberativo.
No curso do processo interno, os dois tiveram oportunidades de apresentar defesas. Ainda assim, os membros da Comissão entenderam que os fatos indicam gestão temerária durante o mandato, entre 2018 e 2019. O grupo interpreta que não há necessidade de a decisão ser submetida a outros órgãos do Cruzeiro.
Eles se baseiam no artigo 18 do Estatuto do Cruzeiro, que trata sobre a perda de mandatos de conselheiro nato, efetivo ou suplente. O documento diz que a Comissão de Ética e Disciplina tem poderes para determinar cometimento de “falta de natureza grave”, o que determinaria a perda de mandato.
Procurado, o presidente em exercício do Conselho Deliberativo, José Dalai Rocha, disse que já recebeu o documento. “Está na minha mesa, mas ainda não tive oportunidade de ler”, confirmou. Questionado se basta a deliberação da Comissão de Ética, ele desconversou. “Eu preciso ver primeiro o que eles escreveram para conseguir responder isso. Vamos ver”, completou.
A informação que corre nos bastidores é que Dalai está inseguro sobre como deve ser o rito dessas expulsões no Conselho Deliberativo. Depois de assinar 30 expulsões de conselheiros remunerados pela antiga gestão, ele sofreu grande desgaste no órgão. Vale lembrar que o mandato do atual mandatário terá fim em 31 de maio.
A informação que corre nos bastidores é que Dalai está inseguro sobre como deve ser o rito dessas expulsões no Conselho Deliberativo. Depois de assinar 30 expulsões de conselheiros remunerados pela antiga gestão, ele sofreu grande desgaste no órgão. Vale lembrar que o mandato do atual mandatário terá fim em 31 de maio.
Uma das principais razões do pedido de expulsão é o fato de a antiga administração ter deixado de pagar três meses de salários ao grupo de jogadores. Isso motivou uma debandada, já que vários jogadores conseguiram rescisões unilaterais na Justiça do Trabalho. Levantamento baseado no site Transfermarkt, publicado pelo Superesportes em fevereiro, mostrou que os atletas que deixaram o clube desta forma poderiam render mais de R$ 60 milhões aos cofres do clube.
Além disso, diretores da administração de Wagner são considerados suspeitos por lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica. No último mês, uma série do Superesportes também revelou a farra dos cartões de crédito corporativos. Nessa segunda, outra farra foi escancarada: a dos ingressos. Além da apuração interna, finalizada nesta semana pela empresa Kroll, há investigações da Polícia Civil e Ministério Público.
Em entrevista à Rádio Itatiaia, nessa segunda-feira, o presidente do Conselho Gestor do Cruzeiro, Saulo Fróes, também defendeu as expulsões. “É isso que a torcida está pedindo. Se a Justiça vai retornar com eles ou falar que a nossa ação não foi correta e devolve o cargo deles de conselheiro no Cruzeiro, isso é um problema da Justiça. Nós vamos fazer a nossa parte e vamos sugerir isso sim”, disse.
Procurados, Wagner Pires de Sá e Hermínio Lemos não atenderam aos telefonemas da reportagem. O Superesportes também enviou mensagens aos dois ex-dirigentes, mas ainda não obteve qualquer tipo de resposta.
Essa é a segunda decisão sobre expulsão tomada pela Comissão de Ética. Em meados do mês passado, o grupo encaminhou parecer a José Dalai Rocha defendendo as exclusões de 30 conselheiros que foram remunerados pela administração Wagner Pires de Sá. Entre eles, o filho do ex-presidente Zezé Perrella, Gustavo Perrella, e o ex-diretor-geral do Cruzeiro, Sérgio Nonato. A maioria deles conseguiu, no entanto, recuperar o posto em decisão liminar da Justiça. O Cruzeiro recorreu e aguarda resultado do processo.
Históricos
A história de Wagner no Cruzeiro teve início na década de 1990, quando foi diretor de planejamento na gestão de Benito Masci. Em 1992, se tornou conselheiro nato do clube. Participou por nove anos do Conselho Fiscal, durante as presidências de Zezé e Alvimar Perrella, sendo três deles como presidente. Em 1966, a pedido de José Francisco Lemos, Wagner foi autor do Plano Diretor econômico-financeiro para viabilizar a continuidade e construção da Sede Campestre do Cruzeiro.
Em 2017, ele surgiu como candidato à presidência do Cruzeiro com apoio do então mandatário, Gilvan de Pinho Tavares. Venceu a eleição por 35 votos ao bater o advogado Sérgio Santos Rodrigues, da ala do ex-presidente Zezé Perrella. Sua gestão, no entanto, foi parar nas páginas policiais em 2019, quando a Polícia Civil e o Ministério Público iniciaram investigações contra membros de sua gestão suspeitos de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica.
Em campo, Wagner presidiu o Cruzeiro que venceu a Copa do Brasil de 2018 - com um time formado pela maioria dos jogadores contratados na ‘era Gilvan de Pinho Tavares. Por outro lado, viu, em 2019, o time ser rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro pela primeira vez na história. O cenário da maior crise institucional do clube a pressão da torcida e do Conselho Deliberativo fez o ex-mandatário renunciar ao cargo em dezembro de 2019.
Já Hermínio Lemos pertence a uma família historicamente ligada ao Cruzeiro. Ex-presidente do Conselho Deliberativo e, portanto, conselheiro benemérito, ele é irmão mais novo de José Francisco Lemos, ex-presidente do clube e decano do Conselho. Além de vice-presidente eleito, Hermínio ocupou o cargo de vice-presidente administrativo na gestão Wagner (2018-2019).