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Em busca de sonho no UFC, mineira Amanda Ribas é campeã de solidariedade em Varginha

Atração da Ilha da Luta do UFC, sábado, atleta divide a carreira entre octógono e inclusão social para formação de atletas na cidade onde nasceu e ainda reside

postado em 06/07/2020 09:33 / atualizado em 06/07/2020 15:11

(Foto: Reprodução/UFC)
Aos 26 anos, Amanda Ribas estará diante de seu maior desafio até agora na incipiente e promissora carreira nas artes marciais mistas. A lutadora de Varginha representará a cidade e o estado de origem em um dos eventos mais badalados do ano, o UFC 251. Será a estreia da Ilha da Luta, em Yas, Abu Dhabi, no próximo sábado (11). A mineira vai enfrentar a norte-americana Paige VanZant, na abertura do card principal, pela divisão peso mosca (57kg). 

Além da visibilidade de lutar em um evento de destaque, que terá nomes importantes disputando cinturão em três categorias diferentes – entre eles José Aldo (Gilbert Durinho, que desafiaria Kamaru Usman no evento principal, foi afastado por contrair COVID-19) – , Amanda Ribas terá a chance de avaliar o desempenho em uma divisão na qual nunca lutou. A mineira venceu as três lutas que disputou, todas pelo peso palha (52kg), e decidiu aceitar a proposta de enfrentar Paige VanZant na categoria de cima. 

Em uma conversa com o Superesportes, ainda em Varginha, antes do embarque para Abu Dhabi, Amanda Ribas comentou sobre o sonho de se consagrar campeã do UFC no futuro e, como terá a chance de lutar em duas divisões de peso, pensa até em repetir o sucesso de outra Amanda, a Nunes, a Leoa de Salvador, dona do cinturão dos galos (62kg) e penas (66kg). 

(Foto: Arquivo Pessoal)


Além do sonho de levar Varginha para o topo do MMA, Amanda Ribas tem outro objetivo: contribuir para o esporte por meio da inclusão social e a formação de atletas. Ao lado do pai e mentor, Marcelo Ribas, líder da Team Ribas, na cidade mineira, ela cuida das duas unidades da Casa do Atleta. O projeto consiste em dar chance a crianças, adolescentes e adultos de várias classes sociais e ambos os sexos, que pretendem fazer carreira nas artes marciais ou mesmo melhorar a qualidade de vida. 

“Comecei o projeto da Casa do Atleta com o meu pai e já vamos levar atletas para lutar no Shooto Brasil (evento nacional de MMA). E queremos crescer mais, para que tenhamos até mais professores para a criançada. Tem gente que chega do Nordeste, São Paulo, Minas...E quem não consegue pagar mensalidades, firmamos parcerias com bares e restaurantes, alguns trabalham lá durante a semana. E contribuímos com ajuda de custo para que eles possam treinar, mas nada é de graça. Todos precisam ajudar com limpeza da casa e da academia e também dar aulas. Fico feliz, pois muitos chegam aqui sem nada, sem luvas para treinar, mas conseguem ganhar um dinheirinho. Às vezes não conseguimos formar atletas de ponta, mas conseguimos formar um cidadão do bem”, afirmou Amanda. 

A dedicação da faixa-preta de judô e jiu-jítsu é tão grande com o projeto que ela adiou uma eventual saída para residir e treinar em definitivo nos Estados Unidos. Esse é um objetivo mais para adiante, conforme Amanda Ribas. “Quero estruturar mais o projeto da Casa do Atleta, com um projeto para crianças. Muitas vezes, nas férias, elas não têm o que fazer e muitas vão para as ruas e fazem coisas erradas, até usam drogas. Depois sim, quando o projeto estiver estruturado, aí eu penso em morar fora do Brasil”, frisou. 

Bem-humorada, Amanda Ribas comentou com a reportagem do Superesportes o carinho por Varginha e o apoio não só da família, mas da população. “Nas lutas que fiz no UFC, montaram telão no shopping e muita gente assistiu. Aqui é a cidade do ET, do café, e agora da lutadora do UFC, Amandinha Ribas (risos). Eu fico felizona, até choro quando vejo vídeos das pessoas assistindo às minhas lutas no shopping. Muitos mandam mensagem, falam que sou inspiração e que vou sair de Varginha para conquistar o mundo. O importante é ter força de vontade e disposição, colocar a melhor energia naquilo que faz”, receitou. 

(Foto: Arquivo Pessoal)


Confira a entrevista com Amanda Ribas


Depois de bom começo no UFC, você acha que terá a grande chance de despontar nesse evento na Ilha da Luta?

A oportunidade já tinha aparecido antes, só que na minha categoria. Infelizmente, a Paige VanZant se machucou, agora apareceu outra oportunidade, em um evento com muita expectativa. Quando me falaram que eu lutaria com a Paige e no card principal, fiquei muito feliz. Treinei muito e quero aproveitar a chance. Ela é muito conhecida nos EUA e é muito bom, vou conseguir atingir um público que talvez não atingiria se lutasse com outra pessoa. Mesmo sendo em outra categoria, mais pesada que a minha, tenho certeza que vou dar show no octógono. Treinei muito para isso. 

Depois de três vitórias seguidas no peso palha, você vai encarar o desafio na divisão dos moscas. Por que decidiu subir para essa luta? Pretende se testar em outra categoria? Ou a prioridade é mesmo o peso palha?

O UFC me ofereceu essa luta na divisão até 57kg e eu resolvei aceitar para me testar. Creio que a gente nunca pode se acomodar, na luta ou na vida. Então eu resolvi aceitar essa chance para me testar na categoria de cima. Quem sabe, no futuro, eu copie a minha querida Amanda Nunes, da qual eu sou fã, ela é campeã em duas categorias. Então, quem sabe? Mas primeiro eu quero me testar, ver como me sentirei na divisão acima.  É só comer mais um pouquinho (risos), que luto na divisão 57kg. Mas quero voltar para a minha divisão e subir no ranking. Quero chegar ao top 5 e, quando conseguir, posso lutar também na dos moscas. 

Você acha que o fato de o UFC ter programado duas lutas femininas no card principal de um evento tão importante como esse na Ilha da Luta mostra que a organização valoriza o MMA feminino?

Mostra que as mulheres chegam com tudo, não só na vida em si, mas no esporte,no UFC e no MMA. Muita gente quer assistir às nossas lutas, então isso mostra que as mulheres vêm mostrando qualidade, técnica e agressividade, e isso chama o público. O UFC não ia promover duas lutas femininas no card principal, se não soubesse que o público ficaria atraído. Isso me deixa muito feliz.

Você enfrentaria a VanZant antes, mas ela sofreu duas fraturas e a luta foi remarcada. Já esperava pela remarcação dessa luta? 

Eu já esperava lutar com ela, até pedi, depois da última vitória, ainda no octógono, que o UFC remarcasse a luta. Porque eu penso que vai ser uma luta muito interessante, para mim será a chance de alcançar outro público. E gostei de ser na categoria de cima.

Paige VanZant recentemente reclamou dos salários pagos pelo UFC, foi mais um atleta a expor insatisfação publicamente. Apesar de ter começado há menos tempo q ela no UFC, você concorda? Como vê essa situação dos pagamentos aos atletas?

Tudo depende de como vender as lutas. Se você vencer a luta e conseguir ganhar bônus, isso conta muito. Há muitos homens que não ganham muito dinheiro também. Creio que tudo depende de como conseguir vender a luta.

Nas duas lutas anteriores, você manteve estratégia de não se expor e procurar brechas para derrubar ou finalizar. Contra VanZant, que é mais da trocação, projeta o mesmo plano?

Cansei de deixar nas mãos dos juízes, não tenho nada contra eles, mas acho mais interessante terminar a luta finalizando ou nocauteando. Eu quero mesmo é finalizar, mostrar o meu jiu-jítsu. Espero que seja uma luta que não termine em 15min e sim até antes do terceiro round. Seja com finalização ou nocaute.

(Foto: Arquivo Pessoal)


Como é sair de Varginha, crescer no meio antes dominado por homens, as artes marciais, e chegar ao UFC? 

Minas Gerais tem muita estrela, mas muitas vezes temos que sair para mostrar isso. Agora temos uma federação de MMA, que faz um trabalho legal, incentiva a galera com eventos para mostrar atletas mineiros. Temos o Borrachinha, a Poliana Botelho, muitos atletas chegando. Todo mundo treina em alto nível, o que falta é nós, atletas, fazer com que a mídia volte os olhos para a gente. Temos centros de treinamentos bons, com atletas de qualidade, faltam mais eventos aqui em Minas.

Falando em Varginha, como é a relação com a cidade? 

Muita gente pensa que, por morar no interior, não consegue competir com alguém que mora na capital, mas quero mostrar que é possível não só competir como também vencer. Eu fico felizona porque minha família se reúne para assistir (às lutas). Aqui há um shopping, as pessoas vão lá assistir às lutas no telão e até choro quando vejo o vídeo. Muita gente me manda mensagem, falam que sou inspiração. Fiz o camp todo aqui, pois não deu para viajar antes para os EUA. Fiz a parte técnica com o meu pai e a física com meu irmão aqui na academia. A parte de chão e quedas trabalhei com meus treinadores nos EUA usando o Facetime. Como a gente tem a Casa do Atleta aqui em Varginha, dá para treinar com muita gente na academia. A galera aqui é forte, deu para treinar bem. 

Você acha que o Brasil ainda é um país machista ou com muito preconceito? 

Isso mudou. Tem muita gente, até senhorinhas que falam que viram minhas lutas, isso me deixa muito satisfeita. Mas creio que ainda existe um preconceito, as pessoas pensam que lutadora tem que ter cara fechada, ou mesmo ser marrenta. Isso não é verdade, tem muita gente que conversa comigo e se surpreende, pensam que eu deveria ser musculosa ou brava. Nossa geração veio para mostrar isso, a luta é para valorizar técnica, sorrindo também podemos ganhar de muita gente.

Qual o futuro de Amanda Ribas no UFC? 

Primeiro, se o UFC voltar a Minas, com certeza vou querer lutar perto de minha mãe, minha casa, meu pai. Dou até um beijo na testa do Dana (White, presidente do UFC) se ele me escalar para lutar aqui em Minas (risos). Quero focar também no meu projeto da Casa do Atleta. E espero manter a competitividade e que cheguem mais meninas boas no UFC, pois se você pensa em ser campeã tem que lutar contra as melhores.

UFC 251


Sábado, 11 de julho
Ilha da Luta, em Yas, Abu Dhabi (Emirados Árabes)

Card principal
Kamaru Usman x Jorge Masvidal* - cinturão dos meio-médios
Alexander Volkanovski x Max Holloway – cinturão peso pena
Petr Yan x José Aldo – cinturão peso galo
Jéssica Bate-Estaca x Rose Namajunas – peso palha
Amanda Ribas x Page VanZant – peso mosca

Card preliminar
Volkan Oezdemir x  Jiri Prochazka – meio-pesados
Zhalgas Zhumagulov x Raulian Paiva – peso mosca
Karol Rosa x Vanessa Melo – peso galo
Makwan Amirkhani x Danny Henry – peso pena
Léo Santos x Roman Bogatov – peso leve
Elizeu 'Capoeira' x Muslim Salikhov – meio-médios
Tai Tuivasa x Jarjis Danho – peso pesado
Shamil Abdurakhimov x Ciryl Gane – peso pesado

*Entrou no lugar de Gilbert Durinho, que testou positivo para COVID-19 

Tags: varginha UFC peso mosca Paige VanZant Amanda Ribas ilha da luta UFC 251 casa do atleta