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Aniversariante do dia, Cincunegui vive cercado de cuidados da família, que não esquece o Galo

Ex-jogador do Galo sofreu um AVC em 2006 e convive com as sequelas da doença

postado em 28/07/2015 09:45 / atualizado em 28/07/2015 12:41

Arquivo EM. Brasil
Ídolo do Atlético, o uruguaio Cincunegui completa 75 anos nesta terça-feira. Longe do futebol, hoje o ex-jogador descansa em Montevidéu ao lado da mulher e de um dos dois filhos. Os tempos áureos de boleiro ficaram para trás. Agora, o ‘Gringo’, como também era conhecido, convive com uma triste realidade. Um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em 2006, não lhe roubou a vida, mas deixou sequelas graves, como a dificuldade de se expressar e a perda da memória.

Em entrevista ao Superesportes por telefone, Fernando Cincunegui Gonzalez, filho mais velho de Cincunegui, contou os momentos delicados pelos quais o pai passou. As histórias felizes com a camisa do Galo também foram relembradas com carinho pelo filho zeloso, que faz questão de se dizer atleticano. Fernando, inclusive, em seu perfil no Facebook, se apresenta com o fardamento alvinegro: "Torcemos para o Danubio e para o Nacional, no Uruguai, e para o Galo, no Brasil", diz.

O trágico AVC que acometeu Cincunegui ocorreu após um jogo do Danubio, pelo Campeonato Uruguaio, em 2006. Depois da peleja, ele voltou para casa e começou a sentir uma forte dor de cabeça. Receoso de ficar internado em um hospital, proibiu a mulher de acionar o sistema de atendimento de urgência de Montevidéu. A esposa chamou o filho Fernando, que logo pediu uma ambulância.

Fernando explica com detalhes o episódio: “Ele voltou do estádio, e ficou deitado na cama em casa. Quando minha mãe chamou para comer, ele não queria levantar. Quando cheguei em casa, ele me disse que não tinha nada, disse que estava com dor de cabeça. Minha mãe trouxe um café, mas ele não conseguia sair da cama, estava paralisado. Rapidamente, chamei um médico. Depois de um tempo no hospital , o médico disse que era um derrame. O cerebelo ficou espremido pelo sangue e tinha que passar por uma operação”, contou.

Jorge Gontijo/Estado de Minas
Então com 66 anos, Cincunegui enfrentava a pior batalha da sua vida. Segundo o filho, os médicos alertaram para a necessidade de uma cirurgia: por ser uma intervenção delicada, o ex-jogador corria sério risco de morrer. "Os médicos falaram assim: 'ele pode morrer se operar e se não operar a situação pode piorar ainda mais'. Decidimos que era o momento de fazer a cirurgia, tentar uma solução definitiva", explicou Fernando.

A operação foi um sucesso, e Cincunegui se recuperou bem, tomando uma medicação prescrita pelos médicos. Depois de um tempo, contudo, as sequelas se potencializaram. "Acredito que por causa da medicação ele começou a sentir os resultados da doença. Ficou duro, com muita dificuldade de locomoção, faz muita força para poder caminhar, pegar uma coisa qualquer. Outro problema é que ficou muito quieto, sem se comunicar bem. Até hoje ele tem muita dificuldade de reconhecer as pessoas", conta.

A família consultou outros médicos e trocou a medicação. Cincunegui demonstrou uma pequena evolução no seu quadro clínico. "Hoje ele conhece minha mãe, meu irmão e alguns amigos, mas ele faz questão de cumprimentar a todo mundo", diz Fernando. O ex-jogador faz caminhadas pelo quintal da casa com a ajuda dos filhos e da mulher. "Ele ficou bem, fala pouco, mas se faz entender com caretas. Ele ri, dança. Sempre no verão e na primavera, nós vamos para o parque e caminhamos. Ele, às vezes, tenta chutar uma bola".

Passagem pelo Atlético

Fernando diz que o pai sempre contava, saudoso, dos tempos em que jogou no Atlético. Com quase 200 jogos com camisa alvinegra, Cincunegui brilhou em Minas Gerais entre 1968 e 1973. Segundo o Galo Digital, ele foi comprado ao Nacional, do Uruguai, por 40 mil dólares. O lateral-esquerdo compunha o elenco da equipe campeã do Campeonato Brasileiro de 1971.

"Ele lembrava com muito carinho do Brasil, sobretudo, do Galo. Ele jogou no Náutico também, mas falava mesmo era do Galo. Ele brincava e dizia sempre que era como Roberto Carlos, que tinha 'um milhão de amigos' no Brasil", relembra Fernando. Em Minas Gerais, muito se falava sobre a vida boêmia do ex-jogador. Uma edição da revista Placar confirma essa fama: “Como adorava a noite, foi dispensado pelo técnico Yustrich, mas voltou ao time a pedidos do povão”, publicou, citando o treinador linha dura Dorival Knipel, o Yustrich. Autoritário, o comandante não perdoava atrasos e nenhum tipo de desobediência ou enfrentamento por parte dos jogadores.

Cincunegui e Yustrich tinham uma relação conturbada. Certa vez, o uruguaio retardou seu retorno a Belo Horizonte, sendo duramente criticado pelo treinador. As cobranças eram tantas que os dois protagonizaram cenas de discussões ásperas. Yustrich deixou o Galo em 1969, aliviando a situação do uruguaio.

O curioso é que no mesmo ano em que sofreu o AVC, Cincunegui esteve em Belo Horizonte pela última vez. Em agosto de 2006, ele visitou a capital mineira, reencontrou antigos amigos, caso do ponta-direita Natal, ex-jogador do Cruzeiro. Eles protagonizaram grandes duelos em clássicos no Mineirão. O uruguaio aproveitou para passar no Bar do Salomão, sendo homenageado pelos atleticanos em um dos mais tradicionais redutos alvinegros da capital.

Durante os jogos da Copa Libertadores, que são transmitidos no Uruguai, Fernando diz que sempre conversa com o pai, buscando resgatar memórias. "Sempre digo: 'pai, olha o Galo na TV, olha a camisa alvinegra, lembra?' Ele ri, mas não sei se ele realmente entende", conta Fernando.

As maiores conquistas da carreira de Cincunegui foram logradas no Atlético: o Brasileiro de 1971 e o Mineiro de 1970. Na Seleção Uruguaia, Cincunegui foi campeão Sul­-Americano em 1964 e disputou a Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966.

Jair Amaral/Estado de Minas

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