Atlético
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DA ARQUIBANCADA

A vida sempre vence a morte

A gente não gosta mesmo de coisa fácil. Atleticano gosta é de chutar o pé da cama de manhã

postado em 27/08/2016 12:00 / atualizado em 27/08/2016 08:51

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
O atleticano sempre flertou com o sobrenatural. Coisas estranhas nos acontecem – Stranger Things. Às vezes pro bem, mais frequentemente pro mal. A contusão de Marques em 1999; a de Ronaldinho em 2013; a bola que entrou contra o Coritiba na semifinal de 1985 e o juiz não viu; o joelho de Reinaldo, sempre a impedi-lo de ser maior do que Pelé, embora o seja. O atleticano é um pobre filho de Deus em luta diária contra o capiroto, o coisa-ruim, aquele que não se nomeia.

Na quarta-feira, deu-se novamente a peleja entre Deus e o diabo na terra do sol. Engana-se quem pensa termos enfrentado a Ponte Preta. O embate foi com o Bode Preto, diga lá, Riobaldo, se foi ou não foi. Vou além: jogamos contra um selecionado deles – o diabo acrescido do Darth Vader, do Voldermort, do Eduardo Cunha.

Quem tinha razão era o meu amigo Bolivar, um aguerrido general contra o lado negro da Força: tava tudo muito esquisito. A começar pelo Mineirão vazio, um fenômeno que Raul Seixas pode explicar: “É fim do mês! É fim do mês! Eu já paguei a conta do meu telefone, já paguei por eu falar e já paguei por eu ouvir. Eu já paguei a luz, o gás, o apartamento, quitinete de um quarto que eu comprei a prestação pela Caixa Federal. Au, au, au, eu não sou cachorro não!”. Cachorros até somos, a cachorrada, com muito orgulho e com muito amor! Mas o cheque especial, amigo, esse tá feito porco na engorda, fígado de ganso antes de virar foie gras.

Tava esquisito também dentro de campo, aquela leseira, aquele entorpecimento, todo mundo chapadão. Se rolou uma pelada em Woodstock, certeza de que foi daquele jeito lá de quarta-feira. Certeza que era o diabo que já tava operando, minando nossas forças, fazendo o Pratto incorporar o Bebezão, e o Carlos... Bem, o Carlos (foto) tava sendo o Carlos mesmo, essa pode tirar da conta do belzebu.

A chifrada fatal, a rabada de seta na nossa cara, foram as contusões em série: Victor, Rocha, Carioca... Qual é, coisa-ruim, quer sair na mão? Me espera na saída. Logo agora que estávamos num crescendo, em processo de ereção estilo Rocco Sifreddi? Esqueceu-se de que já pagamos esse pedágio no começo do primeiro turno? Tá achando que isso aqui é rodovia privatizada? O Temer cê não tira do jogo, né? A mulher do Cunha, o Jucá, o Renan, o Collor. Igual ao Ronaldo Conceição – como diz o Zeca Espora, esse é de aço. Tudo Avenger.

Outro dia, porém, o Chico Pinheiro me disse o seguinte acerca do impeachment, do triunfo dos idiotas e da ascensão do fascismo, citando a Bíblia e Tolstói, salvo engano: “Fred, a vida sempre vence a morte”. Eis o mantra com o qual atravessarei as trevas. Eis o estado altivo de espírito com o qual acordarei amanhã para o embate com o Grêmio. O atleticano sempre viveu acossado pelo tridente – mas sempre deu a volta no diabo.

A gente não gosta mesmo de coisa fácil. Atleticano gosta é de chutar o pé da cama de manhã com o dedo mindinho, gosta de carro com carburador, de se aposentar aos 70 anos, de queimar a língua no café e ficar engarrafado no trânsito. Pra depois deitar a cabeça no travesseiro e dormir o sono do justo, não sem antes ter feito aquele amor merecido com a sua consorte.

Vai ter volta, bode preto! Tudo tem volta. A vida sempre vence a morte.

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