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Exclusiva com Marcelo Oliveira: sonho de ser campeão no Galo, encaixe do time e calendário

Comandante disse que há espaço para Fred, Robinho e Pratto atuarem juntos

postado em 15/07/2016 12:00 / atualizado em 15/07/2016 10:20

Euler Junior/EM/D.A Press
Com três títulos nacionais nos últimos três anos – Brasileiros de 2013 e 2014 pelo Cruzeiro e da Copa do Brasil de 2015 com o Palmeiras –, o mineiro Marcelo Oliveira ascendeu para a galeria dos grandes treinadores. E continua se aprimorando. Agora, ele faz um trabalho de restruturação no Atlético para transformar um dos mais qualificados grupos do país em um time vencedor. Marcelo afirma que há espaço para Fred, Robinho e Pratto atuarem juntos no esquema alvinegro. “Não tenho preocupação agora. Quando isso for possível, vamos armar o melhor time. É possível os três jogarem juntos nesse sistema ou de acordo com a característica dos jogadores”, diz o treinador, que afirma ter mantido o respeito junto aos torcedores da Raposa depois que veio para o Galo. Na entrevista exclusiva ao Superesportes, o comandante também faz críticas ao calendário e cobra mais união dos treinadores brasileiros.

Você já tinha trabalhado várias vezes no Atlético na base e no profissional. Qual foi o sentimento de quando voltou ao clube, agora com uma carreira mais consolidada?
A diferença grande é essa. Nos meus 10 anos anteriores, passei por juvenil, juniores, fui auxiliar e técnico do profissional por seis vezes em situações de dificuldades. Agora, vim numa situação diferente, com clube muito mais estruturado, com elenco forte... Senti-me muito bem com isso e foi prazeroso voltar. Voltei com entusiasmo. Estamos convivendo com contusões, todos os times passam por isso pela sequência de jogos. Quando dermos uma estabilizada, vamos entrar pelo caminho das vitórias.

São quase dois meses de trabalho, com início irregular e uma reação de quatro vitórias consecutivas no Brasileiro. Suas metas traçadas com a diretoria foram cumpridas até este momento?
Já são quase dois meses, como se fosse um tempo grande para treinador implementar seu trabalho. Tenho 53 dias e 13 jogos. Isso vai dar mais ou menos quatro dias para cada jogo. Essa é a realidade do futebol brasileiro. Não se tem muito tempo, machucam muitos jogadores, no meio do ano tem a janela que tira alguns dos clubes. A meta que tracei com a diretoria é trabalhar sempre, comprometido, intensamente, buscar bons resultados, trabalhar com base na tabela. Infelizmente, perdemos alguns jogos por desatenção e porque aconteceram fatalidades e o time nunca conseguiu repetir da mesma forma para criar lastro ou entrosamento. O Atlético já tinha essa base, mas estamos satisfeitos com o trabalho, dispostos a melhorar os resultados num período curto para trabalhar mais tranquilo e com confiança.

Pela identificação com o Atlético, vencer como treinador seria algo especial em relação a outros clubes?
No período em que estive aqui, não consegui ganhar títulos. E voltar aqui, da forma como fui recebido pela torcida e pelas pessoas do CT, que eu já conhecia, foi gratificante. Tenho essa determinação, essa vontade de buscar coisas importantes. Espero que seja neste ano. Há tempo de recuperação e temos ainda a Copa do Brasil.

O presidente disse que você tem respaldo da diretoria para desenvolver bem seu trabalho. Isso o deixa mais tranquilo?
É muito bom ouvir isso do presidente, que acompanha o dia a dia, preleções e o que está sendo orientado. Sou do futebol há muito tempo e sei como funcionam as coisas. Houve uma motivação grande para voltar. Torcedor também vibrou muito com essa minha volta, pelo meu passado como jogador e técnico na base. Mas, pela cultura estabelecida, todo técnico precisa gerar resultados, mesmo que sejam cobrados imediatamente. Estamos preparados para todas as situações.

Você vem de trabalhos em sequência em grandes clubes do Brasil. De que forma procura absorver novos conceitos e ferramentas do futebol?
Faço isso observando os jogos, vendo o que está sendo feito lá fora, dentro do possível. A maneira legal de reciclar é pelo próprio trabalho, reunir a comissão técnica depois de uma temporada e observar tudo que pode ser melhorado, que tipo de trabalho se pode agregar. Nesses cinco anos, ganhamos seis títulos e não foi por acaso. Foi através de disciplina e trabalho. Há sempre possibilidade de reciclagem, melhorar como um todo. Para fazer estágio fora do país, eu precisava de tempo. Não adianta passar 15 dias nas minhas férias, pois tenho pouco tempo para ficar com meus familiares. Para ficar mais tempo, teria de me ausentar do trabalho, o que seria ruim, porque é o que eu amo fazer.

Em breve, a equipe terá à disposição Fred, Robinho e Pratto ao mesmo tempo. Como escalá-los juntos no seu esquema preferido (4-2-3-1)?
Na verdade, sei que vai acontecer em breve, porque Pratto já está treinando. Cazares, infelizmente, se machucou. Mas não tenho essa preocupação agora. É possível os três jogarem juntos nesse sistema ou de acordo com a característica dos jogadores. Utilizo essa disposição numérica porque a acho muito boa, porque compõe bem durante o jogo e me dá condições de fazer variações. Pode virar duas linhas de quatro e pode ter três à frente e um na armação. Na hora certa, vamos nos preocupar.



Desde o Levir Culpi, todos os técnicos utilizam o Patric em várias posições. Você o enxerga como opção de ataque? Como vê as críticas da torcida?
Quando cheguei, esperava escalá-lo como lateral-direito. Mas, observando os treinos e jogos como lateral, ele perdeu o costume de jogar ali, sai muito da posição, não faz bem a linha de quatro fechado, que é importante no futebol. Isso ocorre pelo fato de ele ser reserva de mais posições. Quando ele fez muito sucesso no Sport, jogava bem adiantado e fazia gols. É um atleta que dá volume, tem entrado e perdido algumas bolas, mas estou mais preocupado com a equipe do que qualquer coisa. Sei das dificuldades que temos com determinados jogadores.

Como está sua relação com os torcedores do Cruzeiro depois de assumir o Galo?
Por incrível que pareça, ela é muito boa. O torcedor do Cruzeiro sempre me aborda com carinho, com respeito e gratidão. Eu também sempre respeitei todas as torcidas e então existe esse respeito.

Em sua última passagem pelo Atlético, sua relação com o ex-presidente Alexandre Kalil ficou estremecida. Considerando que ele ainda é influente no clube, como está essa relação hoje?
É tranquila. Já estive com ele duas vezes, conversamos e nos cumprimentamos em um evento. Não ficou nada além de opção profissional naquela época. Pelo contrário, ele me deu possibilidade de sair e de consolidar minha carreira fora de Minas para voltar depois. Não há problema, e sim, respeito e admiração. Sempre convivemos aqui, não só com ele, como também com o pai dele, que foi meu presidente. É uma coisa absolutamente superada.

Que carências há no atual no grupo que o prejudica na luta pelo título?
Quando cheguei, percebi algumas. Não tínhamos lateral-esquerdo suplente, um reserva do Pratto... Hoje, torcemos pela recuperação de Dátolo e Carlos Eduardo, substitutos do Cazares, que ficará esse tempo fora.

O time atual vive uma dependência do Cazares?
Não é que seja dependente. Ele é muito criativo, se movimenta muito e tem boa dinâmica de jogo. Esse tipo de jogador é raro. Quando surge um jogador assim no Brasil, imediatamente ele é assediado pelo mercado internacional, caso do Goulart, do Éverton Ribeiro, que também faziam essa função. Formam-se poucos jogadores assim e o Brasil fica carente desse tipo de atleta.

Como especialista em base, você vê uma necessidade maior de integração de todas as categorias ao profissional, como é feito no Atlético-PR e em clubes europeus?
Não tenho a noção exata do trabalho que era feito aqui antes. Mas, nesses 50 dias, ativamos isso e achamos que é importante para o clube no futuro ter potencial. Podemos trazer jogadores que dão retorno técnico e têm identificação. E é fundamental para o clube ter atletas que possam ser negociados. Estamos observando no clube. Tenho carinho pela base.

Dependendo do desempenho no Brasileiro, o Atlético pode priorizar a Copa do Brasil no segundo semestre?
Um clube como o Atlético não pode priorizar. Todas as competições são importantes e o torcedor cobra títulos, sobretudo essas duas. São títulos nacionais, que dão vagas na Libertadores.

Qual é o papel dos treinadores na nova gestão do futebol nacional?
Deveríamos ser uma classe mais unida, cobrar mais. Falamos do calendário, mas nada muda. Passou a ter jogo às 11h, jogo às 20h na segunda-feira. A palavra do treinador não tem respaldo maior. Outra coisa cobrada por nós é a saída de jogadores para o exterior. Dizem que são mais de 1 mil fora do Brasil. Se trouxermos 100 ótimos jogadores e distribuir entre os times da Série A, certamente o futebol vai crescer.

Como você vê as críticas à atual safra de treinadores brasileiros?
Se pensarmos por um lado, a crítica é normal, vem do torcedor ou da imprensa. Mas vieram para cá treinadores estrangeiros e também foram criticados. Acho que é bom haver essa interação, que possibilita observar o trabalho dos outros. O treinador brasileiro se relaciona com determinados problemas que são pouco citados. O calendário é uma dificuldade eterna e nunca foi resolvido. Os times europeus jogam 60 jogos no ano e nós jogamos mais de 70. Mas o importante é que o trabalho seja feito com determinação, sofrendo críticas ou não.

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