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'Sonho', confiança, torcida e responsabilidade por resultados: as 'pedradas' rebatidas por Oswaldo de Oliveira na chegada ao Atlético

Treinador assume posto deixado por Micale; contrato vai até o fim de 2018

postado em 26/09/2017 17:33 / atualizado em 26/09/2017 21:49

Antes de começar a responder perguntas dos jornalistas, Oswaldo de Oliveira fez questão de ter o microfone à disposição. Entre as primeiras palavras ditas oficialmente como treinador do Atlético estavam “realização de um sonho”. O experiente treinador de 66 anos assume pela primeira vez o clube alvinegro - um dos poucos grandes do Brasil que ainda não havia dirigido - com um objetivo imediato: afastar o time da zona de rebaixamento. O contrato vai até o final de 2018

Assim que encerrou o pronunciamento inicial, abriu espaço para as perguntas. Pronto para se defender, falou com seriedade: “Atire a primeira pedra”.

Nos minutos seguintes, Oswaldo demonstrou autoconfiança e assumiu a responsabilidade pelos resultados até o final da temporada. A equipe alvinegra vive mau momento e tenta se afastar da zona de rebaixamento. Atualmente, três pontos distanciam o Atlético do Z4. E, para melhorar o rendimento do time, o treinador deu a receita: recuperar a força psicológica do time e, é claro, contar com o apoio da torcida.


Leia, na íntegra, a entrevista coletiva de apresentação do técnico Oswaldo de Oliveira:

Ramon Lisboa/EM/D.A. Press
Pronunciamento

"Boa tarde, pessoal. Antes da primeira pergunta, eu gostaria de expressar a minha satisfação de estar aqui. Confesso que dirigir a equipe do Atlético é a realização de um sonho. Já dirigi outras grandes equipes brasileiras. Confesso que o Atlético não é só a composição do meu currículo, é a realização de um sonho. Tive uma experiência no Mineirão em 1999, vim com o Corinthians disputar a primeira partida da final daquele Campeonato (Brasileiro) e fiquei impressionadíssimo com a manifestação do torcedor do Galo. Aquilo mexeu comigo, ecoa nos meus ouvidos até hoje. Confesso que esse é um dos motivos mais fortes que fazem eu estar aqui hoje. Queria abrir essa entrevista com esse depoimento. Atire a primeira pedra".


"Fico com a perspectiva, porque diagnóstico é do médico (risos). Rapaz, eu fiquei surpreso, porque estava no Resenha ESPN no domingo, e meu telefone tocou. Já sabia da saída do Micale, que, aliás, quero render aqui minhas homenagens. Trata-se de um treinador prodígio, como o único brasileiro com medalha de ouro na Olimpíada. Rendo minhas homenagens a ele, até pela saída, que rendeu minha vinda ao Atlético. Como eu disse, fiquei surpreso, mas muito feliz de ter essa possibilidade. Era um sonho. Fossem qual fossem as circunstâncias, eu iria aceitar. Como o presidente (Daniel Nepomuceno) disse, não como um treinador 'tampão', mas como um treinador que sonha com o cumprimento do contrato até o ano que vem. Não vim só para o fim do Campeonato Brasileiro. Intenção é terminar bem esta temporada e começar a outra com sonhos, planos para o próximo ano e, aí sim, ter um trabalho mais organizado, mais racional, para dar continuidade da maneira que eu acho que tem que ser o trabalho de um treinador de futebol. Há pouco tempo, estava examinando estatísticas e recebi uma estatística de que de 2000 até este ano, 11 títulos da Libertadores foram de treinadores que estavam no cargo há mais de um ano. Aquelas equipes que trocaram de treinador no meio da temporada não conseguiram o status maior da América do Sul, da Conmebol. É nisso que eu acredito. Os meus melhores desempenhos foi quando pude dar continuidade, mas recentemente no Japão, onde trabalhei cinco anos e consegui, junto com aquele clube, ganhar nove títulos. No Botafogo, foram dois anos, uma classificação para a Libertadores, um título carioca, duas Taças Rio, uma Taça Guanabara. Depois disso, por onde eu passei, meu trabalho foi sempre interrompido e não pude dar continuidade. É nisso que acredito. Não aceitaria vir para o Atlético para completar uma temporada. Não sou mais treinador para isso. Meu sonho, minha intenção, meu plano é muito mais abrangente. Por isso é que respondo não como diagnóstico, mas como análise de uma situação que eu tenho certeza hoje que eu posso realizar".

Situação dos treinadores no Brasil

"A situação dos treinadores do Brasil é concomitante com a estrutura do país socialmente e politicamente. Tudo avança muito vagarosamente em termos de organização, de direito do trabalhador e do cidadão de uma maneira geral. Nós, treinadores brasileiros, estamos pleiteando uma melhoria para a classe. Isso vem se desenvolvendo. Temos pessoas competentes nesse projeto. Dia a dia, isso ganha corpo. Não é 'amanhã' que vamos alcançar nossos desejos, nossos planejamento, mas, a médio prazo, acredito que vamos conseguir dar maior estabilidade ao treinador no Brasil".

Mudança de metas do Atlético

"Primeiramente, trabalho com a satisfação de estar num dos maiores clubes brasileiros, sabendo a bem minha localização e a localização do clube, hoje, no cenário do futebol brasileiro. Futebol é muito cíclico. Num campeonato com 20 equipes, pelo menos dez tem capacidade de levantar esse título. É muito difícil se manter. Algumas poucas equipes se mantém. O Atlético, nos últimos cinco anos, vem ocupando as primeiras posições, mas este ano não conseguiu. Outras equipes também têm se alternado, visitado a segunda divisão. A dificuldade é muito grande. A manutenção no 'top' é muito difícil. Venho enxergando a realidade do futebol brasileiro. Com a proposta de trabalhar da melhor maneira possível, independentemente de Libertadores ou de estabilidade, mas de fazer um trabalho consistente, de durabilidade, e que possa, num futuro próximo, ganhar as grandes competições, como conseguiu há pouco tempo".

Tempo de contrato

"Foi consenso (o tempo de contrato). Acho que eles gostaram até quando falei que aceitaria ficar até o ano que vem. Eles sentiram a seriedade do meu propósito. Se aceito ficar até o fim do ano, não tenho ambição nenhuma. Não é isso que eu quero. Quero fazer um trabalho neste clube, porque tenho capacidade e experiência para isso".


Responsabilidade de resultados até o fim do ano

"Existem dois pontos de vista: o meu e o da sucessão da direção do clube. Do meu ponto de vista, a responsabilidade é minha, sim, porque eu estou aqui hoje para pilotar este projeto. E vou me responsabilizar daqui para frente por tudo o que acontecer. É claro que o rescaldo, o que vem desde o início da temporada pelo menos tem interferência. Hoje, tenho que trabalhar mais a cabeça do jogador do Atlético Mineiro que no plano tático, físico ou técnico. Isso vem sendo trabalhado desde janeiro por outros dois grandes profissionais. Tenho que analisar o que tenho que fazer agora, ver os jogos que faltam e procurar ajudar a equipe. E essa responsabilidade eu tenho, de dar essa continuidade do que tem sido feito até hoje".

Força do elenco do Atlético

"O elenco é tudo aquilo sim. É muito bom. O time é muito bom. Tem variáveis, tem circunstâncias que precisam ser equilibradas. Acho que o momento psicológico não é bom, porque a equipe se afastou dos grandes títulos. Mas acredito muito na reconstrução nesses dois meses que temos, em fazer boas partidas, que essa reestruturação aconteça. Que esse elenco prove a sua capacidade. Trata-se um elenco muito rico, de grandes jogadores, mas que apenas estão inseguros, desconfiados, pelo que tem acontecido de resultados. Por isso falei que nós temos que trabalhar a cabeça, para melhorar".

Força em casa

"Vim aqui no Independência, até comentei com os jogadores, e era sempre uma dificuldade muito grande. Na minha época do Botafogo, por exemplo, jogamos aqui seis partidas e não ganhamos uma no Independência. Até classificamos na Copa do Brasil em 2013, mas não vencemos, empatamos. Sobrevivemos da vitória que tivemos no Maracanã. Acho que isso é muito importante. Acabei de dizer para os jogadores que a torcida do Galo não é o 12º jogador. Ela é parte de cada um deles, porque eu vi esse time se transformar dentro de campo empurrado pela torcida não foi uma, nem duas, nem três vezes. Sempre que vínhamos aqui, tínhamos o cuidado na preparação da equipe para não sofrer essa interferência, mas era quase impossível resistir. A equipe do Atlético sempre foi avassaladora tanto no Mineirão, quanto no Independência. Esse resgate precisa ser feito. Quem tem que fazer isso são os jogadores. Se eles mostrarem para a torcida que ela pode fazer parte de cada um deles, ela (a torcida) vai se transformar e nos ajudar muito nas vitórias".

Falta de tempo nos últimos trabalhos

"Não foi tempo que faltou, foi bom senso. O trabalho vinha sendo bem feito em todos eles. Se você examinar as coisas que vinham acontecendo, faltou bom senso. Muitas vezes não concordei com uma coisa ou outras. Não foi o tempo. Se tivesse seguido, as coisas iam acontecer, como aconteceram em outras experiências que eu tive".

Recuperação de Robinho

"O Robinho, eu acho, é um dos grandes jogadores de todos os tempos do futebol brasileiro. Trabalhei com ele duas vezes no Santos: em 2005 e em 2014. Fico triste de vê-lo no banco, sem dar a recompensa que a torcida espera dele. Vou conversar com ele para saber o que precisamos fazer para que ele volte a ser o Robinho que nós conhecemos".

Estilo ‘Galo Doido’

"(Estilo 'Galo Doido') Depende muito do elenco, dos jogadores que têm, das características de cada um. Lembro que tinha uma característica muito interessante, que era uma bola no Jô, que o Ronaldinho ficava esperando. A sobra, quando ficava para o Ronaldinho, ele virava no Marcos Rocha. E as coisas aconteciam. Aquela pressão doida em cima do adversário. Hoje, desses jogadores, só o Marcos Rocha está aqui, mas está machucado. Temos que jogar com as características que nós temos".

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