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COPA LIBERTADORES

Atlético x Palmeiras: o auxílio de bilionários no caminho para o sucesso

Como Galo e Verdão chegaram ao protagonismo no futebol brasileiro

postado em 20/09/2021 10:30 / atualizado em 21/09/2021 15:18

(Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press e Divulgação)

Além de serem dois gigantes do futebol brasileiro, Atlético Palmeiras têm outro aspecto em comum: o aporte financeiro de bilionários em busca de sucesso esportivo. O Galo conta com o suporte de Rubens Menin, além do apoio de outros empresários, como Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. O Verdão, por sua vez, recebeu dinheiro de Paulo Nobre e de Leila Pereira. 

Os dois clubes se enfrentam nesta terça-feira, às 21h30, no Allianz Parque, pelo jogo de ida da semifinal da Copa Libertadores da América, colocando frente a frente projetos em fases distintas de execução. Enquanto o Porco está consolidado no posto de protagonista do futebol sul-americano, o Galo tenta iniciar este caminho com uma receita que tem ingredientes parecidos, mas com algumas peculiaridades.

O projeto de reestruturação do Palmeiras começou com o advogado e trader da bolsa de valores Paulo Nobre. Presidente do clube de 2013 a 2016, Nobre pegou o time na Série B e conseguiu uma ascensão meteórica. No primeiro ano, o Palestra venceu a Segunda Divisão. Em 2015, o time conquistou a Copa do Brasil e, no ano seguinte, em 2016, levantou o Campeonato Brasileiro.

Nos primeiros anos de gestão, Nobre buscou reduzir a dívida. O primeiro ato administrativo de coragem do presidente super-rico foi tirar cerca de R$ 200 milhões do próprio bolso para cobrir a dívida de curto prazo do Palmeiras, que chegou a zerar os débitos com os bancos naquele período. Sem investimento no futebol, o Verdão viveu dificuldades e quase caiu para a Segunda Divisão em 2014. 

A chegada de Leila Pereira, dona das empresas Crefisa e Faculdade das Américas, marca uma virada. Com o dinheiro da bilionária, o time palestrino passa a ser o mais rico do Brasil. Apenas em 2016, ela injetou R$ 91 milhões. Em todos estes anos, já são cerca de R$ 800 milhões. O Palmeiras é hoje o time no Brasil com maior retorno nas áreas comercial e de marketing (R$ 127 milhões em 2020) muito pela presença de Leila, que quer assumir a presidência do clube. A título de comparação, o Galo conseguiu R$ 21 milhões nessa mesma área no ano passado, R$ 106 milhões a menos que o rival.
(Foto: Divulgação)

O diretor de futebol Alexandre Mattos participou da gestão do Palmeiras naquele período - chegou ao clube no início de 2015 e saiu no fim de 2019. Em contato com o Superesportes, ele explicou o projeto de sucesso do clube paulista. "No Palmeiras, o Paulo Nobre colocou dinheiro próprio (lembrando que ele já recebeu de volta) para que o clube pudesse "respirar" e conseguir se estruturar, criar processos, alavancar receitas, estruturar categoria de base, e aí sim ter orçamento para investir na equipe. Passou 2013, 2014, 2015 e 2016 sem grandes investimentos para que, a partir de 2017, sem receitas antecipadas e vendas importantes, chegar a um patamar que possibilitasse grandes investimentos e se manter sempre brigando por títulos. Leila Pereira foi fundamental, sem a Crefisa seria muito difícil conseguir tão rápido os resultados e a confiança no projeto, mas a diferença é que ela é patrocinadora do clube", disse.

O Atlético segue outro caminho para voltar a ser protagonista no futebol brasileiro. O Galo está aumentando a sua dívida, que já passa de R$ 1,2 bilhão, e investindo no futebol ao mesmo tempo. Parte do débito atleticano é de longo prazo e não tem juros, já que é dinheiro do bilionário Rubens Menin, acionista principal da MRV. As várias contratações feitas pelo alvinegro nos últimos meses tiveram o apoio financeiro de Menin, que tem crédito de cerca de R$ 330 milhões com o clube, segundo informações divulgadas pelo Galo Business Day, em abril. 

O Superesportes questionou o economista e consultor do Itaú BBA, Cesar Grafietti, sobre as diferenças e semelhanças entre os projetos de Atlético e Palmeiras. "Hoje, existem mais semelhanças que diferenças, mas os projetos começaram de maneira diversa. No Palmeiras, o primeiro aspecto atacado foi o da reestruturação financeira e reorganização do modelo de gestão. Os primeiros aportes foram para dar fôlego ao clube e pagar as contas em dia. Depois vieram as contratações. No Atlético, primeiro vieram contratações e os projetos de crescimento, junto com o início da reestruturação, e só em 2021 o clube passou a manter as contas em dia com recursos dos investidores. Precisamos lembrar que o Paulo Nobre assumiu o clube sem receitas de TV, que haviam sido antecipadas. No Atlético, mesmo com contratações o clube seguiu com atrasos salarias e dívidas com outros clubes, o que apenas em 2021 deixaram de existir", frisou.

Grafietti destaca que os clubes vivem momentos diferentes de seus projetos. "O Palmeiras está mais maduro, tem um nível de receitas elevado e estável e colhe os frutos da reestruturação feita no passado. O Atlético ainda está nas fases iniciais do seu projeto. Então, o Palmeiras já tem uma situação mais equilibrada e hoje não depende de aportes para fechar suas contas. Por mais que questionem o contrato com a Crefisa, é injusto dizer que o clube depende dele. Ele é importante mas não há dependência. O Atlético ainda possui desequilíbrio no fluxo de caixa, que talvez se ajuste ao final da temporada caso o bom momento esportivo confirme algumas conquistas. O Palmeiras ainda tem espaço para mais ajustes de custos, enquanto o Atlético precisa encontrar seu ponto de equilíbrio".

Para comprovar o que o economista disse, é preciso analisar o perfil de faturamento do Palmeiras, que é bem diversificado, livrando o clube de ser refém da empresária Leila Pereira. Listamos abaixo as principais fontes de arrecadação do time paulista em 2020:

  • Direitos de transmissão: R$ 183 milhões
  • Marketing e comercial: R$ 127 milhões (dinheiro da Leila e outras ativações)
  • Torcida e estádio: R$ 56 milhões (jogos sem público)
  • Venda de atletas: R$ 149 milhões

Alexandre Mattos também trabalhou no Atlético e teve contato direito com os empresários que dão as cartas no clube (Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador). Ele entrou em 2020 e deixou o Galo no início de 2021. "No Atlético, tudo muito parecido (com o que viveu o Palmeiras no passado), com muita dificuldade financeira, falta de protagonismo, torcida chateada, projeto desacreditado. Com a chegada e aporte financeiro principalmente de Rubens e Rafael Menin, e as ajudas de Ricardo Guimarães e Renato Salvador, a reformulação do elenco, com as saídas de mais de 20 jogadores e um novo perfil de atletas e investimentos a partir de 2020, e com a sequência muito competente em 2021, o clube rapidamente já é protagonista e com grandes chances de títulos não só este ano mas por muitos anos pela frente como acontece com o Palmeiras", avalia o diretor.
(Foto: Divulgação / ARENA MRV)

Para tentar arrecadar mais, o grande projeto do Atlético é a Arena MRV. O Galo quer faturar R$ 100 milhões por ano com a futura arena, depois do terceiro ano de operação. A receita será composta por bilheteria, eventos, shows e locações corporativas. O local deve receber os primeiros jogos em 2023. Com isso, o clube também espera ganhar mais com os sócios.

Diferentemente do Palmeiras, hoje o Galo é dependente do dinheiro de Rubens Menin. Não fosse o investidor, o clube provavelmente estaria disputando posições mais modestas na Série A ou até mesmo fazendo companhia ao 
Cruzeiro na Série B, como disse o ex-presidente Sérgio Sette Câmara.

O faturamento do Atlético não chega nem perto do que arrecada o clube paulista. Grandes contratações, como as de Hulk e Diego Costa, só são possíveis com dinheiro dos mecenas. No balanço do ano passado, as principais fontes de arrecadação foram:

  • Direitos de transmissão: R$ 64 milhões
  • Marketing e comercial: R$ 21 milhões
  • Torcida e estádio: R$ 18 milhões  (jogos sem público)
  • Venda de atletas: R$ 26 milhões   

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