Já disse o que penso de Otero: é um excelente chutador de bola e nada mais. Foi o grande responsável, com três assistências em cobranças de falta e córner, pelos três gols do Galo no jogo de ida. Mas, como faz uma “vaca holandesa”, só para usar uma figura de linguagem: deu 100 litros de leite, e chutou o balde. Punição é a palavra-chave quando se trata de jogador de futebol. A maioria não tem cultura e berço para entender que agredir um companheiro de profissão é um ato covarde. Sei que dentro de campo os ânimos estão exaltados, que os jogadores dizem coisas que não ouvimos, mas, tanto de um lado quanto de outro deve haver respeito, ao ser humano e ao colega de profissão.
Em São Paulo, o campeoníssimo Emerson Sheik mandou o atacante Dudu, do Palmeiras, para aquele lugar, via rede social. Outra provocação barata e feia. Também respondeu a uma provocação de Dudu, mas errou. Deveria comemorar a taça com seu grupo, sua torcida, sem se importar com aquele que se tornou pequeno ao agredi-lo – no caso, o jogador do Palmeiras. Ao revidar, Emerson igualou-se a Dudu, tornando-se tão ruim quanto ele. Comemoração de taça (mesmo dos estaduais, que nada valem) deve ser feita com alegria, sem passar recibo. Isso é falta de grandeza e educação. Sheik é experiente, não deveria cair em provocações.
Nunca vi Zico, Reinaldo, Pelé, Dirceu Lopes, gênios da bola, provocarem adversários ou torcedores rivais. Aquele que xinga e achincalha num dia, no outro pode se tornar companheiro de time. E aí, como fica? Não estou tomando partido de A ou B, e sim lamentando que num momento tão difícil do país os jogadores entrem nessa toada de incitar ainda mais a violência. Sim, eles incitam. Quando provocam companheiros de profissão, estão dizendo aos maus torcedores que eles também devem brigar. Uma vergonha!
Espero que o Atlético não passe a mão na cabeça de Otero e o puna com multa pesada. Eu o mandaria embora, pois gosto do jogo limpo, do fair play. Mas sei que isso não vai ocorrer. Hoje mesmo o Galo começa uma outra competição, a Copa Sul Americana, enfrentando o San Lorenzo, na Argentina, e no domingo estreia no Brasileiro, contra o Vasco. Tudo será esquecido e aposto que vai ficar como está.
As redes sociais viraram uma arma poderosa, para o mal. Há pessoas que se escondem por trás de perfis falsos só para extrapolar suas demências e frustrações em cima de quem está trabalhando. Ontem um desqualificado me mandou uma mensagem me desacatando. Olhei o perfil e ele tinha zero seguidor e não seguia ninguém. Talvez algum jornalista frustrado e invejoso, se escondendo atrás de um pseudônimo. É o que mais tem neste meio. O cara cria um perfil falso, escreve o que quer e acha que expeliu suas mágoas e frustrações. Enquanto não houver punição por desacato nas redes sociais não vamos evoluir. É preciso que cada um tenha nome, CPF e identidade, para que possa ser processado e responsabilizado pelo que diz e escreve.
Também nunca vi Telê Santana e Carlos Alberto Silva, dois saudosos amigos que fiz no futebol, meus ídolos como técnicos, entrarem em brigas com instituições ou atletas. Sempre pregaram o respeito, a honestidade, a transparência. Ver treinador diminuir o rival e seus jogadores é complicado. A pessoa pública precisa ter cuidado, pois uma palavra mal colocada pode incitar uma violência sem precedentes. Que jogadores, técnicos e dirigentes pensem bem, pois o adversário não é inimigo, é apenas um opositor em campo, durante os 90 minutos. Fim de jogo, é bacana ver rivais tomando cerveja juntos. O mais legal é perceber que a amizade e o respeito transcendem as quatro linhas. Pensem nisso, senhores, para que amanhã não tenhamos uma tragédia provocada por uma palavra mal colocada ou por um ato impensado.