Atlético
None

LUTO

Morre ex-atacante Marinho, ídolo de Atlético, Bangu e Botafogo

Ex-ponta-direita teve passagens por Atlético, Bangu e Botafogo

postado em 15/06/2020 16:03

(Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
O mês de junho vai se transformando num período muito triste para o futebol mineiro, em especial o torcedor do Atlético. Uma semana depois da morte de Ronaldo Drummond, faleceu, nesta segunda-feira, Mário José dos Reis Emiliano, o “Marinho”, de 62 anos.

O ex-ponta-direita Marinho experimentou a fama como ídolo de três clubes: Atlético, onde iniciou a carreira; Bangu; e Botafogo. Jogou também pela Seleção Brasileira, a ponto de disputar a Olimpíada de Montreal’1976.

No auge da trajetória profissional, Marinho morou em uma casa com piscina, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro e tinha uma Mercedes. Mas uma tragédia, a morte de um filho, Marlo, com apenas um ano e sete meses, na piscina dessa casa, fez o craque ir ao fundo do poço.

Na volta para Belo Horizonte, resgatado pelos filhos do primeiro casamento, João e Priscilla, foi viver no Bairro Glória. E, com ajuda deles, tentava dar a volta por cima. Mas ficou doente. Teve problemas de cirrose e um câncer, no pâncreas. 

Marinho passou os últimos três meses internado no CTI do Hospital Alberto Cavalcante, onde tinha sido operado.

O ex-atacante chegou a fazer uma cirurgia para a retirada de um nódulo no pâncreas. Mas Marinho não se recuperou, uma vez que seu quadro se agravara em função de uma cirrose.

Marinho teve duas infecções em decorrência da cirurgia. Chegou a ter uma arritmia. Houve uma melhora, no entanto, o problema voltou. Marinho estava sendo acompanhado pelos filhos Priscilla, João e Steve, que passaram praticamente todos os dias no hospital.

Desde cedo atrás de uma bola

Marinho era, desde pequeno, apaixonado por futebol. Ainda menino, corria atrás de uma bola em campos de terra, em especial no bairro onde morava, o Betânia, em BH. Tinha o apoio da mãe, dona Efigênia, que trabalhava como enfermeira no Hospital Militar. Lá, ela trabalhava como lavadora de defuntos.

Marinho tinha sete irmãos, sendo ele e mais três naturais. Os outros três, de criação. O pai deixou a casa da família quando Marinho era ainda pequeno.

Aos 11 anos, foi interno no Internato Caio Martins, em Esmeraldas. Dona Efigênia queria um filho doutor. Mas ela viria a falecer antes de ver o filho despontar no Atlético.

“Eu fui para o infantil. O treinador era o Zé das Camisas. Cheguei na Vila Olímpica e fiquei fascinado. Ver Dario, Telê... Tinha vergonha de chegar perto deles”, disse recentemente o ex-jogador ao Estado de Minas ao lembrar-se daquele tempo.

Veloz, o ponta-direita se destacava. Era também habilidoso e dono de cruzamentos considerados perfeitos. Indicado por Zé das Camisas, foi alçado ao time juvenil, que tinha como técnico Barbatana. 

Com a ascensão de Barbatana para o profissional, passou a ser dirigido por Dawson Laviola. Com eles, o Galo foi bicampeão da Taça Cidade de São Paulo juvenil. O time tinha Sérgio Biônico, Sérgio; Alves, João Eudes, Marcos Vinicius e Hilton Brunis; Geraldo, Batata e Cleber; Marinho, Célio e Cacá (Marco).

No ano seguinte, Marinho subiu ao profissional. “De repente, eu estava treinando no profissional e jogando no Mineirão. Era um time fantástico, que tinha Cerezo, Danival, Reinaldo, Paulo Isidoro, Marcelo. Tenho muita saudade desse time, desses meus amigos. Esses são os verdadeiros”, disse ao EM Marinho, que conquistou sete títulos com o Galo: bicampeão da Taça São Paulo (1974/76), bicampeão mineiro (1976 e 1978), bicampeão da Taça Minas Gerais (1975/76) e campeão dos campeões (1978).
 
Seleção

Foi ainda no Atlético que veio a sua primeira convocação para a Seleção Brasileira, a Olímpica, para a disputa dos Jogos de Montreal'1976, no Canadá.

 “Vestir a camisa da Seleção Brasileira é um orgulho muito grande. Tinha duas paixões: o Atlético e a Seleção. Estava realizando meu segundo desejo.”


Vida longe de casa

O ano de 1978 chegou, e a vida de Marinho mudou radicalmente. Seu rendimento havia caído, segundo o treinador da época, Barbatana. Para ele, o jogador se tornara indisciplinado, bebia, dormia pouco e não se aplicava mais. Acabou encostado. Isso resultou na sua transferência para o América de São José do Rio Preto, trocado por outro ponta-direita, Pedrinho.

Num jogo contra o Bangu, no Rio de Janeiro, em 1982, começaria a terceira fase da vida do ex-ponteiro. “Foi um jogo no Rio, acho que pelo Rio-São Paulo. Ganhamos do Bangu por 2 a 0. Fiz os dois gols. O Castor de Andrade ficou louco comigo e mandou me contratar.”

A primeira passagem de Marinho pelo Bangu chegaria ao fim, e a ida para o Botafogo, em 1988, ocorreu em um episódio um tanto quanto estranho. “Olha, o Botafogo queria não só que eu fosse para lá, mas também o Mauro Galvão e o Paulinho Criciúma. Pois não é que fomos trocados? Mas não foi por outros jogadores. Disseram-me que foi por pontos do jogo de bicho que o Dr. Castor queria. Acertou com o presidente do Botafogo, Emil Pinheiro, que também era bicheiro.” No Botafogo, foi bicampeão carioca (1989/90).

A dor maior

O Botafogo era uma realidade bem diferente do Bangu. “Lá em Moça Bonita era a favela, todo mundo família, mas no Botafogo a riqueza, a nobreza e, de certa forma, uma solidão”, contou. E foi no clube da Zona Sul que conheceu a maior dor de sua vida e teve início sua derrocada. “Eu estava com a perna quebrada. Uma equipe de televisão foi até minha casa, em Jacarepaguá, e lá tinha até piscina, para fazer uma entrevista. Eu estava só, em casa, com meu filho mais novo, o Marlon, então com um ano e sete meses. Eu não vi quando ele se aproximou da piscina e caiu nela, morrendo afogado.”

O mundo de Marinho virou de cabeça para baixo. “Meu chão desapareceu. Não sabia mais o que ia fazer. Meu filho tinha morrido, ali, pertinho de mim e eu não fiz nada. Foi na minha frente. Não tinha vontade de fazer mais nada.” 

Depois da tragédia, Marinho se  entregou à bebida. Morou 10 dias dentro de sua Mercedes. Estacionava em qualquer lugar e dormia ali mesmo. Dizia que vivia como mendigo nessa época.

Os filhos do primeiro casamento,  João Marinho e Priscila, resgataram Marinho e o trouxeram de volta a BH, morando com eles no Bairro Glória. Ficaram com ele, no hospital, até o final, juntamente com o meio-irmão, Steve.

Para o ex-goleiro João Leite, Marinho é inesquecível. "A alegria dele era contagiante. Nunca vi ninguém tão alegre. Ele divertia todo mundo, nós que jogávamos com ele. Ele adorava música e mudava as letras para colocar os nomes do nosso time. Era amigo de todos.”

Heleno também lamentou o falecimento do amigo. “Foi descansar. Estava sofrendo, coitado. Mas vou me lembrar dele pela alegria. Estava sempre brincando. Passava alegria pra gente. A roda onde estava era só alegria.”

Marcelo Oliveira também não se esqueçe do homem alegre. "Em campo, driblava como ninguém e batia tanto com a direita como com a esquerda. Uma vez, viajamos para uma excursão na Arábia Saudita. Lá não podia nada, nem beber cerveja nem sair à rua. Ele estava entediado, como todos nós. Depois, fomos para a Indonésia, e lá podia tudo. O Ortiz, goleiro, avisou que tinha cerveja, vinho, tira-gosto no seu quarto. Foi uma festa, principalmente quando o Marinho colocou músicas de carnaval".

Prêmios

Marinho ganhou a Bola de Prata, como melhor ponta-direita, e a Bola de Ouro da “Revista Placar” em 1985, como melhor jogador do Campeonato Brasileiro.

Títulos

Atlético Mineiro
Campeonato Mineiro de 1976;
Taça Minas Gerais – 1975 e 1976;
Campeão dos Campeões - 1978

Botafogo
Campeonato Carioca: 1989, 1990

Bangu
Taça Rio: 1987
Treinador
Juventus-RJ

Tags: bangu luto marinho atleticomg interiormg botafogorj