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Homenagem em jogo do Atlético de torcedor morto há 13 anos viraliza; conheça a história

Neto e filha resolveram 'colocar' o senhor Ubaldo no Mineirão em tributo ao patriarca da família

postado em 31/07/2020 12:00 / atualizado em 03/08/2020 09:14

(Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)
Ubaldo tem nome de craque do Atlético, mas ele nunca fez um gol na vida. Trabalhou durante décadas em uma oficina mecânica, onde tirou o sustento da família. Era atleticano fanático - desculpem a redundância. Não viveu dias de glórias. Morreu em 2007, vítima de uma fibrose pulmonar. Ficou conhecido por muitos alvinegros 13 anos após a sua partida, na última quarta-feira, no jogo entre Galo e Patrocinense, pelo Campeonato Mineiro.

O neto Rafael Rodrigues Bispo e a filha Erica Adriane Rodrigues prepararam uma homenagem em função da proximidade do dias dos pais (9 de agosto) e pelos 13 anos da morte dele - número da sorte para os alvinegros, pois representa o galo no jogo do bicho. Eles resolveram participar da campanha de bonecos personalizados do Atlético, que colocou foto de torcedores nas arquibancadas do Mineirão.  

Rafael contou a história no Twitter e ganhou mais de 5 mil curtidas. "Eu nem sabia que ia repercutir tanto assim. Já teve gente de dentro do clube que comentou", disse Rafael, de 23 anos.

A homenagem não podia ser melhor, já que o Atlético venceu o Patrocinense por 4 a 0 e garantiu vaga nas semifinais do Campeonato Mineiro. "Essa goleada fechou com chave de ouro. Ele já viu o Galo passar por muita coisa. E a gente está chegando a um novo patamar, com estádio, time forte. Mas a gente não torce por isso, não é pelo time forte ou pelo estádio, é porque a gente nasceu atleticano. Ele tinha uma coisa que não deixava ninguém falar mal dos jogadores do Atlético, torcia por amor mesmo".    

Ubaldo era frequentador assíduo do Mineirão, conta o neto. "E ele sempre fez o 'batizado' de estádio com os netos, levando-os ao Mineirão. Isso é uma coisa que ficou marcada na minha memória: eu subindo as escadas e vendo aquele gramado inteiro. São coisas que ficaram na minha cabeça", acrescentou.

Preso em jogo do Galo


Ubaldo Venâncio Rodrigues nasceu em 1928, em Lagoa Bonita, distrito de Cordisburgo. Conheceu a esposa, Esmeralda Pereira Rodrigues, em Araçaí. Ao lado da companheira, mudou-se para Belo Horizonte, onde construiu a família. Ao todo, tiveram sete filhos - um resolveu ser cruzeirense.

Segundo Rafael, o avô já chegou até a ser preso por causa das tensões dos jogos do Galo. "Já desacatou o policial e passou parte de uma noite na cadeira. Não foi nada de errado, no calor ele xingou o cara, mas foi solto na mesma noite. Quando chegou em casa, minha avó brigou com ele, xingou ele todo. Ele falou que nunca mais ia voltar em um jogo. Passou uma semana, ele ficou todo triste. Minha avó falou que era para ele ir ao jogo novamente para voltar a ficar de feliz", conta o neto.
(Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

Título de 1971


No último jogo do Campeonato Brasileiro de 1971, Ubaldo e o filho Rômulo não perderam a oportunidade de acompanhar o título nacional contra o Botafogo, no Maracanã. Vitória alvinegra por 1 a 0, gol de Dadá Maravilha. 

"Em 1971, foram ele e meu tio para o Maracanã. Eles saíram do Padre Eustáquio (bairro de Belo Horizonte) de van. Eles tiveram dificuldade de chegar. Quando chegaram ao Rio, deram carona a uma pessoa. Polícia viu que tinha mais gente na van, multou o motorista. Uma confusão danada. Mas eles conseguiram ver o jogo. Tiveram problema para voltar para Belo Horizonte também", conta o neto.

De tão atleticano, Ubaldo chegou a ser sócio benfeitor do clube. 
(Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

Último jogo

Ubaldo morreu no dia 11 de maio em 2007. Na noite anterior, pediu a um dos filhos um rádio para escutar o jogo do Atlético contra o Botafogo, no Maracanã, pela volta das quartas de final da Copa do Brasil. 

O Galo perdeu de virada por 2 a 1. Éder Luis, aos 39 minutos do 1º tempo, abriu o placar para o time mineiro. No segundo tempo, o Botafogo empatou logo no primeiro minuto, com André Lima. Aos 10', o zagueiro Alex, de cabeça, virou o jogo.

Aos 47' do segundo tempo, o árbitro Carlos Eugênio Simon (FIFA-RS) não marcou pênalti em Tchô, para reclamação geral dos atleticanos. Posteriormente, Simon admitiu que errou ao não assinalar a penalidade máxima para o Galo. 

"Ele morreu em uma quarta-feira, depois de um jogo Atlético e Botafogo, com um pênalti em cima do Tchô (que não foi marcado). E a última coisa que ele pediu foi o rádio para escutar o jogo. Depois, não acordou mais", relembra o neto.

Enterro alvinegro

(Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

No enterro, Ubaldo estava com duas camisas do Atlético e três bandeiras do clube no caixão. A lembrancinha da morte tinha a imagem dele com uma camisa do Galo. 

"A gente vem de família humilde e, antigamente, não tinha isso de tirar foto. Então, temos poucas fotos dele. Essa foto com a camisa do Atlético é lembrancinha de falecimento dele, inclusive", explica o neto.

Depois da morte, a família preparou um altar alvinegro para o senhor Ubaldo. No centro, há uma imagem de Ubaldo rodeado por faixas, mascotes do Galo e, como não poderia faltar, uma provocação ao Cruzeiro: 'Ão, ão, ão, Segunda Divisão'.  

"Eu acho que ele estaria feliz não pelo que pode acontecer este ano, mas o projeto que está sendo pensado para o futuro, que é colocar o Atlético no patamar que ele merece estar. Não só pelo time, mas por causa da torcida atleticana", disse Rafael. 

(Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

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