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O drama em preto e branco com final feliz: Atlético é bicampeão brasileiro

O dia 2 de dezembro de 2021 é eternizado nos corações alvinegros, que suportaram uma angustiante espera de quase 50 anos e agora vivem um sonho

postado em 02/12/2021 20:01 / atualizado em 03/12/2021 10:57

(Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Durante muito tempo, o atleticano se acostumou com a tragédia. Foi forjado em injustiças históricas, cresceu na inquietude de quem vivera o pior. Sofreu por Reinaldo, Cerezo, Éder, Marques, Guilherme, Ronaldinho, Victor, Leonardo Silva, Diego Tardelli e tantos outros a quem viu se eternizaram na galeria de ídolos, mas o fizeram sem alcançar a glória que tinha o tamanho da espera de uma vida inteira. Chorou nas derrotas, enervou-se contra as arbitragens, os times rivais, o regulamento, a CBF, a televisão, o próprio destino... Mas jamais se rendeu. Afinal, quem ama não abandona. E o amor sempre foi maior que uma angústia de cinco décadas, que acabou nesta histórica quinta-feira, 2 de dezembro de 2021: o Clube Atlético Mineiro, enfim, é bicampeão brasileiro.



Há seis meses, a caminhada teve um início tortuoso. A derrota em casa na estreia foi o princípio de uma série irregular, que aumentou os temores de uma torcida tão ferida. Mas a exemplo da massa que o empurra, o elenco buscou forças para reagir. Do banco de reservas, Cuca - o libertador de 2013 - recolocou o barco no prumo. Na 15ª rodada, o time, depois de uma recuperação impressionante, alcançou a liderança - e dali não saiu mais. Em 36 jogos, são 81 pontos - impressionantes 75% de aproveitamento, impulsionados pela fortaleza criada por jogadores e torcida no Mineirão.

O criticado Everson vingou Taffarel; Nathan Silva representou as gerações históricas de grandes jogadores formados na base; o capitão Junior Alonso repetiu Oldair; craque, Guilherme Arana fez o que ninguém espera de um lateral; Allan, Jair e Zaracho nunca se entregaram e foram quase atleticanos em campo; Nacho regeu a orquestra; Hulk viveu - e honrou - o que Reinaldo merecia ter vivido; Keno foi o herói e entrou para a eternidade.

A épica jornada dos heróis de 2021 foi coroada longe de casa, com o 3 a 2 na Fonte Nova. Do sofá de casa ou da mesa do bar, os atleticanos acompanharam tudo pela televisão. Talvez não tenha sido exatamente como nos melhores sonhos: com o time no Mineirão e as arquibancadas lotadas. Mas quem tanto espera não escolhe a hora. Aqui, agora, em Belo Horizonte ou na Bahia, a tão sonhada taça voltou a quem a conquistou pela primeira vez.

Em 19 de dezembro de 1971, Dario testou para as redes o cruzamento perfeito de Humberto Ramos e deu ao Atlético aquela que era sua maior conquista em 63 anos de existência. No Rio de Janeiro, a vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo garantiu o primeiro título brasileiro. Os milhares que foram às ruas de uma crescente BH festejaram como nunca o triunfo histórico no Maracanã, mas mal sabiam os anos angustiantes que estavam por vir.

As mágicas equipes dos anos 1970 e 1980 foram punidas pelos rumos por vezes injustos e incompreensíveis da história. Na década de 1990, o time de Marques e Guilherme fez ressurgir a esperança, mas o desfecho foi o mesmo com o qual uma geração inteira havia se acostumado. Veio a mancha do descenso, no fatídico 2005. A volta, na temporada seguinte, foi um sinal de força e grandeza. Tempos depois, o esquadrão de 2013 e 2014 encantou e conquistou outras terras, mas não se livrou da sina.

Da cabeçada de Dadá até o chutaço de Keno contra o Bahia, foram 1445 partidas, mais de dois mil gols marcados e derrotas emblemáticas. O título escapou entre os dedos com cinco vice-campeonatos (1977, 1980, 1999, 2012 e 2015). Em outras 12 campanhas, o time alcançou terceiro ou quarto lugares amargos. A espera parecia não ter fim. Mas teve.

A 1.350 quilômetros do campo, a alegria que estava entalada há décadas foi um respiro em meio à devastadora pandemia de COVID-19. E quis o acaso que a glória pudesse ser alcançada com o tormento de quem tanto castigou grandes times da centenária história atleticana. A conquista veio sobre o rival e segundo colocado Flamengo, algoz da finalíssima nacional de 1980 e, claro, da Copa Libertadores do ano seguinte.

Acostumado a torcer contra o vento, o torcedor do Atlético colocou um ponto final numa batalha de glórias e sofrimentos que perduraram por cinco décadas. O roteiro estava quase pronto, à espera do ato derradeiro de um drama em preto e branco que, enfim, teve um final feliz.

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