Cruzeiro
None

CRUZEIRO

Zezé Perrella ataca gestão de Gilvan no Cruzeiro, promete auditoria externa e vê clube sem credibilidade no mercado

Passados seis anos, Perrella vê Cruzeiro atual pior do que aquele que deixou

postado em 18/12/2017 22:00 / atualizado em 18/12/2017 23:31

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Empossado nesta segunda-feira como presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro para o triênio 2018/20, Zezé Perrella fez um discurso ameno, exaltou seus serviços prestados ao clube entre 1995 e 2011 e prometeu ajudar no que for preciso o mandatário Wagner Pires de Sá na gestão executiva. No entanto, o foco de sua entrevista coletiva no Cine Teatro Brasil, no Centro de Belo Horizonte, foi outro. O senador da República dirigiu ataques à gestão de Gilvan de Pinho Tavares e destacou o alto endividamento do clube nos últimos seis anos, assim como atrasos de salários, ações na Fifa e perda de credibilidade no mercado.

Para ele, as missões iniciais de Wagner Pires de Sá à frente do Cruzeiro serão equilibrar as finanças, equacionar as dívidas herdadas de Gilvan de Pinho Tavares e recuperar o prestígio do clube no mercado. Para isso, Perrella colocou sua experiência à disposição para auxiliar o novo presidente quando necessário nas relações com empresários do futebol e com a Confederação Brasileira de Futebol. 

Perrella disse também que sempre esteve à disposição de Gilvan de Pinho Tavares, mas não foi ouvido. Passados seis anos, ele vê o Cruzeiro pior do que deixou em 2011, ainda que o clube tenha conquistado dois Campeonatos Brasileiros e uma Copa do Brasil no período. 

Leia, a seguir, a íntegra da entrevista de Zezé Perrella:

Expectativa para a gestão de Wagner Pires de Sá

Muita expectativa positiva. Acho que Wagner, como presidente, tem todas as condições de  fazer um trabalho muito bom, pela experiência como economista. No que pesa não tê-lo apoiado nas eleições, eu tenho que reconhecer que ele está preparado. Ele tem todas as condições de fazer um trabalho excepcional. Da minha parte, me cabe ser presidente de órgão fiscalizador. Acima de tudo, vou trabalhar junto com Wagner, para que as coisas no Cruzeiro aconteçam da maneira como a gente espera. Obviamente, vamos dirigir com transparência, não vamos dizer que não há, mas essa é a função principal de um conselho deliberativo de um clube de futebol. Me coloquei à disposição do Wagner para usar a minha experiência de anos que passei à frente da diretoria executiva. Estarei sempre pronto para ajudá-lo. Foi a oferta que fiz a Gilvan há seis anos, mas parece que ele não se interessou muito. Agora, estou lado a lado com Wagner, as eleições passaram. Acho que não pode haver vencidos ou vencedores. Nós somos um clube, e todos somos cruzeirenses acima de tudo. Então quero é somar com a minha experiência. Tanto eu quanto Alvimar (Perrella) vamos estar dispostos a ajudá-lo em tudo que for necessário para que o Cruzeiro volte a ser o clube que sempre foi.

Participação na gestão de Wagner Pires de Sá

Não vou me meter diretamente no futebol, somente se o Wagner precisar de alguma ajuda. Acho que essa é a função de um presidente executivo. Mas, obviamente com a minha experiência e as facilidades que temos de circular no meio do futebol junto à CBF e a empresários, tudo que ele precisar da minha experiência e do meu apoio, eu vou dar. Obviamente, eu não vou interferir para que se contrate jogador A ou B, pois essa é a função de um presidente executivo. Os anos que passei à frente do Cruzeiro, que não foram poucos – 17 anos, mais três na base -, eu acho que posso auxiliá-lo com a minha experiência. É o que queremos: um Cruzeiro sempre forte.

Alto endividamento do Cruzeiro na gestão Gilvan

A primeira coisa que temos de fazer é deixar claro para o torcedor a verdadeira condição financeira do Cruzeiro. O presidente que está saindo diz que o Cruzeiro deve R$ 28 milhões. Mas, só no Refis, que é o Profut, são R$ 220 milhões. Ele deixou de recolher R$ 150 milhões de impostos em seis anos. Nós sabemos o que foi ganhar esses campeonatos nos últimos anos. A dívida, segundo informações que temos, mas ainda temos de apurar, gira em torno de R$ 400 milhões. Eu deixei o clube com R$ 100 milhões de dívida. Desses 100 milhões, todos pactuados no Refis, um  que custava pouco mais de R$ 50 mil por mês. Essa dívida de 220 milhões é somente no Profut, parece que ele não reconhece como dívida, mas custa mais de R$ 1 milhão por mês em prestação aos cofres do clube. A situação não é cômoda, e o Wagner terá muita dificuldade. Uma coisa você pode estar certo: o torcedor do Cruzeiro, o conselheiro do Cruzeiro, vai saber a real situação do clube. Acho que não podemos negar essa informação para ninguém. Estou aqui criticando a gestão de Gilvan, não estou falando de lisura, estou falando de governança. Acho que o Cruzeiro precisa de reajustes, e o Wagner terá muita dificuldade para botar as coisas no trilho. Não adianta, você não vai conseguir sucesso se não tiver as contas equilibradas. Infelizmente, o Cruzeiro não tem no mercado a credibilidade que tinha. Acho que essa mudança foi boa, com Wagner tendo de mostrar a que veio. E vamos usar a minha experiência em tudo que eu puder para ajudá-lo. Acima de tudo, quero deixar bem claro a situação real de como eu entreguei o Cruzeiro e a situação que o Wagner está pegando.

Diferença de sua gestão para a de Gilvan e falta de credibilidade

Vou dizer uma coisa, ninguém tem obrigação de ser competente ou ser um bom dirigente no que tange a parte administrativa. Eu sempre tive preocupações, primeiramente com as contas do clube. Me acusavam de vender muito jogador, mas eu vendia e comprava bem, por isso conquistamos mais de 20 títulos e deixamos o clube absolutamente tranquilo. Nós tínhamos uma dívida de curto prazo, de médio prazo, de R$ 30 milhões, e somente Montillo era mais do que isso. O presidente que está saindo está dizendo que não deixamos jogador, mas deixamos Lucas Silva e todos esses meninos da base que foram revelados e vendidos foram jogadores da nossa época. Então, estou com a minha consciência tranquila de que deixei o clube muitíssimo bem. Por isso eu digo que, talvez, a torcida terá de ter paciência com Wagner. Não esperem grandes contratações, na minha visão. Ele vai precisar de criatividade e apostar muito nas categorias de base, pois ele terá de acertar, primeiro, as finanças do clube, para depois pensar em trazer jogadores assim. Essa é a minha opinião, mas Wagner sabe o que faz. Acho que sem credibilidade no mercado você não chega a lugar algum. (Auditoria terceirizada de uma empresa contratada) eu acho absolutamente necessário, para que as coisas fiquem claras. Inclusive, disse a ele que faça também do meu período, dos meus últimos quatro anos, para que o torcedor e o conselheiro saibam a situação real que o Wagner está pegando o clube.

Ponto positivo da ‘era Wagner’ e mais críticas a Gilvan

Em tudo eu estou disposto a ajudar. Por incrível que pareça, o Cruzeiro está com um grande diretor de marketing, que é Marco Antônio Lage, que vai trazer uma coisa boa para o Cruzeiro. Ele tem capacidade de aumentar a arrecadação do clube, porque tem uma visão diferenciada. Ele é um cara de mercado. Esse foi o primeiro grande gol do Wagner nessa gestão. Se eu fosse o presidente, também iria contratá-lo. Foi uma grande contração. Temos que tocar o Cruzeiro como sempre foi, como empresa. Não adianta você passar seis anos e conseguir  ganhar, mas deixar o Cruzeiro em dificuldade. Digo mais uma vez, não estou questionando a idoneidade do presidente que está saindo; estou questionando um modelo de governança. Quando eu era acusado de mercantilista, eu fazia isso para não ter que atrasar salário, para não ter que passar por fama de caloteiro. Nunca tivemos ações na Fifa. Hoje já são mais de R$ 50 milhões que o Cruzeiro deve perder. É muito difícil você ganhar uma ação lá. Para ser sincero, por isso que eu desisti de ser candidato à presidência. Não por ter medo do desafio, pois eu seria cobrado como quando eu peguei o clube lá atrás. Eu peguei o clube saneado da mão do César Masci. E o Wagner não vai pegar. O tamanho do buraco assusta qualquer um. Eu seria cobrado para ganhar os mesmos títulos de lá atrás. Eles iam querer que Zezé Perrella fizesse tudo que fez há 20 anos.  A torcida, talvez, não teria paciência comigo. Isso, seguramente, vai ter com a nova diretoria, sabendo das dificuldades. Então, eu procurei contribuir de outra maneira, e também por achar que eu já tinha dado a minha contribuição em quase 20 anos à frente da gestão do clube. Acho que dei a minha contribuição, posso continuar dando, obviamente, mas quero dizer ao torcedor que a responsabilidade de contratar, de demitir, e os méritos, caso os títulos venham, é da nova diretoria. O presidente do conselho vai ser um conselheiro. E eu estou aqui para pronto para aconselha-los, caso eles desejem.

Necessidade de gestão criativa

Eu acho que dá para fazer as coisas. Foi o que eu sempre fiz. Eu sempre consegui fazer grandes times sem fazer besteiras, sem trazer grandes nomes. Trouxe Palhinha, que estava meio encostado no São Paulo, juntando com os jogadores da casa que nós tínhamos; fizemos aquele time de 2003 investindo pouco. Pegamos Aristizábal e todos os outros com pequenos investimentos. Não era um time milionário, mas fomos campeões. Acho que dá para fazer com criatividade e, acima de tudo, com absoluto pé no chão. Quando eu digo ao torcedor que não espera grande contratação, estou dizendo que o torcedor, às vezes, espera que a gente contrate o Neymar. É isso que o torcedor espera, e a expectativa é grande.  Só digo que a condição financeira do Cruzeiro não é a ponto de dizer que é desesperadora, porque os outros clubes brasileiros também devem. O Cruzeiro passou de clube menos endividado do Brasil – só tinha o Atlético do Paraná com uma dívida menor – para o terceiro ou quarto mais endividado. O Cruzeiro conseguir encostar no Atlético neste quesito.

Promessa de auditoria para investigar gestão de Gilvan

A auditoria vai acontecer, seguramente.

Trecho do discurso de Zezé Perrella durante sua posse:

Satisfação em retornar a casa que sempre foi a minha vida. Obvio que nunca me afastei, mas em função das minhas atividades não contribui como gostaria. Juntamente com Alvimar, demos 20 anos em função do nosso clube. Eu pensava que meu papel eu já tinha dado a minha contribuição. O Cruzeiro é acima de tudo uma paixão. É difícil ser só torcedor. A gente não consegue. É mais prático, mais tranquilo. Mas ficar só torcendo, sabendo que podemos contribuir um pouco mais, é o que nos motiva. O que me motivou que ainda tinha contribuição. Passou-se o calor das eleições, obviamente não apoiei meu querido amigo Wagner. Tenho um carinho grande. Fizemos nossa campanha o elogiando. Se o nosso candidato não vencesse, estaríamos absolutamente seguros. Por opção que fizemos lá atrás, mantemos o compromisso. Mas o Cruzeiro está em boas mãos. O importante, Wagner, lhe parabenizo. Ser presidente do Cruzeiro é difícil. É muito sofrimento. Só vale vencer, infelizmente. (...) Wagner, estou à disposição. Se entender que minha experiência é necessária, estaremos ao lado. Tanto eu como Alvimar. Agradeço a todos vocês. O Cruzeiro é nossa alma, o Cruzeiro é a nossa vida.

Tags: wagner pires de sá gilvan de pinho tavares zezé perrella libertadores2017 seriea mercadobola cruzeiro posse perrella