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Sem anúncio de reforços, posse de Wagner Pires de Sá no Cruzeiro é marcada por discursos divergentes de Perrella e Gilvan

Cerimônia ocorreu na noite desta segunda-feira, no Cine Theatro Brasil

postado em 18/12/2017 22:42 / atualizado em 19/12/2017 10:00

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Não foi na cerimônia de posse na presidência do Cruzeiro, no Cine Theatro Brasil, que Wagner Pires de Sá anunciou reforços. O sucessor de Gilvan de Pinho Tavares, aliás, preferiu não entrar em detalhes acerca do tema, para, segundo ele, “não inflacionar o mercado”. Houve, claro, menções a alguns nomes. Wagner confirmou, de maneira superficial, que o lateral-direito Edílson, do Grêmio, interessa ao clube. Também mostrou otimismo com a possibilidade de contratar o volante Bruno Silva, do Botafogo, e falou a respeito de Fernandão, atacante do Fenerbahçe. Outros assuntos, contudo, chamaram mais atenção. Como a entrevista do senador Zezé Perrella, novo presidente do Conselho Deliberativo.

Na coletiva à imprensa, que durou cerca de 10 minutos, Perrella não poupou críticas à gestão financeira de Gilvan de Pinho Tavares nos últimos seis anos. Segundo ele, o Cruzeiro fechará 2017 com uma dívida geral de quase R$ 400 milhões.

“A primeira coisa que temos de fazer é deixar claro para o torcedor a verdadeira condição financeira do Cruzeiro. O presidente que está saindo diz que o Cruzeiro deve R$ 28 milhões. Mas, só no Refis, que é o Profut, são R$ 220 milhões. Ele deixou de recolher 150 milhões de impostos em seis anos. Nós sabemos o que foi ganhar esses campeonatos nos últimos anos. A dívida, segundo informações que temos, mas ainda temos de apurar, gira em torno de R$ 400 milhões”, criticou Zezé, lembrando que, à época de sua gestão, o débito era bastante inferior.

“Eu deixei o clube com R$ 100 milhões de dívida. Desses 100 milhões, todos pactuados no Refis, um  que custava pouco mais de 50 mil por mês. Essa dívida de 220 milhões é somente no Profut, parece que ele não reconhece como dívida, mas custa mais de R$ 1 milhão por mês em prestação aos cofres do clube. A situação não é cômoda, e o Wagner terá muita dificuldade. Uma coisa você pode estar certo: o torcedor do Cruzeiro, o conselheiro do Cruzeiro, vai saber a real situação do clube. Acho que não podemos negar essa informação para ninguém. Não estou aqui criticando a gestão do Gilvan, não estou falando de lisura, estou falando de governança. Acho que o Cruzeiro precisa de reajustes, e o Wagner terá muita dificuldade para botar as coisas no trilho. Não adiante, você não vai conseguir sucesso se não tiver as contas equilibradas. Infelizmente, o Cruzeiro não tem no mercado a credibilidade que tinha. Acho que essa mudança foi boa, com Wagner tendo de mostrar a que veio. E vamos usar a minha experiência em tudo que eu puder para ajuda-lo. Acima de tudo, quero deixar bem claro a situação real de como eu entreguei o Cruzeiro e a situação que o Wagner está pegando”.

Porém, quando discursou para os convidados no Cine Theatro Brasil, local da solenidade, Perrella evitou rusgas com Gilvan e adotou uma fala em tom político, limitando-se a desejar boa sorte a Wagner Pires de Sá – a quem se opôs na eleição (Perrella apoiou o candidato Sérgio Santos Rodrigues).

“Passou-se o calor das eleições, obviamente não apoiei meu querido amigo Wagner. Tenho um carinho grande. Fizemos nossa campanha o elogiando. Se o nosso candidato não vencesse, estaríamos absolutamente seguros. Por opção que fizemos lá atrás, mantemos o compromisso. Mas o Cruzeiro está em boas mãos. O importante, Wagner, lhe parabenizo. Ser presidente do Cruzeiro é difícil. É muito sofrimento. Só vale vencer, infelizmente. (...) Wagner, estou à disposição. Se entender que minha experiência é necessária, estaremos ao lado. Tanto eu como Alvimar. Agradeço a todos vocês. O Cruzeiro é nossa alma, o Cruzeiro é a nossa vida”.

Marcos Vieira/EM/D.A Press

O que se viu nas cadeiras do Cine Theatro Brasil foram retratos de um Cruzeiro politicamente rachado. Em sua chegada, o atual presidente, Gilvan de Pinho Tavares, não parou para saudar Wagner Pires de Sá e Zezé Perrella, que recebiam cumprimentos dos conselheiros do clube. Cerca de 20 minutos depois, Wagner foi até Gilvan e fez uma breve saudação. Quando chamado ao palco, Gilvan passou por Perrella e também o cumprimentou friamente. Na solenidade, ficou com a visão concentrada, vezes para frente, vezes para o chão, sem sequer olhar para os seus pares que também compunham a mesa.

Quando tomou a palavra, Gilvan de Pinho Tavares fez longo discurso. Entre agradecimentos a integrantes do Conselho Deliberativo e pedidos de desculpas a familiares, o presidente que está de saída do cargo exaltou os feitos que conseguiu em seis anos na presidência. “Tenho certeza e a consciência tranquila de que não os decepcionei. Me dediquei ao máximo e consegui, durante dois mandatos, seis anos, à frente do Cruzeiro, trazer para nossa galeria de troféus dois Brasileiros seguidos. Coisa quase impossível de conseguir. E ainda fui, em 2014, ainda conseguimos o Mineiro e fomos vice da Copa do Brasil. Agora, ao encerrar nosso mandato, tivemos a felicidade de conquistar a Copa do Brasil, que trouxe para a nossa galeria um troféu tantas vezes ganho pelo clube. Não ficou só nisso, nós, que havíamos em 2012 ganhado o Brasileiro Sub-20, em 2017 fomos agraciados com o Brasileiro dessa categoria. Agora no fim do ano, a Supercopa dessa categoria que vai dar direito ao Cruzeiro de disputar a Libertadores Sub-20.”

Gilvan ainda divergiu de Zezé Perrella ao falar sobre as dívidas que o clube deixará para a gestão de Wagner Pires. “Uma coisa só: isso tem levado muita gente a me questionar, me indagar, sobre a administração do Cruzeiro que está muito endividada. Falou há algum tempo em 500 milhões, depois abaixou para 200 milhões. Existe a dívida, ela está equacionada em 149 milhões. Ela está equacionada. A dívida do Cruzeiro, para tranqüilidade dos senhores, está equacionada. Vale, apenas, 600 mil reais. É o que o Cruzeiro paga de toda dívida.”

Conduzida pelo vice-presidente executivo Marco Antônio Lage, a cerimônia ainda teve pronunciamento do atual presidente do Conselho Deliberativo, João Carlos Gontijo de Amorim, e apresentação do espetáculo de dança "Tirambaço", do Grupo Corpo. Com relação a homenagens, foram lembrados o governador Fernando Pimentel (representado por Ricardo Sapi, secretário estadual adjunto de esportes), o ex-jogador Juan Pablo Sorín e o torcedor Seu Lúcio, deficiente visual que mora na Amazônia e terá a história contada pelo movimento Memória Celeste.

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