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Relatório da Sindicância do Cruzeiro mostra inconsistências e elevação substancial de gastos na gestão de Wagner Pires; veja detalhes

Relatório de 70 páginas aponta oito inconsistências nos documentos analisados

postado em 31/07/2019 18:10 / atualizado em 31/07/2019 20:30

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Relatório da Sindicância realizada pela Comissão Transitória de Apuração criada pelo presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Zezé Perrella, apresentou pelo menos oito pontos de “inconsistências” nos documentos que foram analisados do exercício de 2018, primeiro ano da gestão do presidente Wagner Pires de Sá.

As conclusões dos conselheiros Jarbas Matias dos Reis e Walter Cardinali Júnior, nomeados para integrar o grupo de trabalho, foram entregues no último dia 18 a Perrella, ao presidente do clube, Wagner Pires de Sá, e aos membros do recém-empossado Conselho Fiscal do Cruzeiro.

No relatório de 70 páginas, obtido pela reportagem, os conselheiros, além de realizarem um exercício comparativo entre o último ano da gestão do presidente Gilvan de Pinho Tavares (2017) com o primeiro ano de administração de Pires de Sá (2018), pontuam oito inconsistências encontradas nos documentos analisados. São elas:

- Valores pagos diferentes dos contratados;

- Funcionários contratados por CLT que também prestam serviços através de empresas em que são sócios;

- Contratos inativos que ainda recebem pagamentos;

- Contratos de 2018 em o contratado recebeu pagamentos referente a serviços prestados em 2017, cuja função inexistia;

- Mais de um intermediário para negociação de um mesmo atleta;

- Pagamento de intermediação para renovação de contrato de atletas que já são do Cruzeiro;

- Objetos contratados diferentes da prestação de serviço;

- Contrato de prestação de serviço, cuja contratada não teve identificado no clube o seu trabalho.



De forma geral, o relatório é dividido em tópicos. Ao longo desta reportagem, buscaremos apresentar, resumidamente, o que foi concluído em cada um deles. O documento escrito por Cardiali Junior e Jarbas Matias dos Reis também pode ser lido, na íntegra, no PDF acima.

Em 2019, a diretoria do Cruzeiro passou a ser investigada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Minas Gerais por suspeitas de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica e falsificação de documentos. O programa Fantástico, da TV Globo, exibiu as denúncias na edição de 26 de maio.

Recentemente, a Polícia Civil realizou operação de busca e apreensão nas casas de dirigentes do clube, nas Tocas da Raposa I e II, na sede administrativa do Barro Preto e na sede da torcida organizada Máfia Azul.  Por fim, o vice-presidente de futebol Itair Machado está afastado de suas funções por ordem judicial.

Custos dos Funcionários


O relatório mostra que a evolução do quadro de funcionários saltou de 624, em dezembro de 2017, para 736 em abril de 2018. Um aumento de 15% em relação aos colaboradores do clube. Em abril de 2019, o número registrado é de 717 profissionais.

A folha de pagamento, consequentemente, também teve um aumento expressivo. De R$12.728.458,00 em dezembro de 2017 para R$ 18.720.392,00 em dezembro de 2018. Já em abril de 2019, mesmo com a redução no número de profissionais, o valor ficou ainda mais alto. Hoje, de acordo com o relatório, o Cruzeiro desembolsa, mensalmente, R$20.269.591,00 - acréscimo de 59% em relação a 2017.

O custo anual dos aumentos das remunerações é de R$90.493.596,00 - aumento mensal de R$7.541.133 entre dezembro de 2017 e abril de 2019. “Gostaríamos de salientar que mais de 90% dos funcionários tiveram mais de 10% de aumento no período”, destaca o grupo de trabalho nos comentários deste tópico.

Há, ainda neste espaço, o detalhamento do aumento das remunerações por setor. Estão descritos, entre outros, profissionais da diretoria executiva, da presidência, do jurídico, do marketing, de conteúdos, de sócio-torcedor, além de comissões técnicas da Toca da Raposa I e da Toca da Raposa II. Os nomes dos profissionais, evidentemente, não são citados.

(Foto: Reprodução)


Conselheiros contratados

De acordo com o relatório, são 30 conselheiros do Cruzeiro contratados como Pessoa Jurídica. Em dezembro de 2017, último mês da gestão de Gilvan de Pinho Tavares, não existia nenhum no quadro de funcionários, conforme diz o documento. Esse número chgou a 25 em dezembro de 2018, até chegar em 30 em abril de 2019.

O custo mensal até abril com esse grupo de profissionais era de R$670.592,00 - R$25.500,00 a mais do que em dezembro de 2018, quando o clube desembolsava R$645.092,00.

Anualmente, o clube gasta R$ 8.051.424,00 com os conselheiros remunerados. O mais ‘caro’ recebe R$ 125 mil. Sem citar nomes, o documento traz uma planilha com os valores das remunerações de cada um deles.

Procurado, o vice-presidente do Cruzeiro, Hermínio Francisco Lemos, garantiu que não há mais qualquer conselheiro remunerado no quadro de funcionários do clube, já que todos os contratos foram cancelados. Ele afirmou que já fez esse comunicado oficial ao presidente do Conselho Deliberativo, Zezé Perrella. O dirigente também lembrou que o clube vem realizando readequação de salários de seus colaboradores de acordo com o mercado.

(Foto: Reprodução)
 

Contratos de intermediação


Os contratos de intermediação firmados pelo Cruzeiro em 2018 também foram alvos da Sindicância. Embora não dê muitos detalhes neste tópico, o grupo de trabalho informou que o clube gastou R$ 23.693.800,50 com intermediários na última temporada. 

Direito de imagem


Sobre direitos de imagem, geralmente pagos aos jogadores do Cruzeiro como complemento da remuneração em CLT, a Sindicância revelou que foram gastos R$ 63.961.955,00 entre o início de 2018 e abril de 2019.

Ingressos não cobrados


Outro ponto que chama atenção no relatório da Sindicância são os ingressos não cobrados pelo Cruzeiro em 2018. Essa, geralmente, é a diferença que o torcedor observa entre os públicos pagantes e os públicos presentes dos jogos do clube no Mineirão. Tirando os ingressos de gratuidade observados por lei, a direção da Raposa distribuiu outros 119.559 bilhetes, o que poderia ter gerado uma renda extra, segundo o relatório, de R$ 13.257.100,00.

A planilha abaixo detalha a quantidade de ingressos de cada setor do Mineirão que foi distribuída pelo Cruzeiro. Não há, porém, informação sobre qual o destino desses tíquetes: se para patrocinadores, parceiros, torcedores, conselheiros, etc.

(Foto: Reprodução)

Atletas emprestados


Jogadores cedidos a outros clubes, mas que ainda têm vínculo com o Cruzeiro, também foram lembrados durante o relatório. Muito embora vários empréstimos não tenham sido realizados durante a gestão do presidente Wagner Pires de Sá

Com 22 atletas emprestados a outras equipes, a Raposa tem um custo mensal de R$ 582 mil (R$ 6,98 milhões por ano). Neste ponto, não há comparação com exercícios anteriores.

Compliance


O relatório da comissão de apuração abre esse tópico explicando que o termo compliance significa “agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido” e exemplifica: “Neste caso, seria manter o Cruzeiro Esporte Clube em total harmonia e em conformidade com seu estatuto e ambiente interno”, diz, antes de informar dados do que de fato foi executado pela direção celeste.

"Chamamos a atenção que foram sugeridas 242 ações pelo Compliance e somente 13 foram implementadas, e em diversos momentos foram informados os riscos desta não implantação", destaca trecho do relatório.

Para implementar um setor de compliance, o Cruzeiro teve um custo total de R$ 1.260.006,00, divididos em 33 parcelas de R$ 38.182,00. O período do contrato vai de abril de 2018 a dezembro de 2020.

(Foto: Reprodução)

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