“Tava na beira do caos, tava na beira do mal. Numa piração total!”. A participação de Ney Franco como cantor no programa Bem Amigos!, do SporTV, em 2009, foi relembrada nas redes sociais pelos torcedores do Cruzeiro. Afinal, o refrão da música de autoria do próprio treinador em parceria com João Hernandes reflete o momento vivido pelo clube. Dentro de campo, o time está na zona de rebaixamento da Série B, em 17º lugar, com apenas cinco pontos - dez a menos que o quarto, Cuiabá, e a 12 do líder, Paraná. Fora das quatro linhas, a instituição vive grave crise financeira, com mais de 130 processos trabalhistas, cobranças judiciais de credores, empréstimos bancários com juros elevados e dívida total que pode superar R$ 1 bilhão em 2020.
Na parte esportiva, é justamente Ney Franco quem terá a missão de tirar o Cruzeiro de um cenário caótico que seria a permanência na segunda divisão ou, na pior das hipóteses, o rebaixamento à Série C. Nesta sexta-feira, às 21h30, ele estará à beira de campo no duelo contra o Vitória, no Mineirão, pela nona rodada. Apresentado nesta quarta, o treinador de 54 anos, que trabalhou de 1995 a 2004 nas categorias de base da Raposa, afirmou à TV Cruzeiro que a chance de conduzir o grupo principal é a realização de um sonho.
“Estou realizando um sonho de estar no Cruzeiro como treinador. Tenho uma história do clube, um trabalho na base durante dez anos com títulos e ajuda na revelação de atletas. Hoje estou realizando um sonho profissional, pessoal e afetivo. Dentro desse sonho, vem o momento de responsabilidade. Quando veio esse convite, soou como uma convocação. Na terça-feira, no período da tarde, recebi uma ligação. Estava em Goiânia, organizando a minha saída, e a gente fez um acerto muito rápido”
Ney Franco disputará a Série B pela terceira vez na carreira. Na primeira, em 2010, sagrou-se campeão pelo Coritiba, com 71 pontos (21 vitórias, oito empates e nove derrotas). Em 2018, conseguiu a façanha de tirar o Goiás da zona de rebaixamento, na oitava rodada (cinco pontos), e levá-lo à vice-liderança, na 28ª (46). Mesmo com um rendimento oscilante nos dez jogos finais, o clube se manteve no G4 e subiu na quarta posição, com 60 pontos, em vantagem no número de vitórias sobre a Ponte Preta: 18 a 16.
“Tive a oportunidade de disputar essa competição duas vezes. Em 2010, com o Coritiba, subimos com o título. Agora, em 2018, trabalhamos no Goiás e conseguimos o acesso. Eu vejo o momento do Cruzeiro muito parecido com as equipes que trabalhei na Série B. O Coritiba começou a Série B com dez jogos de punição (estádio com portões fechados devido aos incidentes ocorridos no Couto Pereira na última rodada da Série A de 2009), tínhamos que jogar em outras cidades, era muito desgastante. E em 2018, no Goiás, peguei a equipe em 19º, conseguimos a arrancada e subimos”.
Elenco do Cruzeiro
Em breve análise, Ney Franco considerou o elenco do Cruzeiro qualificado, com “muitos jogadores conhecidos” - casos do goleiro Fábio, do lateral-direito Raúl Cáceres, dos zagueiros Leo e Manoel, dos volantes Henrique, Jean e Ariel Cabral, do meia Régis e dos atacantes Arthur Caíke e Marcelo Moreno.
“É um elenco qualificado, por todas as informações que a gente colheu. Há muitos jogadores conhecidos também. Eu trabalho por partes. Estou tendo uma apresentação hoje, já tenho um treinamento e eu preciso montar uma equipe para o jogo contra o Vitória. Já tenho que procurar o resultado positivo”.
Com relação a possíveis reforços, o novo treinador preferiu não externar as necessidades - embora a diretoria já tenha tornado pública a busca por um lateral-esquerdo e um jogador de beirada no ataque.
“A questão do elenco vai ser tratada internamente com o nosso presidente, o diretor de futebol, o superintendente. Mas avalio, hoje, que o Cruzeiro tem uma equipe qualificada para disputar a Série B”.
Estreia já na sexta-feira
Ney Franco explicou as razões pela qual estará à frente do Cruzeiro na sexta-feira, diante do Vitória, no Mineirão. Ele disse que é uma boa oportunidade de conhecer a equipe desde os trabalhos de preleção no vestiário. Na semana seguinte, a preparação será maior visando ao confronto com o CSA - sábado, 19/9, às 21h, em Maceió.
“Um dos motivos do acerto rápido foi esse. Liderar a equipe no jogo de sexta-feira já adianta meu trabalho, já participo do jogo e vivencio o vestiário com os atletas, tanto na palestra pré-jogo quanto no vestiário, durante o intervalo. Depois teremos uma semana para trabalhar diante do CSA. Queremos adiantar esse trabalho o mais rápido possível para começar uma carreira vitoriosa na equipe principal”.
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Identificação com o Cruzeiro
“Ser convidado a dirigir uma das equipes mais tradicionais do futebol sul-americano e ter esse histórico e essa afinidade com esse clube, sinto-me praticamente convocado. Volto para esse trabalho, que é de mão dupla. É muito bom para mim como profissional também. Sei da valorização dos profissionais de todas as áreas em uma conquista de acesso para o ano que vem. Sei das dificuldades do trabalho, da extrema responsabilidade, estamos trabalhando com a paixão de um clube que tem uma torcida imensa. Por entender o clube, a cidade e o meio onde estamos, temos tudo para desenvolver um bom trabalho aqui. Trabalho esse que nos leve à Série A do futebol brasileiro no ano que vem”.
Mensagem ao torcedor
“Todos que respiram o Cruzeiro têm que entender que estamos disputando uma competição extremamente difícil. Essa competição você não ganha ou não fica entre os quatro apenas com o nome e a estrutura do clube. Se você não for a campo, não trabalhar e não tiver uma entrega de todos os profissionais, não tem sucesso. O que a gente quer passar aqui é que com certeza os nossos jogadores vão comprar essa ideia. Quando você chega a um clube, a primeira coisa que faz é estudar o perfil dos atletas que você tem. Não é apenas o perfil técnico e tático, mas o psicológico também. Nós temos hoje um grupo montado com alguns jogadores experientes, da base, e a gente tem de montar uma equipe homogênea. Embora hoje não tenhamos a presença dos torcedores nas partidas, creio que com a sequência dos resultados positivos vamos criar uma onda legal de informações e matérias boas. Isso depende de resultado”.
“Queria passar ao torcedor que o Cruzeiro está recebendo hoje um profissional que entende muito bem o momento do clube e também tem o desejo enorme e afetivo de ver essa equipe na próxima temporada na Série A. Sei do grau de dificuldade da competição, e é isso que vamos exigir de todos os profissionais que estão aqui dentro: entrar em campo, jogar bem e conseguir os resultados positivos. Vamos trabalhar muito para isso”.