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Diagnóstico dos vices: desfalques importantes, arbitragem e incertezas

Atlético esbarrou em 1977, 1980 e 1999 e não conseguiu repetir o feito de 1971

postado em 19/12/2011 08:32 / atualizado em 19/12/2011 13:52

Arquivo/EM DA Press

Na história alvinegra em Campeonatos Brasileiros, houve 13 oportunidades claras de voltar a ser campeão. Este é o número de vezes que o clube terminou entre os quatro melhores da competição.

Nas temporadas de 1977, 1980 e 1999, a dor foi ainda maior por não ter conseguido levantar a taça. Essas foram as campanhas nas quais o Galo ficou com o vice-campeonato.

A brilhante geração de Cerezo e Reinaldo ficou no “quase” duas vezes. Depois, mais recentemente, a dupla Marques/Guilherme também deu esperanças para a massa alvinegra, mas ela não se converteu na alegria maior.

O Superesportes ouviu personagens importantes que tentam explicar o porquê de a geração de 1971 ainda ser a única a gozar de tanto prestígio na história do Atlético e ser a dona do único título brasileiro do clube. Toninho Cerezo, João Leite, Humberto Ramos e Guilherme recontam a história.

1977: invicto perde título sem o seu craque na final


Arquivo/EM DA Press
Se a Seleção Brasileira de 1982 ficou marcada por jogar um futebol bonito mas ter falhado na tentativa de ganhar o título mundial, cinco anos antes, o Atlético já construía história semelhante no Campeonato Brasileiro.

Contudo, o time alvinegro, comandado por Barbatana, chegou muito mais perto de erguer a taça. Depois de uma campanha impecável, o Galo, que não perdeu naquela competição, ficou com o vice-campeonato na disputa de pênaltis.

Contra o São Paulo, a decisão foi para as penalidades após um 0 a 0, no Mineirão. Toninho Cerezo, Joãozinho Paulista e Márcio falharam com a camisa alvinegra e viram o Tricolor Paulista se dar melhor com o resultado de 3 a 2.

O atacante Reinaldo, craque do Galo na campanha, ficou fora da decisão, suspenso. “O Reinaldo era o diferencial do time. Era referência da torcida e do time. O cara como o Rei faz falta sem a menor dúvida”, afirma Toninho Cerezo.

O camisa 9 marcou 28 gols em 18 partidas naquele Brasileiro e poderia ter sido decisivo no jogo final. Até hoje, ele é dono da maior artilharia, no quesito média de gols, de uma edição da competição.

Mas, mesmo sem Reinaldo, por que o Atlético não conseguiu sucesso? Pergunta difícil de ser respondida. “São perguntas que os anos passam, passam, passam e você nunca acha uma justificativa”, diz Cerezo.

“É difícil dizer porque a gente não venceu esse campeonato. Tínhamos 12 pontos à frente do São Paulo. Ser vice-campeão com essa vantagem é atípico”, completa o goleiro João Leite.

Para o camisa 1, a ausência de Reinaldo não foi o único fator que pesou. “É claro que um jogador como o Reinaldo não jogar a final de um campeonato influencia. Mas tem outros fatores naquela derrota nos pênaltis. Até porque foi um jogo violentíssimo e nosso time era muito técnico”, argumenta.

“Com o campeonato de 1977 dá para escrever um livro. O Atlético teve o artilheiro, mas por causa de um regulamento estranho, perdemos o título. No mínimo, deveríamos jogar pelo empate, pois éramos o time com mais pontos. A nossa única vantagem foi jogar no Mineirão, mas os 12 pontos não contaram em nada a nosso favor. Foi totalmente injusto”, conclui o antigo goleiro.

1980: golpe de Nunes a sete minutos de conquistar a glória


Arquivo/EM DA Press
Dois esquadrões e a final mais emocionante de todos os Campeonatos Brasileiros, segundo muitos jornalistas que acompanharam o duelo. Atlético e Flamengo tinham a base da Seleção Brasileira e, no auge da rivalidade entre os dois clubes, disputavam o título nacional.

Dentre 44 participantes, restaram os dois melhores do Brasil. Na primeira partida, vitória alvinegra por 1 a 0. Reinaldo foi o autor do gol, no Mineirão.

Mas a equipe rubro-negra tinha a vantagem de precisar vencer por apenas um gol de diferença na volta, por ter tido melhor campanha anteriormente. No Maracanã, o Galo segurava um 2 a 2 emocionante até o fim da partida.

O craque Reinaldo havia marcado os dois tentos alvinegros, mesmo atuando machucado. Mas, aos 38 minutos da etapa final, Nunes fez um lance improvável no canto da área, passou por Silvestre e bateu entre a trave e o goleiro João Leite.

O camisa 1 destaca que as três expulsões sofridas pelo Galo foram influentes no resultado final. “O árbitro José de Assis Aragão expulsou três jogadores do nosso time. Até o Reinaldo, que havia feito o gol de empate, que nos daria o título. Além dele, Chicão e Palhinha também foram expulsos. O Atlético tinha muitas possibilidades de ganhar naquele ano, mas foi prejudicado”.

Até mesmo o primeiro jogo é motivo de queixas do Atlético, por conta de uma arbitragem tendenciosa, segundo o olhar de João Leite. “No primeiro, onde precisávamos fazer o resultado em casa, a CBF escala Romualdo Arppi Filho, um árbitro com toda a característica de segurar muito o jogo. A loteria esportiva na época era muito acompanhada e dava prêmios atrativos. O apelido do árbitro Romualdo Arppi era 'Coluna do Meio'. Quando era ele no apito, os jornalistas, que acompanhavam os jogos, falavam que a oportunidade de dar empate era grande. Foi um jogo tumultuado, parado. Fizemos 1 a 0 e fomos jogar pelo empate no Rio”.

O volante Toninho Cerezo lamenta a chance perdida pelo clube. “Na decisão de 80, o Reinaldo jogou machucado. O Atlético chegou à final porque tinha capacidade, jogadores, qualidade, todo uma somatória para ganhar o título”.

“A equipe que nós tínhamos era preparada para ser campeã. Se você fizer um levantamento, vai ver que nosso aproveitamento foi superior a 70% nos dois campeonatos, de 77 e 80”, completa.

1999: sem o seu garçom, artilheiro parou no paredão corinthiano

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Desacreditado como 1971, o Atlético teve um personagem em comum nas duas campanhas. Em 1999, Humberto Ramos assumiu o comando do time na reta final do Campeonato Brasileiro, mas não conseguiu o bicampeonato. Ele foi o técnico do time após a demissão do uruguaio Dario Pereyra.

Mas quem comandava a massa atleticana era a dupla de ataque, formada por Guilherme e Marques. Municiados por Robert e Belletti, eles tinham a segurança de uma defesa bem encaixada, formada por jogadores como Velloso, Caçapa, Galván e Gallo.

No meio da campanha, o Atlético chegou a eliminar o Cruzeiro, um dos favoritos do campeonato, que já havia ficado com o vice no ano anterior. A final foi contra o Corinthians.

Depois de vencer o primeiro jogo por 3 a 2, no Mineirão, o Atlético foi derrotado no Morumbi por 2 a 0. O regulamento previa uma terceira partida, com vantagem para a equipe paulista, dona de melhor campanha na primeira fase.

Contudo, o Atlético não teve o seu garçom Marques nos dois jogos finais. Ele se machucou no Mineirão, na primeira partida.

“Estivemos muito próximos da conquista em 1999. Tivemos uma perda muito importante. O Marques representava 40% do elenco. O elenco era restrito, não tinha substitutos à altura. Além disso, tivemos um pênalti não marcado pelo Márcio Rezende, no segundo jogo que poderia ser decisivo”, comenta Humberto Ramos.

O atacante Guilherme aponta a falta de um grupo mais forte como problema para fazer frente ao Corinthians. Marques foi substituído por Curê na segunda partida e depois Lincoln, no duelo final. “Faltou elenco. Com certeza, faltou qualidade no nosso grupo, que era bem enxuto. Além disso, o Corinthians tinha um grande time”, afirma o camisa 7, artilheiro daquele Brasileiro, com 28 gols.

“Nós começamos a perder o campeonato quando o Marques se machucou. Eu já sabia disso, mas mesmo assim nós pressionamos. Tivemos um pênalti claro não marcado e prejudicou também. Mas, sendo bem sincero, o Corinthians era muito superior ao Atlético”, diagnostica o goleador.

(Colaborou: Luiz Martini)

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