América
None

AMÉRICA

Entrevista exclusiva: Moacir Júnior fala sobre o projeto do América para voltar à Série A em 2015

Técnico não considera equipe favorita ao título, mas garante força para surpreender

postado em 28/08/2014 17:00 / atualizado em 28/08/2014 20:13

Arthur Sala Minoves /Superesportes , Rafael Arruda /Superesportes

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Depois de um período de insucessos no futebol, o América volta a alegrar sua torcida. Ocupa a liderança da Série B do Campeonato Brasileiro, com 32 pontos e vantagem no número de vitórias sobre Ceará e Vasco, seus rivais. O Coelho é, sem dúvidas, uma das equipes mais qualificadas da competição. Parte desse sucesso se deve a um grande conhecedor do futebol mineiro. Natural de Curvelo, região Central do estado, Moacir Júnior se apega ao fato de ter trabalhado em Tupi, Tombense, Uberlândia, Ipatinga, Social, entre outros, e ao “jeitinho mineiro” de ser. Desconfiado, cauteloso, mas ao mesmo tempo aberto ao diálogo. Dedicação e comprometimento fazem parte do dia a dia do técnico, que, após treinos e entrevistas coletivas à imprensa, costuma ficar em uma sala particular no CT Lanna Drumond. Uma espécie de escritório onde são trabalhados esquemas táticos, formações, estatísticas e maneiras de como superar os adversários.

A estabilidade pela qual o América passa não foi a mesma encontrada por Moacir Júnior quando assumiu o clube. O treinador chegou ao Coelho em fevereiro deste ano, quando a equipe amargava a zona de rebaixamento do Campeonato Mineiro. Sob o comando do técnico, o time reverteu a situação e chegou às semifinais. A recuperação no torneio estadual foi um passo importante para a evolução que seria vista na disputa da Série B do Brasileiro, sobretudo no Estádio Independência. Ao todo, foram sete vitórias em sete partidas no Horto pela competição nacional. Feito que, segundo o comandante, se deve à 'confiança extra' que os jogadores encontraram no estádio. Moacir destaca também a qualidade do América em fundamentos como marcação adiantada e bola parada.

Nesta sexta-feira, diante do Sampaio Corrêa, o título de campeão simbólico do turno da Série B motiva Moacir Júnior a derrubar o “azar” do América na condição de visitante. Mais que isso. Será um ingrediente para o tão aguardado confronto contra o Vasco da Gama, no dia 6 de setembro (sábado), em Belo Horizonte. A equipe carioca é colocada pelo técnico americano como grande favorita ao título. Em relação às pretensões do Coelho, o acesso segue como objetivo principal. Não que a conquista do Campeonato Brasileiro esteja fora de cogitação, porém Moacir acredita que é necessário pensar em jogo a jogo. Em entrevista exclusiva ao Superesportes, o chefe do elenco alviverde também falou sobre o desejo de fazer história no clube, os projetos para o futuro, a cultura do futebol brasileiro, o número de contratados e a utilização de jovens promessas das categorias de base.

Recentemente, você completou 30 jogos no comando do América. Com mais algumas rodadas nesta Série B, tende a ultrapassar Paulo Comelli, técnico mais longevo no clube depois da “era Givanildo”, em 2012. Está determinado a escrever uma rica e importante história no Coelho?

Num clube com a envergadura do América sempre entramos com o objetivo de fazer um trabalho consistente e, lógico, buscando os resultados. Tivemos um aproveitamento muito bom no Campeonato Mineiro e agora na Série B também. Diante das dificuldades da competição, a gente consegue um aproveitamento muito bom. Então é um orgulho, é uma honra muito grande ter batido esta marca de 30 jogos pelo América. Mas esperamos aí que o objetivo principal do ano, tanto meu, do América, do presidente, dos torcedores, de todos, é o acesso à Série A. Esperamos que, independentemente da marca de jogos no fim do ano, o objetivo seja alcançado ao término da Série B.

Embora tenha residência em Ribeirão Preto-SP, você é mineiro de Curvelo. Trabalhou por várias equipes como Tupi, Nacional, Uberlândia, Ipatinga e Tombense. É um conhecedor das raízes do estado e recentemente agregou ao grupo do Coelho valores oriundos do interior. Qual a importância de um clube como o América valorizar os profissionais de Minas Gerais?

Acho que é muito importante. A gente vem há muito tempo fazendo bons trabalhos nestas equipes citadas. Passei também por Democrata, Social, no qual fomos campeões do Módulo II, Tupi de Juiz de Fora, enfim. Sempre em mais de uma passagem. Uberlândia, Nacional de Nova Serrana, Villa Nova, ou seja, a gente percorreu vários caminhos. Trabalhei na base, na equipe da Acearia. Recentemente no Tombense, pelo Campeonato Mineiro, durante três meses. Então é uma trajetória muito vencedora que engloba um amadurecimento muito grande mesmo estando no interior de Minas. Então isto fez com que o América manifestasse interesse. E agora, com esta oportunidade, eu, particularmente, quero abrir portas para que outros treinadores do interior sejam valorizados e quando tiverem suas chances tenham a mesma felicidade que eu estou tendo.

Nesses mais de seis meses trabalhando em Belo Horizonte, chegou a se sentir pressionado no sentido de ter obrigação de fazer um trabalho acima da média para apagar as manchas deixadas nos comandos anteriores?

Sem dúvida alguma. Quando você trabalha por equipes de médio ou grande porte, sempre ficará pressionado pelos resultados. Agora, é preciso equilibrar bem essa pressão, dividir bem os trabalhos com a comissão técnica, dividir as responsabilidades com os jogadores, passar confiança aos funcionários do clube. Sua dedicação como profissional acaba agregando a confiança de todos. Foi o que aconteceu comigo. Hoje, tenho um relacionamento excepcional com os funcionários do clube, com a diretoria, imprensa, torcedores. Tudo isso aí me ajudou a controlar a pressão. A vontade de permanecer e subir para a Primeira Divisão é grande. E o que era pressão, acabou. O que tínhamos de provar de dedicação e comprometimento com o clube, nós já provamos. E esse comprometimento será nossa marca registrada enquanto estivermos no comando do América.

O América é líder da Série B. Se vencer o Sampaio Corrêa, garantirá o título simbólico de campeão do turno. Você encara esta possibilidade como apenas mais uma parte do campeonato ou acha que será uma motivação a mais para seguir com a boa campanha?

É uma motivação a mais, não tenha dúvida. As melhores formas de marcar suas passagens pelos clubes são com acessos e títulos. O nosso trabalho, de todos os jogadores e do restante da comissão é muito bom. É um trabalho de recuperação muito forte que fizemos no América. Mas não tenha dúvidas que o título simbólico marca. É um carimbo que registrará nossa primeira colocação no turno da Série B de 2014. Claro que, para o objetivo principal, que é o acesso, isso aí não garante nada. Mas, para autoestima e confiança dos jogadores será de extrema importância. Buscaremos com muita força, independentemente de desfalques e problemas.

No início do campeonato, o discurso era brigar pelo acesso. Hoje, o Coelho lidera a competição. Seria precipitado colocar o América no patamar de favorito ao título ou vocês já enxergam a possibilidade de vencer a Série B pela segunda vez na história do clube?

Não vejo o América como favorito ao título. Na verdade, se você for analisar todas os comentários, nos colocaram como um participante e postulante a permanecer na Série B. E agora estamos com o nosso trabalho e os resultados convertendo isto a um possível candidato ao acesso. E, obviamente, se continuarmos nessa virada como campeões do primeiro turno, podemos conseguir o acesso. Existe uma pesquisa de que, nos seis últimos anos na Série B, todo time que virou em primeiro lugar conseguiu o acesso. Então caso a gente consiga este feito nesta sexta-feira, acredito que nos credenciaremos sim a condição de favorito ao acesso. Agora, favorito ao título, por investimento, envergadura e apoio de todas as áreas, o favorito é o Vasco da Gama. Favorito disparado. Mas queremos nos tornar favoritos fazendo os resultados.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


Qual o segredo para os 100% de aproveitamento no Independência?

O segredo é passar uma confiança extra, ter uma cobrança maior, marcar o adversário mais forte. Falo para eles (jogadores) sempre que se ganha os jogos em casa não dando chances ao adversário. Então, se você for observar, a gente às vezes monta uma marcação um pouco mais alta no Independência e mais forte. Isso nos traz resultados fantásticos. Além disso, os atacantes chamaram responsabilidades e a bola parada está muito bem encaixada também. Todos estes fatores nos tornam uma equipe muito temida pelos rivais na nossa casa.

E por que a equipe não consegue render da mesma forma fora de Belo Horizonte?

Isto é uma característica de cada campeonato, de cada clube. Ninguém joga fora de casa para perder. Sempre para ganhar. Já usei várias estratégias fora de casa. Marcar perto, por pressão, jogando com três volantes, com três atacantes. Estamos procurando o melhor perfil que nos devolva aquele início muito bom. Tivemos empate com o Vasco e duas vitórias contra Boa Esporte e Bragantino, fazendo grande uso da bola parada. Então agora seguimos à procura e buscando uma forma de alcançar um bom retrospecto fora. Vai acontecer. Não estamos pressionados com isso, pois sabemos que se ganharmos todos os jogos em casa, possivelmente estaremos na Série A de 2015, que é o nosso grande objetivo. Contudo, é difícil ganhar os 10 jogos restantes em casa e ao mesmo tempo ficar sem vencer nenhum fora. Espero que seja sexta-feira. No momento certo, crucial, que valerá o título do turno. Queremos colocar uma nova formação, superar os problemas, os desfalques. Sem este estigma que todo mundo está colocando. Internamente, estamos trabalhando forte e queremos muito vencer fora. Mas se não conseguirmos e ganhar todas em casa, nós voltaremos à Série A.

Se o campeonato terminasse hoje e o Coelho confirmasse o acesso, teria condições de brigar por uma posição respeitável na elite de 2015? Visto que outros clubes têm orçamentos astronômicos, o que fazer para evitar o “bate e volta”?

O América cuida do alicerce. Tem um ótimos CT, estádio e sede administrativa. Agora, o clube tem tudo que um time de Série A necessita para permanecer com o sonho de se consolidar na elite. Acredito que, caso este acesso ocorra, o América estará pronto para ficar e não “bater e voltar”. Tudo isso devido à estrutura de hoje, que é completamente diferente da de anos antes.

Diferentemente do que acontece na Europa, onde o profissional costuma ficar por anos no comando de uma equipe, no Brasil a rotatividade de técnico é muito grande. O que você pensa a respeito disso? Acha que a cultura pode ser alterada?

Eu acho difícil, né?! Aqui no Brasil há poucos casos, como o Marcelo Veiga no Bragantino, no qual o resultado era importante, mas o vínculo com as pessoas ia mais além. Acho importante quando se tem um profissional que se identifique e se dedique ao clube. Tem que mantê-lo o maior tempo possível. Mas no meu caso, por exemplo, tenho o contrato se encerrado ao término da Série B. Existem inúmeros fatores que acarretam na continuidade ou não do treinador. Então, acredito que com nossa filosofia essa história de um treinador ficar dois anos, três anos, cinco anos em uma mesma equipe ainda é uma utopia. Mas esperamos que isso mude um dia e o treinador possa ter mais tempo para desenvolver um projeto a longo prazo, que é importantíssimo no futebol. Particularmente, acredito muito em projetos em longo prazo.

Ainda sobre o tempo de cada técnico em um clube, você tem pretensões de estender seu vínculo com o América?

No futebol a gente tem que trabalhar muito com organização, dedicação e comprometimento. No momento, estou muito feliz, realizado e sinto uma reciprocidade muito grande de funcionários, atletas, diretores, imprensa, torcida, é um envoltório muito grande. Hoje é um momento muito feliz, mas o amanhã pertence a Deus. No nosso mercado não se pode falar do amanhã, tem que ser do hoje. Estou feliz no América, honrado pelos 30 jogos com bom aproveitamento e esperamos concluir nosso trabalho com chave de ouro.

Sobre categorias de base, o América vem fazendo boa campanha na Taça BH de Futebol Júnior. É possível apontar algum destaque nesta equipe? Bruno Sávio e Rubens, por exemplo, podem fazer parte dos planos? E outros atletas?

O Rubens faz parte do nosso elenco profissional. É um atleta que está amadurecendo, mas ainda em formação se comparado a Obina e Júnior Negão. Mas faz parte do grupo e pode, a qualquer momento, ser aproveitado. Assim como está acontecendo com o Sávio. Também há o Renatinho (Renato Silva), o Paulinho (David Silva), que infelizmente se machucou. O grupo todo faz um bom trabalho sob os comandos de Milagres (técnico) e Paulão (auxiliar). Aliás, toda a comissão técnica do sub-20 está fazendo um trabalho substancial e é, obviamente, acompanhado pelo nosso departamento. Só que, no América, não vou me permitir ser um treinador que queimará etapas. Por exemplo, se o América conseguir uma virada forte e abrir uma vantagem de pontos que nos permita lançar alguns jogadores, sem pressão, a gente vai fazer isso. Do contrário, os lançarei no momento em que achar cabível, justamente para que não fiquem no “bate e volta”. O Marcelo (lateral-direito), por exemplo, subiu num momento difícil do Campeonato Mineiro e teve que voltar. A gente vai fazer um trabalho sequencial para o atleta tenha crescimento e o clube receba o retorno esperado dele.

O América contratou 30 jogadores neste ano (Em breve deverá anunciar Raul, o 31º reforço). Alguns nem sequer atuaram. A base pode ser solução para redução de custos no clube?

Pode sim. Desde que haja necessidade casada com o momento. A gente vai fazer uma observação mais forte na fase final da Taça BH, no período do Campeonato Mineiro Sub-20, porque aí vemos os atletas jogando em uma condição maior de estresse, onde podem provar suas capacidades de se credenciarem e terem oportunidades no time. Com relação ao número de atletas contratados, isso infelizmente acontece. No Campeonato Mineiro todos sabem que foi um início difícil e conturbado. Logo, fizeram-se necessárias contratações e trocas de posições. Aconteceu isso realmente, de alguns atletas passarem pelo clube, num momento de aposta ou necessidade, e acabarem dispensados depois. É um ano atípico, que começou com muitas dificuldades e passou a ser promissor. Hoje temos um grupo estável, muito bom e agora com boas opções da equipe sub-20, que começa a apresentar resultados e produtividade. O departamento profissional está atento a um possível aproveitamento.

Carlos Cruz/América FC

Tags: Moacir Júnior entrevista exclusiva serieb americamg américa superesportes