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COPA LIBERTADORES

Entrevista oficial tem várias saias justas entre Conmebol e presidentes de clubes

Evento em hotel de Belo Horizonte teve presença de mandatários de Atlético e Olimpia

postado em 24/07/2013 13:59 / atualizado em 24/07/2013 19:02

Jair Amaral/EM/D.A Press

Oferecida pela patrocinadora oficial da Copa Libertadores, a entrevista coletiva com a presença dos presidentes de Atlético, Olimpia e da Conmebol, na manhã desta quarta-feira, em um hotel da região Nordeste de Belo Horizonte, era para ser amistosa e festiva. Mas temas polêmicos ganharam a mesa dos dirigentes, como a liberação do Defensores del Chaco para o jogo de ida, a realização da finalíssima no Mineirão, e não no Independência, e principalmente os episódios de violência proporcionados por torcedores dos dois clubes em Assunção e em Belo Horizonte. Por isso, sobraram saias justas no evento e constrangimentos.

Tudo começou quando o presidente do Olimpia, Oscar Daniel Carissimo, iniciou seu discurso lamentando profundamente a intranquilidade que seu time teve durante a madrugada por conta principalmente dos fogos de artifício disparados por torcedores do Atlético “acampados” em frente ao hotel Ceasar Business, no Bairro Belvedere, em Belo Horizonte. Muitos ainda jogaram pedras e invadiram o hall do hotel por volta das 3h da manhã.

“Estamos contentes, felizes e orgulhosos de poder estar aqui pela sétima vez na final da Copa Libertadores. (...) Mas não nos deixaram dormir. Houve um tumulto com três mil pessoas diante do hotel, pessoas atirando bombas, lamentavelmente tenho que contar isso, que é grave para o Brasil. Estou contente de estar aqui. É a quarta vez em Minas, três contra o Cruzeiro e uma contra o Atlético, mas o que ocorreu à noite é histórico, e o que fizeram não existe mais no futebol”, disse Carissimo em tom de desabafo, dando o tom da entrevista.

Logo em seguida, veio a resposta dura de Alexandre Kalil, presidente do Atlético. Ele lembrou que, após o jogo de ida, um torcedor do clube chegou a ser atingido por um tiro na periferia de Assunção e só conseguiu retornar ao Brasil nessa terça-feira. Além disso, pedras foram atiradas no gramado durante a partida no Estádio Defensores del Chaco. Os exemplos não foram usados para justificar a presença de atleticanos no hotel do Olimpia, em Belo Horizonte, e sim para mostrar que, também no Paraguai, houve insegurança para o time e seus seguidores.

“Eu apenas seria muito breve para dizer que é um prazer recebê-los, mas acidentes com as torcidas são fatos comuns em torneios dessa grandeza haja vista que apenas ontem nosso torcedor que recebeu tiro no Paraguai chegou ao Brasil. Isso não empana a beleza do espetáculo do Paraguai. Fatos isolados do Paraguai, como pedras atiradas em campo, como tiros de arma de fogo, não empanam a final. Temos é que trabalhar para que isso não aconteça. Não queria falar disso, mas fomos recebidos a pedradas, tivemos nossos ônibus quebrados, e torcedor levou tiro. Mas os fatos devem ser colocados em seus devidos lugares”, retrucou Kalil.

Ao ser indagado sobre os episódios de violência citados, o presidente da Conmebol, o uruguaio Eugenio Figueiredo, disse “estar bastante preocupado” e prometeu sanções mais duras para os clubes nas próximas edições da Copa Libertadores caso esses casos de violência se repitam. Ele até cogitou transferir a decisão do torneio para uma cidade neutra, como a UEFA já faz com a Liga dos Campeões, principal competição interclubes da Europa.

“Não somos controladores, porque somos pessoas do futebol. Sobre segurança, cabe aos governos responderem. Mas não fugimos à nossa responsabilidade. Nas próximas edições, faremos responsáveis as associações locais. Elas poderão ser sancionadas. Suspenderemos estádios. Se não funcionar, teremos que jogar em país neutro. Não queremos justificar o que aconteceu aqui com o que aconteceu no Paraguai. Isso não pode acontecer em qualquer parte. É absurdo que jogadores não possam descansar porque (torcedores) acreditam que isso pode influir no resultado do jogo. Não quer dizer que interfira, mas não é a situação ideal. Se queremos estar no primeiro mundo do esporte, essa situações terão que mudar”, respondeu o presidente da Conmebol.

Mais constrangimentos na coletiva

A polêmica sobre segurança e baderna não foi a única a gerar constrangimento nos dirigentes durante a entrevista oficial. Mais adiante, o presidente atleticano cobrou Figueiredo na mesa por ter liberado o Defensores del Chaco para a final e ter vetado o Independência. Ambos não tinham a capacidade de 40 mil espectadores exigida pelo regulamento. Mas apenas o jogo de volta, em Belo Horizonte, foi transferido. O Mineirão, que abriga 60 mil, foi o palco escolhido.

Para Kalil, o Atlético e a CBF, por meio do seu presidente, José Maria Marin, são fracos politicamente a ponto de não terem suas reivindicações atendidas pela Conmebol. “Acho que a Copa Libertadores caminha para uma organização melhor. Realmente nos causou muita estranheza que o regulamento não tenha sido cumprido - se tomou decisão unilateral - e que a CBF não tenha forças. Ela se mostrou fraca na hora de que fosse cumprido o regulamento. Acho que isso é passado. (...) A grande preocupação é que não teve normalidade até agora”.

Ainda segundo Alexandre Kalil, a Conmebol sequer deu explicações à CBF por ter confirmado o jogo de ida no Defensores del Chaco, que tinha capacidade inferior. “Tentei falar com o presidente Figueiredo, e não consegui falar com ele pois ele estava em viagem de trabalho. Quando pedimos explicação, ela não veio e o regulamento foi fechado. Se queremos fazer boa competição, que o regulamento seja cumprido. Nos tiraram mando de campo e é uma coisa que só o presidente da Conmebol pode explicar. Ele se mostrou fraco, porque nenhum dos estádios tem capacidade para 40 mil e isso foi mostrado na final”, disse o presidente do Atlético, dirigindo-se a Figueiredo, naquela que foi a maior saia justa do encontro.

Muito incomodado, Figueiredo chegou a querer interromper a entrevista coletiva por conta das polêmicas. Mas, antes, fez questão de explicar porque vetou o Independência. “Quero responder parte do que disse o senhor Kalil. Não vamos brigar entre nós no dia de um espetáculo. O presidente Marin (da CBF) se comunicou comigo até o último momento defendendo a posição de o Atlético jogar no Independência. Nós sabemos que os clubes têm interesses. Mas os dirigentes que precisam fazer justiça precisam ter outra cabeça. Preciso ser imparcial e queria a final num estádio de Copa do Mundo, com as melhores condições que qualquer outro onde já se jogou nesta Libertadores. Só no Mineirão teríamos isso. Essa final merecia um cenário como o de hoje, e tomamos a medida correta. Fomos imparciais. Clubes olham os seus interesses. A Conmebol precisa ser justa em suas definições”.

Eugenio Figueiredo encerrou lembrando que foi dez anos presidente da Associação de Futebol do Uruguai e é o presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. “Sabiam disso? Tenho certeza que não. É para mostrar que quero o melhor para o Brasil, para os seus eventos, e que precisamos dar exemplos para o mundo. Seremos assistidos por 200 países nessa grande final, e precisamos de um palco à altura desse espetáculo”.

Após tanto mal-estar, a entrevista foi encerrada em clima de reconciliação. Figueiredo pediu que Alexandre Kalil e Oscar Daniel Carissimo dessem as mãos e posassem para as fotos. Em clima bem-humorado, o presidente do Olimpia ergueu os braços mostrando confiança no título da Copa Libertadores.

A última palavra de Alexandre Kalil acabou de vez com o clima de revanche. “Eu gostaria de encerrar a minha participação agradecendo o presidente Figueiredo e me desculpando com o presidente do Olimpia. O Olimpia não tem culpa por termos levado pedradas. Como o Atlético é entidade esportiva, não podemos cuidar de segurança. O que temos que aperfeiçoar na Libertadores é que a segurança seja mais eficaz. Como anfitrião, temos que saber que não houve problemas só aqui. Houve lá também. Que se reclame, mas que se cuide. Sejam bem vindos e Belo Horizonte recebe a todos com muito orgulho. O Olimpia terá segurança total”.

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