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'Chefe', personalidade forte, brincalhão e cinéfilo: um perfil de Sampaoli, novo treinador do Atlético

Técnico teve problemas com dirigentes em últimos trabalhos; ele chega ao alvinegro para acabar com o rodízio de treinadores no clube

postado em 03/03/2020 07:00 / atualizado em 02/03/2020 22:22

(Foto: Ivan Storti/Santos)

Depois de sucessivos fracassos do time este ano, o presidente Sérgio Sette Câmara apostou alto e oficializou a contratação de Jorge Sampaoli para o cargo de treinador do Atlético. A escolha foi baseada, principalmente, no bom trabalho feito por ele em 2019, quando levou o Santos ao vice-campeonato brasileiro. Com essa opção, o mandatário alvinegro espera dar fim ao rodízio de comandantes na equipe. Entre efetivos e interinos, foram sete nomes à frente da equipe em dois anos e dois meses. Mas o que esperar desse argentino de 59 anos como profissional e também no âmbito pessoal?

Nos últimos anos, Sampaoli ganhou projeção internacional ao formar times competitivos e com futebol vistoso, mas também passou por situações turbulentas: briga para sair da Seleção Chilena, problemas de relacionamentos com atletas e fracasso na Copa da Rússia com a Argentina, além de troca de farpas com o presidente do Santos, José Carlos Peres. Na Cidade do Galo, a expectativa é que Jorge coloque o Atlético nos trilhos. Ademais, haverá grande curiosidade sobre como o novo técnico se relacionará e se portará em treinos, entrevistas e também em suas horas de folga.

O fato é que Jorge Sampaoli volta a ser, no Galo, um dos grandes personagens do futebol brasileiro.

Justamente para conhecê-lo melhor, o Superesportes conversou com pessoas que acompanharam de perto o trabalho de Sampaoli no Santos. A personalidade forte foi bastante destacada, assim como o estilo de trabalho.

Veja abaixo um perfil do treinador argentino:

Treino pesado

Sampaoli tem sua metodologia de trabalho. A imprensa só sabe o que acontece em campo por relatos oficiais do clube. O treinador fecha todas as suas atividades táticas e faz muitas exigências durante cada uma delas. A cobrança intensa é, por um lado, criticada, por causa da forte personalidade do argentino. Por outro, é exaltada, pois sua dinâmica agrada à maioria dos jogadores.

(Foto: Ivan Storti/Santos)

“Na hora do treino é difícil, ele tem uma personalidade muito complicada. Ele sempre fala muito”, disse o atacante venezuelano Yeferson Soteldo, do Santos, em entrevista ao canal Desimpedidos, no ano passado. 

Para o mesmo canal, o atacante Marinho, do Santos, exaltou o trabalho de Sampaoli. “Sampaoli é um cara que solta mais o time, quer que o atacante jogue para a frente. O jeito do Sampaoli me favorece mais. Todo treinador tem uma metodologia de trabalho e a dele eu gosto bastante. O trabalho dele é diferente, o jeito que ele trabalha com todo mundo. Tem muito treinador que só trabalha os 11 que jogam, ele trabalha com todo mundo”.

A escalação, no Santos, nunca foi o mesma em duas partidas seguidas. O treinador fazia mudanças de acordo com cada adversário. As surpresas constantes incomodaram um pouco a alguns jogadores e dirigentes do clube paulista. No fim do ano passado, alguns ruídos surgiram na imprensa, mas nada foi confirmado oficialmente.

Para o jornalista Bruno Lima, do jornal Tribuna de Santos, Sampaoli tem um estilo bem diferente da maioria dos treinadores brasileiros. 

“Ele é extremamente perfeccionista. Tem uma ideia de trabalho, de jogo, e vai colocar em prática no Atlético. Vai exigir dos jogadores isso. É extremamente intenso e isso foi visto desde o primeiro jogo dele no Santos. É uma busca incessante pelo gol. E o time não diminui o ritmo. É a filosofia de trabalho, é a mentalidade dele", comentou o repórter.

Ego e personalidade

Uma das fontes ouvidas pelo Superesportes relembrou momentos da passagem de Sampaoli pelo Santos e enfatizou o ego do argentino a cada vitória. “Sempre cobrou reforços, principalmente quando o time não conseguia o resultado positivo. Mas quando o time vencia os jogos, exaltava as mudanças feitas por ele para dar um novo padrão à equipe”.

(Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP)

Sampaoli é um técnico de personalidade. Com ele, o treino é sempre fechado para a imprensa. Não existe entrevista exclusiva para nenhum jornalista. As coletivas são sempre após os jogos e quase nunca no centro de treinamentos. 

No Atlético, Sampaoli deve repetir a rotina que tinha no Santos: chegar cedo ao centro de treinamentos, se dedicar ao estudo dos adversários e ser um dos últimos a ir para casa.

Para o argentino, não importa 'cara feia', 'biquinho' ou reclamações. Ele tem a personalidade de um chefe, como relata Bruno Lima. “Diferentemente dos treinadores do futebol brasileiro, ele é um chefe, não pensa em agradar, pensa nas coisas saindo bem. Não liga para ‘biquinho’. É o chefe, manda, e quem não obedecer vai sair. Ele é rígido. O Jorge deu um tapa no Sasha e ficou vários jogos sem jogar”.

Histórico de problemas

(Foto: MARTIN BERNETTI/AFP)

No comando da Seleção Chilena, o treinador fez história. Sampaoli levou a equipe a uma boa campanha na Copa do Mundo de 2014 e ao inédito título da Copa América, em 2015. No começo do ano seguinte, dias após renovar o contrato para permanecer em La Roja, decidiu se transferir ao Sevilla, da Espanha, após ter o valor do salário divulgado pelo então presidente interino da Federação Chilena de Futebol. Para isso, debateu com dirigentes da entidade, recusou-se a pagar a multa prevista em contrato e, com auxílio do clube espanhol, chegou ao desejado acordo.

Após uma saída turbulenta do Sevilla, voltou a dirigir uma seleção: a Argentina. Após ‘penar’ para se classificar nas Eliminatórias, a Albiceleste foi muito mal da Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Avançou na ‘bacia das almas’ ao mata-mata e foi eliminada para a França nas oitavas de final. Mas, mais que os resultados ruins, Sampaoli foi muito criticado por conta do mau relacionamento com os jogadores, entre eles Lionel Messi. Após o Mundial, deixou a seleção.

No período como treinador do Santos, Sampaoli trocou farpas várias vezes com o presidente José Carlos Peres. O motivo do desgaste foi sempre o mesmo: em diversas oportunidades, o técnico cobrou publicamente a chegada de reforços. Após o fim da passagem do argentino pelo clube, o dirigente o chamou de ‘gozador’ e negou que eles tenham ficado cinco meses sem se falar. 

Brincalhão

Sampaoli não é um treinador do estilo paizão, como Felipão, Abel Braga, Joel Santana, entre outros. No entanto, ele também não é totalmente ranzinza. Com os jogadores, o argentino costuma ser brincalhão em certos momentos.

“Depois que acaba o treino, ele gosta de brincar muito, quer bater em você (risos), mas é uma boa pessoa”, revelou Soteldo.

O atacante Marinho também tem uma história curiosa com o treinador argentino. “Eu fiz uma tatuagem e ele chegou dando um murro nas minhas costas. Depois que eu mostrei a tatuagem, ele queria bater mais. Às vezes eu escondo a bicicleta dele. Quando a gente está jogando futevôlei, ele chega e tira um para jogar, manda sair mesmo. Ele só fica bravo quando eu pego as coisas dele, a bicicleta, a moto…”, disse, aos risos.

Vida fora do clube

(Foto: Reprodução)

No período como treinador do Santos, Sampaoli virou notícia também pelo que acontecia fora de campo. O argentino foi flagrado várias vezes de sunga na praia, jogando futevôlei ou andando de bicicleta pela cidade. Ele, inclusive, utilizava o veículo para ir ao centro de treinamentos do clube paulista.

A relação de ‘amor’ com a cidade teve o seu auge na amizade com os ‘meninos da árvore’, um grupo de crianças de Jabaquara que escalavam árvores para acompanhar de perto o treino do Santos. 

Para retribuir o carinho, o treinador deu pares de chuteiras para os garotos. Por um deles, também foi presenteado: ganhou uma camisa e um boné. Na Páscoa, deu ovos de páscoa para as crianças.

Em outubro de 2019, o argentino convidou os ‘garotos da árvore’ para conhecer León, seu filho recém-nascido. 

Perfil

Sampaoli é apaixonado por arte. O treinador é fã de cinema e séries. A preferida do argentino é Game of Thrones, que adaptou para a TV a série literária As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin.

O novo comandante do Atlético também gosta de música. Mais especificamente de rock. Suas bandas favoritas são Don Osvaldo, Patricio Rey y sus Redonditos de Ricota e La Renga, todas da Argentina.

Na cozinha, o argentino mostra gosto pela culinária de seu país, principalmente churrasco e vinho.

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