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Conselho omisso? Perrella explica 'mãos atadas' e dispara contra diretoria: 'Montaram um esquema de poder no Cruzeiro'

Na data em que completa-se quatro meses do início das investigações contra diretoria do clube, presidente do Conselho Deliberativo concedeu entrevista

postado em 26/09/2019 06:03 / atualizado em 26/09/2019 03:39

<i>(Foto: Jair Amaral/EM/D.A. Press)</i>
Presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Zezé Perrella disparou novamente contra a diretoria administrativa. Em entrevista ao Superesportes, quatro meses depois do início das investigações da Polícia Civil contra o presidente Wagner Pires de Sá e os principais diretores da cúpula celeste, Perrella explicou por que o único órgão capaz de buscar o afastamento do mandatário está de 'mãos atadas'.

“É complicado porque eles (Wagner e aliados) têm 30 conselheiros que recebem dinheiro do clube, 30 que a gente sabe, e têm 130 conselheiros que os defendem, mesmo sabendo dessa bagunça toda. Para pedir o impedimento do presidente hoje, precisaríamos de dois terços do Conselho”, explicou. "Fico de mãos atadas", justificou. 

Perrella fez duras críticas à administração do atual presidente. Afirmou que Wagner e sua cúpula "montaram um esquema de poder para ficar 20 anos no Cruzeiro", classificou a gestão do grupo como "temerária" e afirmou que espera ação da Polícia Civil para "dar uma solução em tudo isso".

Nesta entrevista, Perrella ainda foi questionado sobre seu apoio a Wagner no início da gestão, sobre as dívidas do Cruzeiro e sobre o futuro político do clube. Ele afirmou que vê "com boa esperança" a possibilidade de candidatura de Pedro Lourenço, dono da rede Supermercados BH.  “Eu e Gilvan não falamos de nomes, mas vamos encontrar um candidato de consenso”, garantiu. 

 

Leia, na íntegra, a entrevista com Zezé Perrella:

Nesta quinta-feira, completam-se quatro meses das denúncias apresentadas pelo Fantástico. Desde então, teve Comissão de Sindicância, eleição de novo Conselho Fiscal, mas medidas efetivas não foram tomadas. Por que o Conselho Deliberativo do Cruzeiro não buscou o afastamento dos diretores envolvidos nos escândalos?

O que acontece hoje: a Comissão de Sindicância fez o trabalho, para mim excepcional, apontou os gargalos, mais de 10 mil ingressos por jogo. Inclusive, muitas denúncias de cambistas vendendo ingressos por R$ 20 fora do Mineirão e não sabemos como eles conseguem esses ingressos. 

Hoje, o que me preocupa, o que os documentos conseguem provar é que há uma gestão altamente temerária. Ele (Wagner) passou a despesa do clube, folha de pagamento, que era de R$ 13 milhões, para R$ 20 milhões. Pior, fizeram péssimos negócios. Jogadores com potencial de venda foram praticamente doados para os outros. Jogadores novos. Hoje, eu te diria que é uma gestão extremamente temerária. Não posso acusar ninguém de roubo, mas espero que a Polícia Civil faça sua parte o mais rápido possível e nos dê uma solução disso.

E a possibilidade do afastamento do Wagner e da diretoria executiva?

É complicado porque eles têm 30 conselheiros que recebem dinheiro do clube, 30 que a gente sabe, e têm 130 conselheiros que os defendem, mesmo sabendo dessa bagunça toda. Para pedir o impedimento do presidente hoje, precisaríamos de dois terços do Conselho. Isso diz o Estatuto e não temos esses votos. Hoje, o Conselho está dividido. Se fosse a metade mais um, teríamos. Mas, infelizmente, se o Conselho do Cruzeiro não mudar de opinião, eu fico de mãos atadas.

A eleição do Conselho Fiscal foi outro tema que movimentou a política. Como viu o pleito?

Foi apoiado por eles (Wagner e sua diretoria). Não vão achar nada de errado ali. Infelizmente, a eleição (presidencial) é no ano que vem. O que me assusta é que não fazem nada para mudar. Eles não querem largar o osso. Um trabalho horroroso desse, torcida inteira pedindo para sair, e eles lá. É de assustar isso. De assustar. 

Hoje, ao que parece, o senhor tem relação mais cordial com o Gilvan (de Pinho Tavares, ex-presidente) do que com o Wagner. Os senhores foram os principais cabos eleitorais da última eleição. O senhor a favor do Sérgio, Gilvan a favor do Wagner. Como perderam aliados assim?

Com toda certeza. O Wagner, hoje, eu quero longe do Cruzeiro. Eu posso ter tido divergências com o Gilvan, realmente nós rompemos politicamente. Tanto é que o Wagner só é presidente porque o Gilvan apoiou. O Gilvan é responsável por o Wagner estar lá. Perdemos (Zezé apoiou Sérgio Santos Rodrigues) uma eleição por 30 e poucos votos (o placar final foi 235 a 200). 

Mas eu e o Gilvan, hoje, temos 50% do Conselho. Passa disso até. Mas precisamos de 75% para afastar o Wagner. Eles compraram parte do Conselho. Como que pode, rapaz, 30 conselheiros receberem grana do clube? Esses 30 conselheiros têm quatro amigos cada um deles, amigos fiéis.

<i>(Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)</i>
 

Mas o senhor tinha dado um prazo aos conselheiros para decidirem se seguiam no Conselho ou como assalariados do clube. Isso caminhou?

Eles entraram na Justiça para continuar recebendo como Pessoa Jurídica. Estou esperando a decisão judicial para ver o que faço.

Membros da diretoria se posicionaram dizendo que não há mais conselheiro trabalhando no clube. Isso é mentira?

O Wagner me comunicou que tinha afastado todos eles temporariamente, até que resolvesse. Eu não sei como eles estão fazendo para receber. Agora, eles entraram na Justiça. O processo está em curso. Eu já ia dar uma canetada tirando eles, mas como eles entraram na Justiça, vou ter que esperar. 

Ainda sobre o relatório da Comissão de Sindicância, as investigações mostraram alguns números que chamaram atenção - ingressos, salários, comissões. Foi tudo divulgado, mas e depois? Ficou sem resposta? Nenhuma medida foi tomada para corrigir aquelas falhas encontradas? 

O parecer oficial não é da Comissão. Foi uma comissão que montei para dar elementos ao Conselho Fiscal. Mas o Conselho Fiscal foi eleito por ele (Wagner). O presidente do Conselho Fiscal, Paulo César Pedrosa, diz que não tem nada de errado. Já falou publicamente. 

O que o senhor pensa disso?

Eu penso que o que eles estão fazendo com o Cruzeiro não é coisa de cruzeirense. 

O senhor tem relação com o presidente do Conselho Fiscal? Conversam sobre o futuro do clube? Sobre a crise?

Converso com ele. Só que ele foi eleito pela turma do Wagner e vai querer ser fiél. Ele não vê problema nos caras. Eu não tenho o que falar dele, que recebe dinheiro do clube, dele não tenho o que falar. Mas ele está muito comprometido com o Wagner. Quer dizer, chama atenção esse comprometimento. Ele tinha que ser, cumprir o papel dele como estou cumprindo o meu, com isenção. Mas não estou dizendo que os caras estão roubando, porque não tenho provas. Espero que a polícia nos ajude isso, se é que está acontecendo. 

Embora tenha perdido a eleição, o senhor mostrou apoio ao Wagner e diretoria desde a posse. Há fotos de reuniões em restaurantes, seu filho mesmo chegou a prestar consultoria ao Cruzeiro, há uma relação antiga com o Itair naquela época de Ipatinga. Em que momento isso se rompeu?

Eu penso no Cruzeiro. Me juntei ao Gilvan (nesse novo panorama de articulação política do clube) por isso. Eu tentei dar conselhos sobre o futebol ao Wagner e tudo mais, mas ele nunca me solicitou, nunca perguntou o que eu achava disso ou daquilo.  Rompi a partir do momento que entendi que eles estavam fazendo mal ao Cruzeiro. 

Que momento foi esse?

Logo com um ano de gestão a gente já estava praticamente rompido. Início do segundo ano… Agora, o que eles fizeram para retaliar? Os dois funcionários que prestavam assessoria ao Conselho Deliberativo, salário de um de R$ 4 mil e outro de R$ 2 mil, foram demitidos pelo presidente. 

<i>(Foto: Arquivo EM/2008)</i>

Sobre esse episódio. Teve toda uma briga da sua secretária com a esposa do presidente, até vídeo de câmera de segurança acabou vazado. Como viu todo esse entrevero?

Os caras mesmo querem briga comigo. Retaliar com demissão de dois funcionários. Aí falaram que eu tinha entregado o Conselho para Rogério (assessor). Não existe um documento assinado pela Helen (secretária), que era a secretária ou pelo Rogério. O Wagner disse que eu tinha entregado o Conselho, que era um presidente omisso. Ou seja, não ser um presidente omisso é apoiar essa bagunça que está lá, né? Não estou apoiando, sou omisso. 

O senhor vê a possibilidade de Itair e Wagner renunciarem aos seus cargos por conta própria?

Não passa pela cabeça deles renunciarem. É um negócio impressionante. Eles foram democraticamente eleitos, culpa do Gilvan, registre-se. Agora, eles precisam ter desconfiômetro e saber o mal que estão fazendo ao Cruzeiro. Se querem realmente o bem do Cruzeiro, deveriam renunciar em bloco.

E o senhor vê alguma possibilidade de isso acontecer?

Eu vejo muito pequena. Vamos aguardar os acontecimentos. Mas eu não sou daqueles que quanto pior melhor, não. Torço para que o Cruzeiro não caia, que consiga se reerguer. Agora, com eles, vejo poucas possibilidades. Até acho que não vai cair, tem muito time pior, mas o Cruzeiro não é time para brigar contra o rebaixamento. 

A gente sabe que o atual sistema de eleição do Conselho Deliberativo ajuda a manter um Conselho controlado pela diretoria executiva. Foi assim também na sua gestão, com indicação de aliados. Não seria o momento de trabalhar mudanças importantes no Estatuto?

Eu acho que precisamos sim. Esse negócio do impedimento, mesmo, precisamos rever. Rever esses dois terços. Mas hoje não temos a maioria necessária (dois terços) para fazer isso. Qualquer mudança no Estatuto, precisamos de Assembleia Geral. Eles colocaram lá mais de 1000 sócios novos, para controlar também a Assembleia Geral. Eles montaram um esquema de poder para passar 20 anos no Cruzeiro.

Mas o senhor defende mudanças mais gerais? Até para possibilitar surgimento de novas candidaturas, novas lideranças?

Defendo sim. Precisamos mudar nosso Estatuto. Mas com esse Conselho que aí está, não tem como fazer qualquer mudança. Precisamos ganhar o próximo Conselho e um Conselho com nova mentalidade… 

Mas vai ser esse Conselho que votará as contas da gestão do Wagner...

Eu vou fazer votação nominal. Para que a torcida do Cruzeiro, a imprensa de um modo geral, saiba quem está defendendo quem está lá. Vamos ver agora quem bota a cara. O balanço de 2018 ainda não foi aprovado, esse que vamos aprovar agora. Eu dependo do Conselho Fiscal termine o trabalho para eu marcar a reunião. Vou colocar em votação nominal. O Conselho Fiscal vai dizer se aprova ou não, mas precisa ser referendado em plenário. Se não for, não vão ser aprovadas. E é maioria simples, acho que a chance de não ser aprovada é grande. 

<i>(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)</i>

Sobre as dívidas que o balanço mostrou. O que o senhor sabe sobre o perfil delas? São de curto, médio, longo prazo? Membros da atual diretoria te culpam pelo início dela. 

É só olhar os balanços da época. Eu deixei com (dívida de) R$ 100 milhões. Foram R$ 117 para ser mais exato. Desses R$ 117, não tinha nada vencido. Nunca atrasei nada de imposto. Eram dívidas pactuadas no Reffis. Essa dívida por mês custava R$ 6 mil. Tava tudo alinhado. Além do mais, deixei uma Toca II e uma Sede Administrativa sem tomar nada emprestado. 

Se fosse o presidente do Cruzeiro, o que o senhor faria nessa situação: sem dinheiro, crise política severa e brigando para não cair. 

Precisamos enxugar a folha de pagamento, ainda que a gente passe por um período de dificuldades. Botar a folha de pagamento dentro da nossa realidade, sem gastar mais do que ganha, e procurar trazer jogadores jovens que podem ser vendidos. Dá para sustentar. Mas eles perderam a credibilidade, e sem credibilidade você não consegue ir ao mercado. Eu deixei com R$ 100 milhões, o Wagner pegou com R$ 400 milhões e já passou para mais de R$ 500 milhões. Aumentou em um ano mais de R$ 100 milhões.

Falando já sobre a eleição do próximo ano. Há um acordo com o Gilvan para um chapa apoiada pelos senhores? Existe um nome?

Eu vejo com muita esperança a candidatura de um empresário como o Pedro (Lourenço). Agora, eu não sou candidato sob nenhuma hipótese. Acham que estou fazendo oposição porque quero o poder, mas a chance de eu ser candidato é zero. Eu não gosto de nominar as lideranças, porque acho que temos vários presidentes lá. As lideranças precisam sentar e escolher o consenso. Temos bons quadros. O que tínhamos de pior foi o que venceu a última eleição. 

Mas, pelas informações que temos, o senhor e o Gilvan já sentaram para tratar sobre a próxima eleição…

Não falamos de nomes, mas vamos encontrar um candidato de consenso.

<i>(Foto: Arquivo EM)</i>

Outro lado

Citado em várias oportunidades por Perrella, Wagner Pires foi procurado pelo Superesportes para responder as críticas do adversário político. Por meio da assessoria de imprensa, o presidente enviou uma nota à reportagem. Vale lembrar que o mandatário não se coloca à disposição para responder questionamentos em entrevista coletiva desde 27 de maio.

Eleição do Conselho Fiscal

O Conselho Fiscal foi eleito pelos membros do Conselho Deliberativo, em eleição livre, aberta e democrática. Tanto situação quanto oposição acompanharam o pleito e não houve registro de qualquer situação duvidosa. Porque o Perrella só descobriu algo agora? Como presidente do Conselho deveria ter registrado qualquer  coisa na época da eleição. O que posso dizer é que são pessoas idôneas e com credibilidade no Conselho.

"Trabalho horroroso"

Como presidente do Conselho, o Zezé Perrella deveria verificar os balanços e ver que pegamos o clube cheio de compromissos vencidos. Inclusive com três salários atrasados além de premiação dos jogadores. Os processos que hoje estão na FIFA e estamos pagando vieram de qual gestão? Como ele não aparece no clube para presidir o Conselho é normal que não saiba. Estamos trabalhando para reestruturar o clube política e administrativamente. Nossa herança vem de longe mas vamos vencê-la. Largar o osso se acovardando é fácil! O duro é roer o osso que vocês deixaram.

<i>(Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)</i>

Renúncia em bloco

Se o Perrella soubesse ajudar e ter presença de presidente do Conselho talvez a situação fosse melhor para o clube. Só que ele aparece só em momentos que o Cruzero precisa dos grandes cruzeirenses e ele vem furando covas. Não renuncio porque não sou covarde mas convido o Perrella a ser candidato ano que vem já que ele mesmo desaparecido não renuncia à presidência do Conselho.

Esquema de poder

Vou fazer um estágio com o Perrella para ver como se faz para ficar 20 anos como ele ficou.

Compra do Conselho Deliberativo

Se ele pensa que boa parte do Conselho se vende com essa facilidade, por que ele continua como presidente do órgão? Como ele coloca temas em votação se a votação  está direcionada, na opinião dele? Não sei com explicar tanta bravata do Perrella. Pena que ainda não inventaram um anestésico eficaz contra “dor de cotovelo”!   

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