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Carlos Amadeu, técnico da Seleção sub-20, fala sobre o lateral Emerson, do Atlético: 'Jogador em crescimento, com mente aberta'

Time nacional começa sábado a disputa do Sul-Americano da categoria

postado em 13/01/2019 13:35 / atualizado em 17/01/2019 11:35

Lucas Figueiredo/CBF
O caminho da Seleção Brasileira em busca de mais um título começará no sábado, diante da Colômbia, às 18h10 (de Brasília), em Rancágua, no Chile, na estreia no Sul-Americano Sub-20. O torneio garantirá quatro vagas para o Mundial da categoria, entre maio e junho, na Polônia, e outras três para os Jogos Pan-Americanos, que serão disputados em Lima, capital do Peru, em julho e agosto. Quem lidera o amplo projeto é o técnico Carlos Amadeu, de 53 anos, baiano de Salvador, confirmado pela CBF no cargo até o ano que vem. Nos últimos meses, o treinador observou joias do futebol nacional, mas avalia que a equipe precisa de entrosamento para se dar bem no Chile. Um dos destaques do Brasil é o lateral atleticano Emerson, muito elogiado pelo comandante da Seleção e que deve ser negociado ao Barcelona na janela de transferências de julho. Amadeu falou com o Superesportes sobre a preparação, as virtudes e as carências do time verde-amarelo.

A temporada de 2019 dá a início a uma série de competições importantes para o novo ciclo da Seleção Brasileira, começando com o Sul-Americano e terminando com a Olimpíada de Tóquio, em 2020. Depois do período de preparação, com treinos e jogos, quais as suas perspectivas para esse período?
Temos que focar exatamente em 2019. Nessa primeira etapa, temos um Sul-Americano e o Mundial da categoria, que precisamos focar muito. Fizemos seis convocações que nos deram um norte para esse trabalho. Conseguimos detectar onde estão alguns dos nossos problemas para exercer uma força-tarefa e reforçar os pontos positivos. Creio que uma das maiores dificuldades é a questão do entrosamento. Conseguimos detectar os jogadores que podem estar conosco, mas não temos ainda um time. Temos excelentes atletas, com nível de entendimento muito claro e consistente, mas não temos o nível de entrosamento de um time. O objetivo é evoluir no menor tempo possível, com competitividade e buscando os melhores resultados. Entrosando a equipe, vamos aumentar a performance. E, aumentando a performance, estaremos mais perto da vitória.

O Brasil acabou ficando fora do último Mundial. A pressão sobre os garotos será um adversário a mais? Você acredita em um Sul-Americano mais equilibrado?
A pressão de jogar na Seleção Brasileira é grande em qualquer situação. E temos que retomar nossa força. Ficamos fora em 2013 e 2017 e em 2015 terminamos o Sul-Americano em quarto lugar. Por outro lado, em 2009 e 2011 fomos campeões. A pressão é grande sobre todos os jogadores e a comissão técnica, mas temos de transformar isso em motivação. É um desafio grande, sabemos o quanto é difícil e o quanto o futebol sul-americano evoluiu. Mas temos de nos impor e colocar em prática o nome e a camisa do Brasil dentro do campo, praticando um futebol competitivo, agradável e vencedor.

Em Minas, você tem convocado com frequência o lateral Emerson (Atlético) e o goleiro Gabriel Brazão (Cruzeiro). Você  vê potencial no lateral para jogar na Europa? E o Brazão, há maturidade para atuar pelo Cruzeiro?
O Emerson é um jogador que não é muito refinado tecnicamente, mas que vem evoluindo nesse quesito. Percebo um jogador em crescimento, de muita força física, com uma disposição absurda e mente aberta para aprender. Com isso, ele consegue mostrar uma dinâmica muito grande. No último terço do campo, falta ainda o acabamento, aquele passe ou escolha final, que ele tende a adquirir com o tempo. Potencial para defender qualquer time do mundo ele tem, mas ainda necessita evoluir naturalmente. Está jogando pela Seleção Sub-20 e terá mercado em qualquer parte do mundo. Quanto ao Brazão, ele está conosco desde a Seleção Sub-15, foi campeão sul-americano, terceiro no Mundial e eleito o melhor jogador da categoria na época. Ele subiu precocemente para o Sub-20 e agora atingiu o profissional do Cruzeiro. Costumamos dizer que o goleiro precisa de mais tranquilidade e de tempo. Dificilmente consegue estourar muito cedo, com 20 anos. Alguns fenômenos conseguem transpor essa barreira, mas o natural não é esse. E o Cruzeiro está bem servido de goleiros, experientes. O Brazão estará acompanhando de perto e aprendendo para ser lançado no momento certo.

Durante os amistosos contra a Colômbia, você testou o Matheus Cunha e o Lincoln na função de centroavante. É uma posição que preocupa? Por que a base dos clubes do país anda carente de camisas 9?
Testamos vários jogadores, como Lincoln, Matheus Cunha, Papagaio, Yuri Alberto e Victor Gabriel, Higor. Estamos buscando alternativas, mas considero que estamos bem servidos de camisas 9 na Seleção. A falta de centroavante nos clubes é histórica, pelo sistema que jogamos há vários anos. Isso vai impactando a médio e longo prazo no profissional das equipes. Trabalhamos com três zagueiros, quatro homens no meio-campo em formato de quadrado, dois jogadores flutuantes na frente. A deficiência do camisa 9, como do ponteiro e dos laterais, vem desse histórico. A gente olha na Seleção Sub-17 e vê bons centroavantes, assim como na Sub-15. Observando a base dos clubes, com a maioria jogando atualmente no 4-3-3 ou no 4-2-3-1, pensamos que isso será corrigido no futuro.

Cada vez mais bons jogadores jovens saem cedo do país – como Vinícius Júnior, Paulinho e Rodrygo –, antes de completar 20 anos. Essa tendência atrapalha o desenvolvimento na carreira deles? Como tem visto o crescimento deles na Europa?
Temos que nos adaptar ao novo formato. É um mercado globalizado, em que fala mais alto quem tem maior poderio econômico. Essas equipes acompanham os atletas desde os 14, 15 anos e exercem o direito de compra cada vez mais cedo justamente para evitar concorrência mais à frente ou correr o risco de os valores ficarem muito altos. Acabou inflacionando o mercado de base no Brasil. Vejo o crescimento dos altetas de forma positiva, porque eles conseguem fazer a independência econômica deles e da família e conhecem outra cultura. Mas é importante que tragam esse conhecimento de volta, mantenham a raiz e gostem de representar a Seleção. Ao perdermos cada vez mais cedo nossos jogadores, temos a impressão de que nosso futebol está pobre. Vemos o Campeonato Brasileiro e nossos principais jogadores estão fora. Mas continuamos a produzir craques e os vendemos cada vez mais cedo. O Brasil ainda consegue manter um nível em seus campeonatos por causa da qualidade dos jogadores. Se fosse um país europeu que exportasse tanto, fatalmente não teria a qualidade do Brasileiro.

O Tite recentemente convocou para a Seleção principal três jogadores abaixo dos 20 anos (Phelipe, Hugo e Gabriel Brazão). Quão importante é para eles conviverem com atletas mais experientes e vencedores? 
A integração ocorria antes da Copa do Mundo. Vários atletas já frequentavam a Seleção Brasileira, treinando juntos para a preparação do Mundial. Os três goleiros (Hugo, Phelipe e Gabriel Brazão) já foram convocados pensando numa Seleção Brasileira no futuro, em 2022 e 2026, porque a comissão técnica do Tite entende que isso é fundamental para a preparação do jovem. Quanto maior essa aproximação, melhor para a gente. Há o ganho do futuro da Seleção e há o ganho para a carreira deles, que chegam mais cascudos para encarar o Sul-Americano. Todos sabem quão difícil é vencer nossos adversários na América do Sul, pois a questão é coletiva. Se não tivermos o coletivo forte, o individual não aparece.

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