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Lisca vê futuro brilhante para jovens do América e diz que Carlos Alberto tem potencial para jogar no futebol europeu

Técnico evita usar a expressão 'novo Richarlison', mas vê semelhanças entre o jovem de 18 anos e o camisa 7 do Everton da Inglaterra

postado em 08/07/2020 09:00 / atualizado em 21/07/2020 20:19

(Foto: Mourão Panda/América)
Com a experiência de ter participado da formação de nomes de peso nas categorias de base do Internacional - casos de Nilmar, Rafael Sobis, Luiz Adriano, Alexandre Pato e Taison -, Lisca avaliou de maneira positiva a geração de jovens do América, enaltecendo principalmente o volante Flávio, o lateral-esquerdo Lucas Luan e os atacantes Carlos Alberto e Vitão. Em entrevista ao Superesportes, o treinador ressaltou que os quatro estão prontos para jogar sem sentir a "pressão" do futebol profissional.


“São jogadores com perspectivas muito boas de aproveitamento e retorno esportivo/financeiro”, opinou o comandante, fazendo também boas referências aos zagueiros Luisão, João Cubas e Mateus Sabino, além de mencionar atletas que ainda integram o time sub-20, como o zagueiro/lateral-esquerdo Carlos Júnior e os meias Gustavinho e Mário. “O nível que encontrei aqui é muito bom. Sempre destaco que há estágios. Alguns estão em um estágio um pouco inicial, começando, e outros num estágio bem aceitável e com totais condições de jogar”.

O prata da casa que mais encanta Lisca é Carlos Alberto, de 18 anos, que no fim de maio prorrogou o contrato com o clube até dezembro de 2022. Em diversas entrevistas coletivas, o treinador elogiou as virtudes do jovem atacante e seu rendimento nos treinos no Lanna Drumond. Ao Superesportes, foi além e cravou que, num futuro próximo, verá o garoto em alguma equipe do futebol europeu.

“Tem 18 anos, já está no profissional e é um cara muito agressivo no um contra um. Procura espaço o tempo todo, é um cara irrequieto, passada larga (...). Esse cara eu falei para ele: ‘meu, quando fui para a Europa, vou lá te visitar’. Já fiz isso com Pato, Daniel Carvalho, e vai acontecer com o Carlos também”.

A grande inspiração para Carlos Alberto é Richarlison, camisa 7 do Everton, da Inglaterra. Há pouco mais de cinco anos, o atacante despontava na base do Coelho e chamava a atenção do técnico Givanildo Oliveira depois de fazer dois gols na vitória do time sub-20 em cima do Betinense, por 4 a 0, em amistoso preparatório para o Campeonato Mineiro da categoria, no dia 27 de março.

Givanildo queria uma alternativa para a camisa 9 na Série B, já que Rodrigo Silva havia sido dispensado ainda no primeiro trimestre, e Cristiano não repetiu no América as boas atuações pela Caldense vice-campeã mineira. Além disso, o também prata da casa Rubens até fazia gols nos treinos, mas pouco rendia nos jogos. 

Em um dos primeiros coletivos no profissional, Richarlison protagonizou um belo lance ao fintar quatro jogadores, incluindo o goleiro João Ricardo, e balançar a rede. Convocado para o duelo contra o Mogi Mirim, em 4 de julho, pela 10ª rodada da Série B, ele entrou aos 32 minutos do segundo tempo e marcou de cabeça o terceiro gol da vitória por 3 a 1, no Independência. 

(Foto: Ramon Lisboa/EM D.A Press)

Uma semana depois, voltou a fazer gol de cabeça, dessa vez no triunfo em cima do ABC, por 2 a 1, também no Independência, pela 12ª rodada. Na vitória sobre o Sampaio Corrêa, no Castelão, em São Luís (MA), deu um baile no lateral-esquerdo Willian Simões ao driblá-lo quatro vezes antes de tocar para o volante Rodrigo Souza abrir o placar na etapa inicial. No segundo tempo, recebeu passe de Marcelo Toscano, acertou chute colocado de fora da área e ampliou para 2 a 0.

Na Série B de 2015, Richarlison marcou nove gols e colaborou com três assistências em 24 jogos. Segundo o Footstats, ele foi o atleta que mais sofreu faltas na competição. O América subiu à primeira divisão na quarta colocação, com 65 pontos. E o atacante teve 50% dos direitos econômicos vendidos ao Fluminense, por R$ 10 milhões. 

Em junho de 2017, o Flu negociou 100% do “passe” de Richarlison com o Watford, da Inglaterra, por R$ 46 milhões. O Coelho embolsou 20% - cerca de R$ 9,2 milhões. Um ano depois, o Everton adquiriu o atleta por 39,2 milhões de euros - R$ 176,4 milhões. Há duas temporadas no clube, o camisa 7 disputou 74 jogos, anotou 27 gols e deu seis assistências. 

Carlos Alberto ainda está muito distante de tudo isso, até por ter disputado apenas os minutos finais da vitória americana sobre o Coimbra por 2 a 0, no Independência, em 17 de fevereiro pelo Campeonato Mineiro. Lisca evita rotular o atacante, embora veja características em comum com Richarlison, como a força e a facilidade de drible no “um contra um”.

“O Carlos, como te falei, é um cara muito agressivo. Não vamos rotular, mas ele lembra o Richarlison no início por essa força e imposição. O Carlos hoje quando retornar para jogar num sub-18 ou sub-19… no ano passado já fez a diferença”.

Mesmo com idade juvenil, Carlos disputou o Brasileiro Sub-20 de 2019, no qual o América ficou em nono lugar entre 20 participantes, com 27 pontos em 19 rodadas. Em 17 partidas (oito como titular), o atacante marcou quatro gols. Já pela categoria sub-17 da competição, balançou a rede quatro vezes em nove jogos.

Leia a íntegra das respostas de Lisca sobre jovens da base


O América é um celeiro de craques. Por muito tempo, abasteceu Cruzeiro e Atlético com grandes craques, e quando ganhou um protagonismo maior, passou a fornecer para outros clubes, haja visto o São Paulo do Telê Santana no início dos anos de 1990, com Ronaldo Luís, Palhinha… jogadores criados aqui em BH. Pela sua experiência de 20 anos de base, quando você olha o elenco do América hoje, dá para surgir - não digo o mesmo jogador - um “novo Richarlison”? Pelas peças que estão subindo, há atletas com muito talento e qualificação que o clube historicamente tem?

“Tem. E eu gostei muito do que vi aqui. Como você falou, eu tenho larga experiência na base. E graças a Deus, em diversos clubes grandes, como Inter, Grêmio, São Paulo e Fluminense. Você vai adquirindo parâmetro alto, e o nosso parâmetro aqui no América é alto. Tem uma qualidade bem boa no trabalho de base, tanto no sub-20 quanto no sub-17. E vários jogadores, praticamente 40 a 50% do plantel do América, é por jogadores da casa. Fiz um treino de não-relacionados no início do ano. Dos 14, 12 eram da casa, o Joseph com 24 e o Rickson com 21 - que eram os jogadores de fora. É um clube que fomenta muito esse tipo de trabalho.

A tradição do América é enorme. Euller, Fred, Gilberto Silva, Palhinha, Ronaldo Luís e por aí vai. Ultimamente, o Richarlison, que é o cara que está mais se destacando em nível mundial. A gente não gosta de colocar: ‘ah, é o novo Richarlison’. É um peso desnecessário para os meninos que estão surgindo. Mas estou muito satisfeito com os meninos que estão integrando o plantel profissional com muita qualidade de treinamento. Geralmente os meninos colocam muita energia, intensidade e velocidade no treino, fazendo com que a atividade vá para um ritmo bem elevado. Isso é muito importante na formatação do grupo.

O nível que encontrei aqui é muito bom. Sempre destaco que há estágios. Alguns estão em um estágio um pouco inicial, começando, e outros num estágio bem aceitável e com totais condições de jogar. É o caso do Carlos (Alberto), uma das principais apostas do clube. Tem 18 anos, já está no profissional e é um cara muito agressivo no um contra um. Procura espaço o tempo todo, é um cara irrequieto, passada larga (...). Esse cara eu falei para ele: ‘meu, quando fui para a Europa, vou lá te visitar’. Já fiz isso com Pato, Daniel Carvalho, e vai acontecer com o Carlos também.

O América quer formar, permanecer com o jogador e quando negociar, negociar direto, sem precisar ir no Fluminense, Botafogo ou outro clube. Obviamente esses clubes conseguem um valor maior, então a nossa ideia é colocar o América na Série A e valorizar o atleta dentro do clube. Quando ele sair, não precisará de um intermédio.

O Carlos caminha muito forte. Pelo perfil psicológico, é um jogador muito centrado, que escuta muito. Para ter uma ideia, num domingo de folga nosso fui correr na Lagoa (da Pampulha), com quem eu cruzo correndo? O Carlos! Um menino de 18 anos correndo às 8h30 da manhã, dando um trote na lagoa. Já mostra a ti qual o perfil dele.

O Carlos, o Flávio, o Lucas Luan e o Vitor são jogadores prontos para jogar. Todos já jogaram ano passado, este ano comigo também. São jogadores com perspectivas muito boas de aproveitamento e retorno esportivo/financeiro. Depois vem a galera que está ali, o Luisão é um cara de potencial que estou trabalhando ele junto com a comissão técnica. Ele tem 21 (anos), e a gente acredita que com 22 ou 23 vai pegar mais maturidade. É um cara de muita imposição e força, pode dar um retorno legal. O João Cubas a mesma coisa. Agora o Kawê, que a gente subiu.

Estou querendo trazer o Gustavinho e o Carlos Junio, que é um zagueiro/lateral 2001. Já fez alguns treinos, também achei uma joia rara no clube. Faz parte do nosso trabalho junto com a comissão permanente, que é o Cauan quem comanda a integração com a base. Ele vai me colocando algumas situações, já acompanhei alguns treinos do sub-20, fizemos um coletivo entre a gente. O Gustavão zagueiro fez um belo trabalho, o Mário extremo pela direita, com pé invertido (...). São vários jogadores que a gente pode integrar.

O Jori vem crescendo também. Na lateral direita temos o Thalys e o Ronaldo. O Thalys eu tenho trabalhado em várias funções, é um cara que, digamos assim, precisa ser um pouquinho mais atrevido, mais aguerrido. Mas um cara de bom talento e qualidade técnica. E o Ronaldo está voltando de lesão, agora estamos começando esse processo de recuperação.

Mas vejo boas perspectivas de retorno esportivo e, em breve, financeiro. Vai depender muito do desempenho do clube na Série B. Nesse primeiro momento de estadual e Copa do Brasil já despertou interesse de alguns clubes. Muitos jogadores do América foram consultados, e eu estou torcendo para que todos permaneçam. Há algumas consultas de Portugal também. E eu falei para o Salum e o Paulo: se for importante para o clube, também é legal, mas nesse momento, se pudermos permanecer com todos eles, seria bem interessante para o processo. Investir no nosso trabalho, e aí depois da Série B colher os frutos econômicos.

Tenho certeza que o caminho é esse, não só para o América, mas de todos os clubes do Brasil. O América larga na frente por ter esse DNA formador e essa categoria de base. O América fomenta muito isso, não tem medo de colocar. Contratou um treinador que se identifica com esse trabalho, não tem medo nenhum. Para mim, idade no futebol não quer dizer nada. Há muitos jogadores experientes com 19 anos e outros com 30 que não aprenderam nada. É característica e vivência profissional e pessoal. Esses meninos estão com muita sede, e eu acredito muito no trabalho deles”.

Você citou esses garotos com potencial de dar um retorno financeiro ao América no futuro. Voltando em 2015, o Givanildo Oliveira estava vendo um jogo do time sub-20 no Lanna Drumond, gostou do Richarlison e o chamou para treinar no time profissional. Num dos primeiros treinos do atacante, ele fez uma jogada bonita, passando por quatro adversários e driblando o goleiro antes de marcar o gol. Todos ficaram impressionados por um jovem de 18 anos começar de uma forma tão incisiva. Por que alguns garotos conseguem superar essa pressão de uma forma tão natural? Houve algum caso específico que te chamou a atenção enquanto técnico de base?

“A categoria sub-20 é a especialização final. Tu tem que deixar o jogador pronto para jogar no profissional. E, geralmente, há mais tempo para treinar. Tu deixa o jogador na intensidade e no ritmo que muitas vezes o jogador profissional, que joga um jogo em cima do outro, não consegue. Essa primeira vinda é muito importante.

Graças a Deus trabalhei com jogadores de muito sucesso, em especial atacantes. No Inter de 2002, meu atacante nos juniores era o Nilmar. Em 2003, o Sobis; em 2004, Luiz Adriano; em 2005, o Pato. Tu há de concordar que tenho uma pequena experiência em formação de atacantes de sucesso. Sempre disse a eles que era um momento importante participar do coletivo contra o profissional - e você falou que o Richarlison chamou a atenção em um coletivo. Isso aconteceu com o Pato, com o Nilmar, com o Daniel Carvalho. No primeiro coletivo os caras foram em cima, com coragem, atrevimento e força para aguentar o ritmo do jogo. As preliminares - agora não tem mais - sempre foram muito importantes pela aparição. E as finais de campeonatos sub-20 e sub-17 no Rio Grande do Sul, Rio e São Paulo, onde trabalhei, sempre apareceram muitos (jogadores). Era o momento deles mostrarem que estavam aptos para jogar.

Aqui no América temos utilizado muitos treinamentos. Como eles se apresentam, a desenvoltura, a capacidade de se impor, a iniciativa pessoal, todos eles têm muito. O Vitão é um cara que briga muito, ele não dá sossego ao zagueiro, ele vem, constrói, chega na área. O Carlos, como te falei, é um cara muito agressivo. Não vamos rotular, mas ele lembra o Richarlison no início por essa força e imposição. O Carlos hoje quando retornar para jogar num sub-18 ou sub-19… no ano passado já fez a diferença.

Então é isso, você dá condição aos caras e mostra a eles que muitas vezes no profissional o jogo é mais pensado e organizado. Não é tão correria e intuição quanto na base. Eles ganham até mais espaço. Muitos comentaram comigo que é mais fácil de jogar até pela parceria que está em volta. Tudo isso eu tenho conversado com eles, para o jogador aproveitar e não voltar degrau abaixo. Daqui para frente ser jogador importante do grupo, do time, primeiro no plantel, depois entre os 20, os 15, até ter uma condição de titular. Esse é o caminho dos meninos, espero que a gente faça um bom ano para dar sustentação a eles”.

A entrevista

Lisca, técnico do América, concedeu entrevista exclusiva ao Superesportes e ao Estado de Minas. Na conversa, ele falou sobre o trabalho à frente do Coelho em 2020, a disputa da Série B, a reta final do Campeonato Mineiro, sua carreira e o futebol brasileiro. As reportagens serão publicadas ao longo dos próximos dias no portal e nas páginas impressas do EM.


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