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Falta de evolução, erros individuais e mudança de postura: motivos que levaram o Atlético a demitir Levir Culpi

Clube optou pela saída do treinador após goleada para o Cerro Porteño

postado em 11/04/2019 15:10 / atualizado em 11/04/2019 15:19

<i>(Foto: Bruno Cantini / Atlético)</i>

Além de reduzir drasticamente as chances de classificação às oitavas de final da Copa Libertadores, a derrota por 4 a 1 para o Cerro Porteño, nessa quarta-feira, provocou outra turbulência no Atlético: a demissão do técnico Levir Culpi. A decisão da diretoria alvinegra pelo fim do vínculo, que ia até o fim de 2019, não se deveu apenas à goleada sofrida no Paraguai, mas por uma série de fatores que tornavam o trabalho do comandante bastante questionável.

Falta de padrão

Levir Culpi foi anunciado como técnico do Atlético em 17 de outubro de 2018. De lá para cá, foram quase seis meses de trabalho. Durante esse período, o elenco teve mudanças importantes, especialmente na virada do ano. Em campo, as atuações iam do oito ao 80 em uma semana.

E essa irregularidade, especialmente em 2019 - ano em que Levir teve tempo de preparação durante a pré-temporada -, irritava torcedores e chateava integrantes da diretoria.

No Campeonato Mineiro, o desempenho agradava. Afinal, o time considerado reserva, utilizado na maior parte da primeira fase, foi bem e garantiu a primeira colocação. O problema eram as atuações na Copa Libertadores, que tem partidas, teoricamente, mais difíceis.

Na competição internacional, o Atlético não convenceu em nenhum dos oito jogos disputados. Em sete deles, o sistema defensivo - um dos grandes problemas ao longo do trabalho de Levir - foi vazado. Ofensivamente, o time também deixou a desejar nas partidas em casa contra Defensor-URU e Cerro Porteño-PAR.

Taticamente, o sistema mais utilizado foi o 4-2-3-1, com variações para o 4-3-3 no momento ofensivo e para o 4-4-2 no defensivo, com Cazares e Ricardo Oliveira avançados em relação às duas primeiras linhas. As características dos jogadores utilizados é que variavam.

Nas pontas, foram testados jogadores velozes e de drible e também outros que buscam o jogo apoiado, pelo meio. No meio, nenhuma dupla de volantes se firmou - seja por lesões, seja por falta de encaixe. Ofensivamente, o time teve bom aproveitamento em bolas paradas, mas dependia muito de grandes atuações individuais de Luan, Cazares ou Ricardo Oliveira para construir jogadas pelo chão. O padrão, tão esperado, não existiu.

Erros individuais

<i>(Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press)</i>


Individualmente, jogadores experientes ou que chegaram ao Atlético com status de solução, como Igor Rabello, Fábio Santos, Elias e Yimmi Chará, por exemplo, não conseguiram, em 2019, ter o desempenho que tiveram durante a carreira. Essa queda de rendimento, naturalmente, também influencia no desempenho da equipe.

Mas não dá para atribuir as más atuações apenas a erros individuais. Falhas de jogadores durante as partidas são comuns em qualquer time. A diferença é que as equipes com bons sistemas de cobertura no momento defensivo conseguem minimizar esses equívocos. No Atlético, não era assim.

Os erros fizeram com que determinados jogadores passassem a ser cobrados veementemente por torcedores. Psicologicamente, o time também sentiu em função disso. Em campo, foi evidente o abatimento dos atletas quando o Cerro Porteño fez quatro gols num intervalo de 13 minutos.

Elenco

O processo de montagem do elenco de 2019, de responsabilidade da diretoria - que negocia - e da comissão técnica - que avalia e indica jogadores -, também dificultou o trabalho de Levir Culpi em alguns momentos.

Nas laterais, por exemplo, nomes como Patric e Fábio Santos têm sido questionados. Pela direita, Guga ganhou a vaga. Na esquerda, não há substitutos à altura do titular.

No meio, os volantes são bem avaliados. Falta, entretanto, na quantidade. Seguidas vezes o meia Nathan, que prefere atuar mais avançado, precisou jogar recuado como segundo ou até primeiro homem do setor.

Nas pontas, se Luan não joga é um problema. Afinal, nenhum outro jogador - nem Chará, nem Bolt, nem Terans, nem Geuvânio, nem Elias - se firmou completamente no setor. No meio, Cazares, que começou o ano voando, passou a ter a concorrência mais forte de Vinicius, que entrou bem.

No ataque, a grata surpresa: o jovem Alerrandro, de 18 anos, iniciou muito bem a temporada e chegou a ser artilheiro da primeira fase do Campeonato Mineiro. O titular Ricardo Oliveira também tem bom número de gols.

<i>(Foto: Bruno Cantini/Atlético)</i>


Com esse elenco nas mãos, Levir não conseguiu achar um time titular e precisou, diversas vezes, testar em jogos decisivos. Querendo ou não, o técnico também é responsável pelo processo de formação do grupo de jogadores.

Mudança de humor

Quando deixou o Atlético na reta final do Campeonato Brasileiro de 2015, Levir Culpi, emocionado, disse: “No fundo, no fundo, eu gostaria que vocês (imprensa) falassem que eu sou um cara legal. É isso. Até breve”.

Não há dúvidas que Levir continua um “cara legal” em 2019. A relação do treinador com a imprensa e o cuidado com o que fala nas entrevistas, entretanto, seguramente o atrapalharam nessa passagem pelo Atlético.

As brincadeiras, frequentes e elogiáveis num ambiente tão previsível como entrevistas coletivas, são elogiáveis. O problema é que, em determinados momentos, Levir Culpi não conseguia falar sério.

Diversas vezes, o técnico se esquivou de perguntas. Após a derrota dessa quarta, por exemplo, este repórter questionou Levir Culpi: “Quais foram os erros do Atlético hoje? Foram erros táticos, técnicos, individuais, coletivos, ou foi o aspecto emocional que pesou?”.

O técnico respondeu de forma seca, sem análises: “Acho que você deu a resposta. Pode juntar tudo aí que você está com a razão”, rebateu.

<i>(Foto: AFP / NORBERTO DUARTE)</i>


A última coletiva de Levir como comandante do Atlético, inclusive, é bem representativa. Durante as respostas, o técnico se confundiu sobre o adversário enfrentado e chamou o paraguaio Cerro Porteño de Peñarol-URU, tradicional time uruguaio. Ao falar da decisão estadual contra o Cruzeiro, falou em final do “Gaúcho”. Depois, percebeu os erros e os corrigiu.

Outras passagens em entrevistas coletivas foram marcantes. Uma das polêmicas ocorreu por uma declaração sobre as consequências de jogos às 11h em pleno verão. O treinador foi questionado sobre a marcação do clássico para a manhã de 27 de janeiro. Ele disse, de forma irônica, que adorou quando um jornalista quase morreu em um jogo, ao se referir ao narrador Alberto Rodrigues, que passou mal em Divinópolis, antes do jogo entre Guarani e Cruzeiro (1 a 3), na estreia do Campeonato Mineiro. Depois, Levir pediu desculpas.

Tempos depois, Levir Culpi voltou a dar declarações polêmicas durante entrevista. Pressionado pelo mau início do Atlético na fase de grupos da Libertadores, o técnico fez longo desabafo em 15 de março. O comandante alvinegro citou o acesso dele e da comissão técnica a informações restritas - como números e avaliação de desempenho individual e coletivo - ao comentar as críticas de parte da torcida e da imprensa.

Pegou mal o fato de Levir comparar o mau momento a um tiroteio. “Depois que você consegue passar desse tiroteio, que você mantém uma base, uns nove jogadores mais ou menos, aí todo mundo reconhece: ‘Ah, o time está organizado, o time está bem’. Mas você passou por um tiroteio. Isso não existe. Você tem que aguentar jogador jogando mal”, disse.

Retrospecto de Levir: Foram 31 jogos nesta passagem pelo clube. São 18 vitórias, 5 empates e 8 derrotas, com 52 gols marcados e 28 gols sofridos. Nesse período, portanto, o Atlético ganhou 63,4% dos pontos disputados.

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